quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Assange troca prisão vitoriana por mansão rural

BUNGAY, Reino Unido — A mansão rural georgiana onde Julian Assange terá que viver enquanto permanecer em liberdade condicional será uma mudança para melhor em comparação com o local onde ele tem passado seus dias: a prisão Wandsworth, em Londres.

O fundador do site WikiLeaks, de 39 anos, deve deixar a prisão nesta sexta-feira, depois que um juiz de uma corte de alta instância rejeitou uma apelação para mantê-lo sob custódia enquanto tenta evitar a extradição para a Suécia para responder a um processo sobre crimes sexuais.

Uma de uma série de condições da condicional, impostas pela corte é que ele more em Ellingham Hall, uma propriedade de quase 300 hectares em Suffolk, leste da Inglaterra, que pertence ao simpatizante abastado Vaughan Smith.

Ele também precisa usar um dispositivo eletrônico, submeter-se a um toque de recolher e se apresentar regularmente à polícia. Apesar das restrições, o tempo de Assange na mansão será bem diferente de sua permanência na prisão vitoriana de Wandsworth, onde ele está desde que foi detido a pedido da suécia, em 7 de dezembro.

Com dez camas e 240 hectares de área privada perto da cidade de Bungay, norte de Suffolk, a mansão Ellingham Hall tem lago próprio, uma fazenda de orgânicos e uma adega bem abastecida.

Smith foi um oficial do exército britânico e jornalista, que fundou o Clube Frontline, um clube midiático de Londres onde o WikiLeaks baseou parte de sua operação. Assange viveu no clube durante algumas semanas este ano.
(AFP)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Michael Moore quer pagar fiança do criador do WikiLeaks

O cineasta norte-americano, Michael Moore, conhecido pelos documentários polêmicos anunciou apoio a Julian Assange e quer pagar a fiança do australiano. Moore disse ter enviado na segunda-feira, 14/10, ao tribunal britânico um documento no qual indica estar disposto a pagar US$ 20 mil para ajudar Assange a sair da prisão sob fiança.
Publico a seguir artigo do documentarista americano intitulado "Porque estou dando dinheiro para pagar fiança de Julian Assange". Muito interessante. Vale conferir.


Ontem, no Tribunal de Magistrados de Westminster, em Londres, os advogados de Julian Assange, co-fundador da WikiLeaks, apresentaram ao juiz um documento informando que eu paguei 20.000 dólares de meu próprio dinheiro para ajudar a resgatar Assange da cadeia.

Além disso, estou oferecendo publicamente o apoio do meu site, meus servidores, meus nomes de domínio e qualquer outra coisa que possa fazer para manter viva e próspera a WikiLeaks enquanto continuar seu trabalho para expor os crimes que eram preparados em segredo e realizados em nosso nome (cidadãos americanos) e com dinheiro de nossos impostos.

Fomos levados à guerra do Iraque por uma mentira. Centenas de milhares estão mortos. Imaginem se os homens que planejaram esse crime de guerra em 2002 tivessem um WikiLeaks para lidar com eles. Eles poderiam não ter sido capazes de consumá-lo. A única razão que os levava a pensar que poderiam fugir da verdade era porque tinham um manto de sigilo garantido. Esse manto foi rasgado, e eu espero que eles nunca sejam capazes de operar em segredo novamente.

Então, porque WikiLeaks, após a realização de um serviço público tão importante, sob tal ataque vicioso? Porque eles têm denunciado e envergonhado aqueles que encobriram a verdade. O ataque que têm sofrido vem do topo:

* Senador Joe Lieberman diz que WikiLeaks “violou a Lei da Espionagem”.

* George, da The New Yorker Packer, Assange chamadas “super-espião, de pele fina, [e] megalomaníaco.”

* Sarah Palin diz ser “um agente anti-americano com sangue nas mãos” a quem devemos perseguir “com a mesma urgência com que buscamos a Al Qaeda e líderes do Taliban”.

* Democrata Bob Beckel (gerente de campanha de Walter Mondale em 1984) disse sobre Assange na Fox: “Um homem morto não pode vazar coisas … só há uma maneira de fazê-lo:. Ilegalmente atirar no filho da puta”.

* Mary Matalin, republicano, diz que “ele é um psicopata, um sociopata … Ele é um terrorista”.

