Um dia antes da Viagem
Caros amigos desculpem não ter relatado a viagem enquanto ela ocorria. Tive problemas técnicos de diversas ordens. Levei apenas o IPad e ele não conversou bem com o blog, quando eu conseguia escrever algo não era possível enviar. Perdi horas tentando e decidi juntar o material e publicar assim que chegasse, mas antes de iniciar com a viagem tenho de contar a saga da prova de Revezamento Bertioga/Maresias, que participei em 18/5, um dia antes de embarcar para aventura off shore.
Caros amigos desculpem não ter relatado a viagem enquanto ela ocorria. Tive problemas técnicos de diversas ordens. Levei apenas o IPad e ele não conversou bem com o blog, quando eu conseguia escrever algo não era possível enviar. Perdi horas tentando e decidi juntar o material e publicar assim que chegasse, mas antes de iniciar com a viagem tenho de contar a saga da prova de Revezamento Bertioga/Maresias, que participei em 18/5, um dia antes de embarcar para aventura off shore.
Essa é uma das mais charmosas provas de corrida que
participei, o percurso passa pelas mais belas praias do litoral norte de São
Paulo. São 75 km. A largada foi do Forte de Bertioga, de lá Riviera de São
Lorenço, Baleia, Juquehi, Camburizinho, Boiçucanga até Maresias. Nosso grupo a
XRunner participou com três equipes, uma composta por seis corredores e duas
com três cada, eu estava numa dessas.
Chegamos à noite anterior. Esse tipo de prova requer uma
logística complexa é necessário apoio de bicicleta para acompanhar o corredor
quando o percurso passa por áreas de reserva, onde não é permitida a
distribuição de água e isotônico e a circulação de carros. Iniciamos uma
reunião, para definir tarefas, que se estendeu por boa parte da noite. Fomos
dormir muito tarde. A pousada estava avisada que deveria servir o café da manhã
antes das 5h, a largada se daria 7h.
Briefing: ainda no escuro. |
Na pousada havia corredores de outras equipes, mas
estranhamente, no café da manhã, só encontrei nosso pessoal. Estávamos a cerca
de 60 km da largada, em Bertioga, o planejamento previa a saída com uma hora de
antecedência, seria o suficiente para distribuir os corredores pelos postos de
troca no percurso, deixar os que fariam a largada no Forte de Bertioga e ainda
sobraria tempo para fotografar o pessoal passando. Para isso contávamos com uma
Van abastecida de água, isotônico, frutas e sanduíches, duas bikes e um carro
de passeio.
Claro, não saímos na hora combinada. Depois do café fizemos
um brifing, identificamos os carros de apoio com adesivos, providenciados pela
organização da prova, colocamos as bikes de apoio na Van, entramos e seguimos
para o ponto de largada. Chegamos mais de 20 minutos atrasados.
Eu era um dos que fariam o primeiro trecho. O
"tiro" da largada já havia sido dado a muito tempo, nem sinal dos
corredores. O local estava no clima. Carros estacionados por toda parte, muita
gente vestida de atleta, equipes se organizando para levar seus corredores para
os pontos de troca do revezamento. O clima úmido e chuvoso fazia parecer ser
mais cedo do que realmente era, mas todos estavam muito animados. Desci da Van
ainda em movimento, no meio do trânsito. Comecei correr ali mesmo. Quando
cheguei ao local do inicio da prova não encontrei ninguém do apoio, fiquei um
tanto perdido, sem saber ao certo o que fazer, corri até o pórtico e nada, até
que um outro atrasado, que havia conseguido informação, me viu perdido no meio
do caminho e disse que era para ir embora, pois não iriam marcar a saída, o
tempo seria contado a partir do tiro de largada.
Larguei do Box. Saí correndo. Olhei pra frente não vi nada,
praia vazia, muitas pegadas como se uma manada tivesse passado por ali.
Agradeci ao corredor que me ajudou, me despedi por abandoná-lo e fui embora, o
último eu já não era.
Bolhas causadas pelo atrito da areia molhada |
Do meu grupo éramos dois nesse trecho, iniciamos a prova
praticamente juntos, mas ele é bem mais rápido que eu e sumiu na minha frente.
O cenário não era dos mais simpáticos. A praia de Bertioga
não é lá uma das mais bacanas do litoral. Praia grande de areia cinza e
molhada, com vários veios de água, ou sabe-se lá do que, que vertem em direção
ao mar e por vezes formam pequenos córregos. Talvez pelo horário, a praia
estava deserta e eu ali, sozinho, triste, correndo feito doido achando que
tiraria o atraso. Depois de uns 15 minutos de solidão avistei umas pessoas
correndo á frente, imaginei ser essa a sensação de alguém que avista um oásis
no deserto. Isso me animou, esse trecho tem uns 11km, dava tempo de passar
muita gente, apertei o passo. Quando se participa de provas de corrida o
adversário da frente é sempre nosso objetivo. Assim que passamos ele o objetivo
passa a ser o próximo. E vamos aos retardatários. Eu já não estava mais entre
os últimos, corria agora entre diversas pessoas, assim é melhor. Não sei por
que lembrei do Rubinho Barrichello, quando se cruza longas distâncias a cabeça
trabalha muito, mas as vezes divaga. Fiquei pensando naquelas corridas de F1
onde os caras largam do box e vão ganhando posições, ai imaginei: será que se
chover vai ser melhor para mim?
