quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Safári Urbano - Passarela da Visconde de Parnaíba


Passarela da Visconde de Parnaíba
Depois de um rolê a pé pela Mooca e pelo Brás, descobri coisas interessantes pelo caminho. Sabe aquela necessidade de inicio de ano em por as coisas em ordem? Pois é, comecei pelo carro. Deixei-o em uma oficina mecânica, para revisão e resolvi voltar a pé pra casa.

Fiquei sabendo que próximo dali, junto ao Museu da Imigração havia uma passarela do final do século 19, importada da Inglaterra e instalada quando sequer a rua Visconde de Parnaíba era dividida em duas. Naquela época, onde hoje fica a estação Roosevelt/Brás da CPTM, havia uma porteira que controlava o tráfego de veículos e bondes entre os dois lados da ferrovia. Hoje a rua é dividida por ela.
Escondidinha entre a parede do fundo
do Museu e a estrada de ferro.
 
Não foi fácil encontrar. A passarela fica entre a parede do fundo do Museu e a cerca da estrada de ferro. Escondidinha bem a esquerda. Apesar do valor histórico está completamente abandonada, toda enferrujada, remendada e esburacada, mas nem por isso deixa de ser um espetáculo. É construída em ferro, com o guarda corpos em treliça, também de ferro, que dão um visual retrô capaz de nos transportar no tempo ao cruzarmos sobre ela. Os degraus são trabalhados. Não é apenas uma chapa de metal, foi construído em relevo, provavelmente para garantir que os sapatos de sola de couro da época não escorregassem . Não sei por que ao passar sobre eles me lembrei do apoio de pé das antigas cadeiras de bebero.
Pena que está abandonado. Mas, dá pra entender, não é apenas o poder público que a abandou, nós também. A região transformou-se em uma área de pouca circulação, do lado da Radial Leste, Há a faculdade Anhambi Morumbi, estacionamentos, o Museu, Templos religiosos, Albergues e algum comércio local, o lado oposto é tomado por grandes galpões de empresas ligadas a manutenção de máquinas operatrizes. Além, da Rua Piratininga com suas lojas de ferramentas e máquinas usadas. As pessoas pouco circulam por ali, quando passei havia apenas alguns desocupados que usavam o lugar para fumar um cigarrinho e aliviar a mente.
guarda corpo em treliça de ferro
Meio perdido segui o caminho orientado por minha bússola interior. Sabia o sentido que deveria seguir, mas não por qual rua, porém tinha como referencia a linha do trem que acabará de cruzar. O problema é que esse ramal segue até a estação Roosevelt, no Brás, onde há um entroncamento de linhas e uma nova passarela. Novamente me vi limitado pela estrada de ferro e salvo por uma passarela. Essa, das modernas. Ela segue paralela ao viaduto do Largo da Concórdia, passa sobre a linha do trem que vai sentido Lapa.
O movimento ali é grande, muitos que usam o trem ou mesmo metrô cruzam por lá. Essa passarela é quase uma extensão da rua. Do lado oposto, sob o viaduto, uma feira de camelôs vende todo tipo de bugigangas e artigos falsificados. Uma passagem estreita da acesso ao prédio da estação. Mais uma surpresa. O prédio que abriga a estação é majestoso e bem cuidado. Impossível não entrar. 

Muvuca geral, apesar de cedo, o volume de circulação na estação é grande, muita gente saindo, entrando, olhando, descansando, apreciando o céu ou comprando algo de um camelô. O espaço comporta tudo isso, são cerca de seis portas grandes que desvendam um enorme salão. Ao fundo as plataformas, guardadas por uma bateria de catracas. O pé direito é altíssimo e, claro, usaram para pendurar um banner de publicidade. Havia uma delimitação de espaço, na área mais a esquerda, onde fica a bilheteria, creio que a colocam para organizar a fila de entrada na hora do rush, a coisa deve ficar feia.
A região é pouco frequantada
Já ciente de onde estava e senhor do caminho, continuei meu safári urbano. O lado oposto da estação é onde fica o comércio de roupas popular, do Brás. Onde eu estava as ruas são tomadas por lojas de produtos do nordeste, como chapéus de couro, camarão seco, favas e cachaça. Os estabelecimentos usam toda área possível, alguns avançam sobre a calçada tornado o local como um grande mercado. Engraçado que todos vendem a mesma coisa. Um pouco a frente a paisagem muda e começam a surgir empresas de viagens. Isso mesmo. Tudo muito simples; são pequenas portas decoradas com cartazes anunciando viagens para o nordeste. Era possível avistar alguns ônibus, em péssimo estado de conservação, sendo carregados ou recebendo algum cuidado, mas o estado geral deles era ruim. Por ali também pequenos hotéis baratos, onde se hospedam sacoleiros que vêm à região em busca de mercadoria para revender em suas cidades. 
Estação Brás, antiga Piratininga ou Estação Norte
O lugar lembra uma rodoviária, cada loja é como se fosse uma plataforma de embarque, o comércio gira em torno dos viajantes, tem tudo que se precisa para uma longa jornada, de loja especializada em malas até guarda volumes. Me espantou o elevado número de salões de beleza que existe por ali. São bem simples, alguns até sujos. Creio que são destinados a nordestinos que vieram tentar a vida em São Paulo e não alcançaram o seus objetivos, mas para manter a alta estima voltam para suas terras com a aparência em dia.
Ambulantes oferecem seus produtos em frente ao prédio da estação

Estava caminhando a algum tempo e me envolvido com a paisagem urbana. Não havia percebido que o tempo tinha mudado e em breve começaria a chover. Estava longe de casa e precisei apertar o passo e deixar o resto do safári para depois.