* Rep. Peter A. King chama WikiLeaks uma “organização terrorista”.

E de fato eles são! Eles existem para aterrorizar os mentirosos e belicistas que trouxeram a ruína de nossa nação e para os outros. Talvez a próxima guerra não seja tão fácil, porque as regras foram mudadas – e agora é Big Brother que está sendo vigiado… por nós!

WikiLeaks merece os nossos agradecimentos e que se jogue luz sobre tudo isso. Mas alguns na imprensa hegemônica têm rejeitado a importância do WikiLeaks (“eles já lançaram pouco que há de novo!”). Ou os está pintando como simples anarquistas (“WikiLeaks libera tudo, sem qualquer controle editorial!”).

WikiLeaks existe, em parte, porque a grande mídia não conseguiu fazer jus à sua responsabilidade. Os donos das empresas têm dizimado redações, tornando impossível para bons jornalistas fazerem seu trabalho. Não há mais tempo ou dinheiro para o jornalismo investigativo. Simplificando, os investidores não querem essas histórias expostas. Eles gostam de seus segredos… como segredos.

Peço-lhe para imaginar o quanto o nosso mundo diferente seria se WikiLeaks existisse a 10 anos atrás. Dê uma olhada na foto. Este é o Sr. Bush prestes a receber um documento “secreto” em 6 de agosto de 2001. Seu título dizia: “Bin Laden determinado em atacar nos EUA”. E nessas páginas disse que o FBI descobriu “os padrões de atividade suspeita neste país em conformidade com os preparativos para atentados.” Bush decidiu ignorá-la e foi pescar pelas próximas quatro semanas.

Mas se esse documento houvesse vazado, como você ou eu teríamos reagido? O que o Congresso ou as FAA teriam feito? Não seria uma grande chance de que alguém, em algum lugar tivesse feito alguma coisa, se todos nós soubéssemos sobre Bin Laden, ataque iminente, usando aviões sequestrados?

Mas as pessoas na época tinham pouco acesso a esse documento. Porque o segredo foi mantido, um instrutor da escola de voo em San Diego, que percebeu que dois alunos da Arábia tinham interesse em decolagens ou pousos, não fez nada. Se ele tivesse lido sobre a ameaça de Bin Laden, ele poderia ter chamado o FBI? (Por favor, leia este ensaio pelo ex-agente do FBI Coleen Rowley, 2002 Time co-Person of the Year, sobre sua crença de que com WikiLeaks 2001, 11/09 poderia ter sido evitado.)

Ou se o público, em 2003, tivesse lido o “segredo” dos memorandos de Dick Cheney e de como ele pressionou a CIA a dar-lhe os “fatos” que ele queria, a fim de construir o seu caso falso para a guerra? Se WikiLeaks houvesse revelado na época que não havia, de fato, nenhuma arma de destruição em massa, você acha que a guerra teria sido lançada – ou melhor, não teria havido apelos para detenção de Cheney?

A abertura, transparência – estas estão entre as poucas armas dos cidadãos para se protegerem dos poderosos e dos corruptos. E se dentro poucos dias depois de 04 de agosto de 1964 – após o Pentágono mentir que nosso navio foi atacado pelos norte-vietnamitas no Golfo de Tonkin – tivesse havido um WikiLeaks para dizer ao povo americano que a coisa toda era armação? Eu acho que 58 mil dos nossos soldados (e 2 milhões de vietnamitas) poderiam estar vivos hoje.

Em vez disso, segredos mataram.

Para aqueles de vocês que pensam que é errado apoiar Julian Assange devido às alegações de abuso sexual, tudo que eu peço é que você não sejam ingênuos sobre como o governo funciona quando ele decide ir atrás de suas presas. Por favor – nunca, jamais, acreditem na “história oficial”. E, independentemente de culpa ou inocência Assange, este homem tem o direito de ter paga fiança e se defender. Eu me juntei com os cineastas Ken Loach e John Pilger e escritor Jemima Khan para pagar o dinheiro da fiança – e esperamos que o juiz aceite isso e se pronuncie hoje.