O esforço para alcançar o grupo intermediário foi grande. A
areia daquela praia não é fofa, mas é bem macia e o pé afunda quando damos
impulso, além disso, era impossível passar pelos veios d'água sem molhar os
pés. Essa combinação pés molhados e atrito, gerado pelo afundamento, propícia
formação de bolhas. E isso dói.
Passo mais um grupo, a praia parece não ter fim, mas da pra
ver muita gente à frente e isso é animador.
A Van seguiu seu caminho, foi deixando os corredores nos
próximos postos de revezamento, o ciclista que deu apoio a equipe passou por
mim e eu disse que estava bem, ele seguiu atrás do companheiro que estava a
minha frente. Em provas de revezamento o atleta carrega uma pulseira com um
chip, que nos postos de troca deve ser registrada pelo equipamento de checagem
e passado para o corredor que o substituirá. Eu corria há uns 40 minutos, a praia
estava chegando ao fim, já podia ver o pessoal a minha frente fazer uma curva à
esquerda saindo em direção ao ponto de troca. Corro sem óculos, isso dificulta
a identificação das pessoas que estão muito longe, mas a ansiedade e a vontade
de chegar era tanta que vi o pessoal da minha equipe acenando. Ao me aproximar todos correram comigo até o
posto onde registrei a chegada e passei a pulseira para meu companheiro
continuar.
Esse tipo de prova traz valor agregado: o relacionamento das
pessoas. É uma coisa intensa, não da muito tempo pra pensar, sempre tem alguém
correndo e uma porção de tarefas para ser cumprida por quem esta de fora. A duração da prova é de cerca de 6 horas, as
pessoas precisam ser alimentadas e hidratadas, por vezes secas e ter suas
roupas trocadas. A distância entre os postos pode chegar a 20k, é necessário
deixar um corredor e ir buscar o outro, para deixá-lo num posto de revezamento
mais a frente. Tudo tem de ser sincronizado, mesmo assim, ainda da tempo de
torcer pelo colega e se preocupar com sua saúde. Até mesmo os adversários são
solidários, os mais sofisticados carregam consigo água e suplementação
alimentar. É comum vê-los dividindo com quem está ao lado e não tem apoio para
suprir essa necessidade.
Trocas feitas, corredor no trecho. A Van nos leva para o
próximo ponto. Novamente muitos carros, muita gente vestida de atleta e a
muvuca na saída do funil. O local onde é feita a troca dos atletas é demarcado
em forma de funil, para que o corredor passe por um sensor que o identifica,
registra seu tempo e ele faça a troca de pulseira, na frente dos fiscais. Na
entrada ficam os torcedores, membros das equipes que não estão correndo aquele
trecho e vieram buscar o corredor, do lado da saída permanece o atleta que vai
correr próximo trecho. Depois que a troca é feita todos saem rapidamente em
direção a seus carros, para levar quem acabou de chegar a seu novo ponto de
largada e resgatar o que acabou de sair. É uma correria deliciosa.
No carro de apoio checamos o tempo na planilha, comemos,
hidratamos e tentamos contato com as outras equipes para ver se está tudo bem,
se alguém precisa de apoio.
A Van atendeu as três equipes e no decorrer da prova,
durante um resgate grande, num trecho mais longo, ficou planejado de voltar
para resgatar todos atletas que ficaram pra trás de uma só vez. Não contávamos
com o transito e perdemos muito tempo nessa operação. Depois de algumas horas
de prova as equipes se espalham pelo percurso tomando todos os pontos de troca.
Assim sempre tem carros chegando e saindo com atletas, diferente de quem está
na frente que não enfrenta trânsito.
Atrasamos novamente, quem deveríamos esperar para substituir
chegou antes de nós e ainda nos esperaram. Vivemos um momento de
atabalhoamento. Além de atrasados não encontrávamos o posto de troca, ficamos
rodando por Juquehi, quando encontramos o posto havia muito transito e o carro
não passava. Saímos correndo pela rua até que a bike nos encontrou e avisou que
nossos parceiros já haviam chegado e esperado, mas, como demoramos resolveram
seguir. Decidimos ir atrás deles para fazer a troca. De novo pressão e
superação. Já tínhamos corrido dois trechos e esse era um dos mais longos. Rodamos mais rápido, mais uma vez meu colega
de equipe foi na frente e sumiu. Era uma subida brava, algum tempo depois
encontrei meu parceiro de revezamento, peguei a pulseira e dei linha. Eles
ficaram na estrada e o carro de apoio procurando por eles, no ponto de troca.
Um dos corredores que não seguiu e faria o próximo trecho, deveria estar num
posto a frente para trocar com aquele meu colega rápido. Sem comunicação e com
necessidade de ser rápido a criatividade imperou, pararam o primeiro carro de
apoio que passou e pediram carona, um foi o outro ficou esperando nossa Van
passar para recolocar tudo em ordem novamente.
Minha equipe: Eu (Renato Flôr), Ricardo Ruiz e Paulo Pinheiro |
Algumas horas depois trocas feitas e o trecho final com a
subida da serra de Maresias recebia a XRunner para o final de mais uma prova,
claro que não fomos bem na classificação, mas vencemos nossos desafios e
terminamos inteiros e muito felizes.
Como ninguém é de ferro e corredor precisa de hidratação ... |
Ano que vem tem mais.
Agora, corro pro aeroporto que meu voo sai as 19h30, se não me engano.
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