Poderia WikiLeaks causar alguns danos não intencionais às negociações diplomáticas e os interesses dos EUA no mundo? Talvez. Mas esse é o preço que você paga quando você e o seu governo nos leva a uma guerra baseada numa mentira. Sua punição por mau comportamento é que alguém acenda todas as luzes da sala para que possamos ver o que você e ele estão fazendo. Você simplesmente não pode ser confiável. Então, cada transmissão, cada e-mail que você escreve agora é o jogo aberto. Desculpe, mas vocês pediram isto para si mesmos. Ninguém pode esconder a verdade agora. Ninguém pode traçar o próximo Big Lie (grande mentira) se eles sabem que podem ficar expostos.

E essa é a melhor coisa que o site fez. WikiLeaks, Deus os abençoe, vai salvar vidas, como resultado de suas ações. E qualquer um de vocês que me acompanhem ao apoiá-los estarão cometendo um verdadeiro ato de patriotismo.

Eu estou hoje em solidariedade a Julian Assange em Londres, pedindo ao juiz que conceda a sua libertação. Estou disposto a garantir o seu regresso o dinheiro da fiança determinado pela corte. Eu não permitirei que esta injustiça possa continuar incontestada.

P.S. Você pode ler a declaração que apresentou hoje no tribunal de Londres aqui.

P.P.S. Se você está lendo isso em Londres, por favor, vá apoiar Julian Assange e WikiLeaks em uma demonstração em um PM hoje, terça-feira dia 14, em frente ao tribunal de Westminster.

Texto traduzido por Miguel Leite, do blog "Te bloga!".

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Segundo wikileaks Serra pretendia entregar o Pré Sal às petroleiras americanas

Petroleiras americanas eram contra novas regras para pré-sal
As petroleiras americanas não queriam a mudança no marco de exploração de petróleo no pré-sal que o governo aprovou no Congresso, e uma delas ouviu do então pré-candidato favorito à Presidência, José Serra (PSDB), a promessa de que a regra seria alterada caso ele vencesse.

É isso que mostra telegrama diplomático dos EUA de dezembro de 2009 obtido pelo site WikiLeaks (www.wikileaks.ch). A organização teve acesso a milhares de despachos. A Folha e outras seis publicações têm acesso antecipado à divulgação no site do WikiLeaks.

"Deixa esses caras [do PT] fazerem o que eles quiserem. As rodadas de licitações não vão acontecer, e aí nós vamos mostrar a todos que o modelo antigo funcionava... E nós mudaremos de volta", disse Serra a Patricia Pradal, diretora de Desenvolvimento de Negócios e Relações com o Governo da petroleira norte-americana Chevron, segundo relato do telegrama.

O despacho relata a frustração das petrolíferas com a falta de empenho da oposição em tentar derrubar a proposta do governo brasileiro.

O texto diz que Serra se opõe ao projeto, mas não tem "senso de urgência". Questionado sobre o que as petroleiras fariam nesse meio tempo, Serra respondeu, sempre segundo o relato: "Vocês vão e voltam".

A executiva da Chevron relatou a conversa com Serra ao representante de economia do consulado dos EUA no Rio. O cônsul Dennis Hearne repassou as informações no despacho "A indústria do petróleo conseguirá derrubar a lei do pré-sal?".

O governo alterou o modelo de exploração --que desde 1997 era baseado em concessões--, obrigando a partilha da produção das novas reservas. A Petrobras tem de ser parceira em todos os consórcios de exploração e é operadora exclusiva dos campos. A regra foi aprovada na Câmara este mês.

A *Folha*teve acesso a seis telegramas do consulado dos EUA no Rio sobre a descoberta da reserva de petróleo, obtidos pelo WikiLeaks.

Datados entre janeiro de 2008 e dezembro de 2009, mostram a preocupação da diplomacia dos EUA com as novas regras. O crescente papel da Petrobras como "operadora chefe" também é relatado com preocupação.

O consultado também avaliava, em 15 de abril de 2008, que as descobertas de petróleo e o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) poderiam "turbinar" a candidatura de Dilma Rousseff, então ministra da Casa Civil.

O consulado cita que o Brasil se tornará um "player" importante no mercado de energia internacional.

Em outro telegrama, de 27 de agosto de 2009, a executiva da Chevron comenta que uma nova estatal deve ser criada para gerir a nova reserva porque "o PMDB precisa de uma companhia".

Texto de 30 de junho de 2008 diz que a reativação da Quarta Frota da Marinha dos EUA, na época da descoberta do pré-sal, causou reação nacionalista. A frota é destinada a agir no Atlântico Sul, área de influência brasileira.

JULIANA ROCHA Da Folha de S. Paulo

domingo, 12 de dezembro de 2010

Vejam como funciona o WikiLeaks


Wikileaks O site de vazamento de documentos secretos WikiLeaks ganhou notoriedade pela primeira vez em meados deste ano, quando divulgou um vídeo no qual militares dos Estados Unidos fuzilam iraquianos de um helicóptero.

Criado por Julian Assange, o site é considerado um novo ícone do jornalismo investigativo e também vem sendo duramente condenado como risco à segurança internacional.

Desde julho de 2007, o WikiLeaks publica documentos delicados por meio do que descreve como "vazamento com princípios". O site já abrigou mais de 1 milhão de documentos, desde o manual da prisão de Guantánamo até a lista de filiados do Partido Nacional britânico, de extrema-direita.

Seu vazamento de mais alto impacto havia sido em abril deste ano, com um vídeo de 2007 que aparentemente mostra um helicóptero dos EUA disparando contra um grupo em Bagdá, matando dois funcionários da agência de notícias Reuters. Assange não viaja aos EUA desde então, por receio de ser preso.

Desde então, contudo, o site voltou às manchetes de todo o mundo com vazamentos de milhares de documentos das guerras do Afeganistão e do Iraque e, em seu mais recente "lançamento", 250 mil documentos secretos diplomáticos dos EUA.

O WikiLeaks depende de donativos, mas sabe-se pouco sobre a origem e as dimensões de seu financiamento. Recentemente, Assange disse que vive como nômade, carregando um computador em uma mochila e suas roupas em outra. Após manter-se discreto por vários anos, suas aparições públicas vêm se tornando mais frequentes.

Fonte: Folha de S. Paulo

sábado, 11 de dezembro de 2010

Ainda WikiLeaks: Entenda por que o Brasil é importante para a segurança dos EUA

Do Portal R7

A divulgação de mais de 250 mil documentos causou grande constrangimento aos EUA. Telegramas faziam comentários sobre líderes mundiais

As minas de nióbio de Catalão (GO) e Araxá (MG), além dos cabos submarinos do Rio de Janeiro (RJ) e de Fortaleza (CE), são alguns dos 300 locais que podem “ter um impacto crítico na segurança nacional dos EUA” caso estejam em perigo. A lista secreta foi vazada na última semana pelo site WikiLeaks.

O fato de o Brasil ter as maiores reservas do mineral e de os cabos transmitirem uma grande quantidade de dados ajuda a explicar a importância desses locais para os americanos.

Segundo o engenheiro de comunicações Naasson Alcântara, da Unesp Bauru, “os cabos submarinos são a principal forma de comunicação de dados a grandes distâncias, intercontinentais”.

No Brasil, “os cabos submarinos citados foram lançados por volta do ano 2000 e utilizam tecnologia digital”, baseada na fibra óptica.

- Um dos cabos que saem de Fortaleza, o Américas 2, é capaz de transmitir mais de 150 mil ligações simultâneas. Ele possui 9.000 km de extensão, quatro pares de fibras ópticas, e interliga o Brasil, Guiana Francesa, Trinidad e Tobago, Venezuela, Curaçao, Martinica, Porto Rico e Estados Unidos.

Para o professor, “caso os cabos sejam destruídos, rotas alternativas precisariam ser estabelecidas, por meio de outros cabos ou outros meios já estabelecidos”.

- Haveria um transtorno inicial com a interrupção de comunicações, essenciais ou não.

Brasil tem maiores reservas de nióbio

Em relação ao nióbio, o Brasil possui mais de 90% das reservas mundiais. O metal é considerado fundamental para a indústria de armamentos dos EUA.

A geóloga Gilda Ferreira, da Unesp de Rio Claro, explica que o “nióbio é usado para ‘endurecer’, para dar maior resistência às ligas metálicas. É bastante usado em foguetes, aviões e turbinas”.

Os EUA importam do Brasil quase todo o nióbio que consomem. O Canadá também tem uma pequena produção do mineral.

Gilda explica que “o nióbio é usado em pouca quantidade, em termos de toneladas de minérios”.

- É uma porcentagem muito baixa. Não sei exatamente qual seria o impacto que causaria aos EUA. Hoje há pesquisas com outros materiais que poderiam substituir o nióbio.

Os EUA também querem proteger minas de manganês em Corumbá (MS) – o Brasil é o segundo maior produtor mundial do minério, usado para dar resistência ao alumínio.

Lista inclui portos e fábricas de medicamentos

Segundo os documentos vazados pelo WikiLeaks, a destruição de alguns dos 300 pontos vitais teria “impacto crítico na segurança econômica, saúde pública ou na segurança nacional" dos EUA.

A lista inclui oleodutos, portos, gasodutos e fornecedores de medicamentos e vacinas. Também há a preocupação com reservas de minerais estratégicos na Nova Zelândia e na Austrália, além de minas na África e na América do Sul, portos na China e no Japão, e fábricas de remédio na França.

A divulgação de mais de 250 mil documentos diplomáticos causou grande constrangimento aos EUA. Muitos telegramas faziam comentários sobre líderes mundiais, como o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente do país, Dmitri Medvedev, descritos como “Batman e Robin”.

O criador do site, o jornalista australiano Julian Assange, 39 anos, foi preso nesta semana no Reino Unido, acusado de estupro pela Justiça da Suécia.

Azeredo 'bate-boca' no Twitter, depois de criticar apoio de Lula a Assenge Tags: AI-5 Digital, Luiz Inácio Lula da Silva, WikiLeaks, Eduardo Azeredo



São Paulo - O senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) discutiu com internautas no Twitter nesta sexta-feira (10). Ele criticou a postura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que na quinta-feira (9) defendeu o criador do Wikileaks, Julian Assange.

"Só faltava essa! Pres. Lula defende hacker!" disse em seu perfil. Alguns usuários defenderam o presidente e acusaram o senador de não entender nada de internet e ser contra a liberdade de expressão.

A usuária Flávia Stefani (@mariagranola) questionou o conhecimento do senador quanto ao discurso do presidente. "Senador não sabe ouvir um pronunciamento. O vídeo que assisti não mostra Lula fazendo ode à invasão de dados".

O presidente elogiou Assange e o WikiLeaks por divulgar e desnudar a diplomacia. Para Lula, o culpado é quem escreveu os documentos e não quem divulgou.

Azeredo defende restrições e regulamentação da internet. O parlamentar foi relator do substitutivo dos projetos de lei número 84/1999 da Câmara Federal e do Senado 89/2003, conhecido por AI-5 Digital pelos críticos, por conter aspectos considerados autoritários e de vigilantismo.

Por: Jessica Santos de Souza e Letícia Cruz, da Rede Brasil Atual

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Dilma fala sobre futuro governo em entrevista ao Washington Post





A presidente eleita Dilma Rousseff concedeu entrevista ao jornal norte-americano Washington Post. Ela falou sobre o papel do Brasil no mundo, as relações com os EUA e outras nações, questões econômicas e perspectivas para o seu governo que se inicia em janeiro de 2011.

Leia a Integra da entrevista:

Ter sido uma presa política lhe dá mais empatia com outros presos políticos?

Sem dúvida. Por ter experimentado a condição de presa política, tenho um compromisso histórico com todos aqueles que foram ou são prisioneiros somente por expressarem suas visões, sua opinião pública, suas próprias opiniões.

Então, isso afetará sua política em relação ao Irã, por exemplo? Por que o Brasil apóia um país que permite o apedrejamento de pessoas, que prende jornalistas?

Acredito que é necessário fazermos uma diferenciação no [que queremos dizer quando nos referimos ao Irã]. Eu considero [importante] a estratégia de construir a paz no Oriente Médio. O que vemos no Oriente Médio é a falência de uma política – de uma política de guerra. Estamos falando do Afeganistão e do desastre que foi a invasão ao Iraque. Não conseguimos construir a paz, nem resolver os problemas do Iraque. Hoje, o Iraque está em guerra civil. Todos os dias, morrem soldados dos dois lados. Tentar trazer a paz e não entrar em guerra é o melhor caminho.

[Mas] eu não endosso o apedrejamento. Eu não concordo com práticas que possuem características medievais [quando se trata de] mulheres. Não há nuances; não faço concessões nesse assunto.

O Brasil se absteve em votar na recente resolução sobre os direitos humanos na ONU .

Eu não sou Presidente do Brasil [hoje], mas eu me sentiria desconfortável, como mulher eleita Presidente, não dizendo nada contra o apedrejamento. Minha posição não vai mudar quando eu assumir o cargo. Eu não concordo com a forma em que o Brasil votou. Não é minha posição.

Muitos norte-americanos sentiram empatia pelo povo iraquiano iraniano que se rebelou nas ruas. Por isso me pergunto se sua posição sobre o Irã seria diferente daquela do seu atual Presidente, que possui boa relação com o regime iraquiano iraniano.

O Presidente Lula tem seu próprio histórico. Ele é um presidente que defendeu os direitos humanos, um presidente que sempre apoiou a construção da paz.

Como a Sra. vê a relação do Brasil com os EUA? Como gostaria de vê-la evoluir?

Considero a relação com os EUA muito importante para o Brasil. Tentarei estreitar os laços. Eu admirei muito a eleição do Presidente Obama. Acredito que os EUA revelaram uma grande capacidade de mostrar que são uma grande nação, e isso surpreendeu o mundo. Pode ser muito difícil ser capaz de eleger um Presidente negro nos os EUA – como era muito difícil eleger uma mulher Presidente do Brasil.

Eu acredito que os EUA têm uma grande contribuição a dar ao mundo. E, acima de tudo, acredito que o Brasil e os EUA têm um papel a cumprir juntos no mundo. Por exemplo, temos um grande potencial para trabalhar juntos na África, porque na África podemos construir uma parceria para disponibilizar tecnologias agrícolas, produção de biocombustíveis e ajuda humanitária em todos os campos.

Também acredito que, neste momento de grande instabilidade por causa da crise global, é fundamental que encontremos formas que garantam a recuperação das economias dos países desenvolvidos, porque isso é fundamental para a estabilidade do mundo. Nenhum de nós no Brasil ficará confortável se os EUA mantiverem altos índices de desemprego. A recuperação dos EUA é importante para o Brasil porque os EUA têm um mercado consumidor fantástico. Hoje, o maior superávit comercial dos EUA é com o Brasil.

A Sra. culpa o afrouxamento monetário [quantitative easing] por isso?

O afrouxamento monetário é um fato que nos preocupa muito, porque significa uma política de desvalorização do dólar que tem efeitos sobre o nosso comércio exterior e também na desvalorização da nossas reservas de divisas, que são em dólares. Para nós, uma política de dólar fraco não é compatível com o papel que os EUA têm, já que a moeda dos EUA serve como reserva internacional. E uma política sistemática de desvalorização do dólar pode provocar reações de protecionismo, que nunca é uma boa política a ser seguida.

Quando a Sra. planeja visitar os EUA? Sei que foi convidada para antes de sua posse, em 1º de janeiro, mas não podia ir.

Eu não estou aceitando os convites que recebo. Não estou visitando países estrangeiros. Tenho que montar o meu governo. Tenho 37 ministros para nomear. Estou planejando visitar o Presidente Barack Obama nos primeiros dias após minha posse, se ele me receber.

Então a Sra. convidará o Presidente Obama para vir ao Brasil?

Nós já o convidamos informalmente, durante a reunião do G-20.

Há preocupações na comunidade empresarial dos EUA sobre se o Brasil continuará o caminho econômico definido pelo Presidente Lula.

Não há dúvida sobre isso. Por quê? Porque para nós foi uma grande conquista do nosso país. Não é uma conquista de uma única administração – é uma conquista do Estado brasileiro, do povo de nosso país. O fato de que conseguimos controlar a inflação, ter um regime de câmbio flexível e ter a consolidação fiscal de forma que, hoje, estamos entre os países com a menor relação dívida / PIB do mundo. Além disso, temos um déficit não muito significativo. Não quero me gabar, mas temos um déficit de 2,2 por cento. Pretendemos, nos próximos quatro anos, reduzir a proporção dívida / PIB para garantir essa estabilidade inflacionária.

A Sra. disse publicamente que gostaria de ver as taxas de juro caírem. A Sra. irá cortar o orçamento ou reduzir o aumento anual de gastos do governo?

Não há como cortar as taxas de juros a menos que você reduza seu déficit fiscal. Somos muito cautelosos. Temos um objetivo em mente: que as nossas taxas de juros sejam convergentes com as taxas de juros internacionais. Para conseguir chegar lá, um dos pontos mais importantes é a redução da dívida pública. Outra questão importante é melhorar a competitividade de nossos setores agrícola e de manufatura. Também é muito importante que o Brasil racionalize seu sistema fiscal.

Se a Sra. quer baixar as taxas de juros, a Sra. tem que cortar os gastos ou aumentar a economia doméstica.

Você não pode se esquecer do crescimento econômico. Você tem que combinar muitas coisas.

Qual é seu plano?

Meu plano é continuar a trajetória que seguimos até aqui. Conseguimos reduzir nossa dívida de 60% para 42%. Nosso objetivo é atingir 30% do PIB. Eu preciso racionalizar os meus gastos e, ao mesmo tempo, ter um aumento do PIB, que leve o país adiante.

Então o que a Sra. quer dizer com “racionalizar gastos”?

Não estamos em uma recessão aqui. Nós não temos que cortar os gastos do governo. Nós vamos cortar despesas, mas vamos continuar a crescer.

Estamos seguindo um caminho muito especial. Este é um momento no qual o país está crescendo. Temos estabilidade macroeconômica e, ao mesmo tempo, muito orgulho do fato de que conseguimos reduzir a extrema pobreza no Brasil.

Trouxemos 36 milhões de pessoas para a classe média. Tiramos 28 milhões da pobreza extrema. Como conseguimos isso? Políticas de transferência de renda. O Bolsa Família é um dos maiores exemplos.

Explique como funciona o Bolsa Família.

Pagamos um estipêndio, que é uma renda para os pobres. Eles recebem um cartão e sacam o dinheiro, mas têm duas obrigações a cumprir: colocar seus filhos na escola e provar que eles comparecem a 80% das aulas. Ao mesmo tempo, as crianças também devem receber todas as vacinas e passar por uma avaliação médica quando recebem as vacinas. Esse foi um fator, mas não foi o único.

Criamos 15 milhões de novos empregos durante a administração do Presidente Lula. Este ano, já criamos 2 milhões de novos empregos.

A Sra. é tão próxima do Presidente Lula. Será mesmo diferente ou apenas uma continuação da administração dele?

Eu acredito que minha administração será diferente da do Presidente Lula. O governo do Presidente Lula, do qual fiz parte, construiu uma base a partir da qual vou avançar. Não vou repetir a administração dele porque a situação no país hoje é muito melhor do que era em 2002.

Eu tenho os programas governamentais em andamento, que ajudei a desenvolver, como o chamado Minha Casa, Minha Vida, que é um programa de habitação.

Meus desafios são outros. Vou ter que solucionar questões como a qualidade da saúde pública no Brasil. Vou ter que criar soluções para problemas de segurança pública.

O Brasil passou por mais de 30 anos sem investir em infra-estrutura em uma quantidade suficiente. O governo do Presidente Lula começou a mudar isso. Eu tenho que resolver as questões rodoviárias no Brasil, as ferrovias, as estradas, os portos e os aeroportos.

Mas há uma boa notícia: descobrimos petróleo em águas profundas.

A Sra. está sugerindo que essa descoberta irá financiar a infra-estrutura?

Criamos um Fundo Social [no qual] alguns dos recursos do governo oriundos da descoberta do petróleo serão investidos em educação, saúde, ciência e tecnologia.

A Sra. tem que preparar o pais para a Copa do Mundo e para as Olimpíadas.

Sim, mas eu também tenho outro compromisso, que é acabar com a pobreza absoluta no Brasil. Nós ainda temos 14 milhões na pobreza. Esse é meu maior desafio.

Todos os empresários que conheci em São Paulo disseram que precisam estar muito preparados para as reuniões com a Sra., porque a Sra. conhece bem a maioria dos projetos.

Sim, é verdade. Eu acho que é uma característica feminina. Nós apreciamos os detalhes. Eles, não.

O que significa, para a Sra., ser a primeira mulher Presidente do Brasil?

Até eu acho incrível.

Quando a Sra. decidiu que queria ser Presidente?

Foi um processo. Não há uma data. Comecei a trabalhar com o Presidente Lula e ele começou a dar algumas dicas sobre eu vir a ser indicada à presidência, mas ele não foi claro no começo. Foi uma grande honra para mim, mas eu não estava esperando.

A partir do momento que ficou claro para mim que eu seria indicada, dois anos atrás, eu sabia que tínhamos criado as condições adequadas para tornar possível a vitória nas eleições. O Presidente Lula teve uma excelente administração e o povo brasileiro reconheceu e admitiu isso. Somos uma administração diferente – nós ouvimos o povo.

A Sra. recentemente lutou contra o câncer.

Sim, mas acredito que consegui lidar bem com isso. As pessoas têm que saber que o câncer pode ser curado. Quanto mais cedo você descobre, melhores suas possibilidades de cura. É por isso que a prevenção é importante. . . .

Acredito que o Brasil estava preparado para eleger uma mulher. Por quê? Porque as mulheres brasileiras conquistaram isso. Eu não cheguei aqui sozinha, só pelos meus méritos. Somos a maioria neste país.

(Tradução de Paula Marcondes e Josi Paz, revisão de Idelber Avelar)

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Quando a notícia é ruim, matam o mensageiro

Republico aqui entrevista concedida ao Opera Mundi pelo fundador do site Wikileaks, Julian Assange, preso hoje, terça-feira, 7/12.

Assange: fascina ver os tentáculos da elite americana corrupta


O fundador do site Wikileaks, Julian Assange, falou com exclusividade ao Opera Mundi nesta segunda-feira (6). Assange não escondeu a irritação com o congelamento de sua conta bancária na Suíça e também falou de outras ações tomadas contra a organização desde o lançamento de documentos sigilosos de embaixadas dos Estados Unidos.

Assange se preparava para se apresentar à polícia britânica, o que aconteceu na manhã desta terça-feira (7) em Londres. O fundador do Wikileaks é acusado de crimes sexuais na Suécia. A denúncia não é clara, mas inclui a prática de sexo desprotegido com duas mulheres, na mesma época em que dava uma palestra em Estocolmo. Desde o dia 18 de novembro, a justiça sueca expediu mandado de prisão com o objetivo de interrogá-lo por "suspeitas razoáveis de estupro, agressão sexual e coerção". Julian Assange deve ser ouvido ainda hoje num tribunal de Westminster, na região central de Londres, onde será decidido se ele será extraditado à Suécia.

Opera Mundi: Neste momento, quais acusações pesam sobre você?
Julian Assange — São muitas as acusações. A mais séria é que eu e o nosso pessoal praticamos espionagem contra os EUA. Isso é falso. Também a famosa alegação de "estupro" na Suécia. Ela é falsa e vai acabar se extinguindo quando os fatos reais vierem à tona, mas até lá está sendo usada para atacar nossa reputação.

Opera Mundi: Sobre essa acusação de espionagem, há algum processo judicial correndo? Julian Assange — Não. É uma investigação formal envolvendo os diretores do FBI, da CIA e o advogado-geral norte-americano. A Austrália, meu país, também está conduzindo uma investigação do mesmo tipo — em que se junta todo o governo — e ao mesmo tempo estão asssessorando os EUA. Uma das fontes alegadas para essa investigação, Bradley Manning [militar acusado de ser a fonte do Wikileaks], está preso em confinamento solitário em uma cela na prisão no estado da Virginia, nos EUA. Ele pode pegar até 52 anos de prisão se for condenado por todas as acusações, que incluem espionagem.

Opera Mundi: Qual a diferença entre o que faz o Wikileaks e espionagem?
Julian Assange — O Wikileaks recebe material de "whistle-blowers" (pessoas que denunciam algo errado nas organizações onde trabalham) e jornalistas e os entrega ao público. Acusar de espionagem quer dizer que nós teríamos que trabalhar ativamente para adquirir o material e o repassar a um estrangeiro.

Opera Mundi: No caso da Suécia, o que as mulheres alegam?
Julian Assange — Elas dizem que houve sexo consensual. O caso chegou a ser arquivado por 12 horas quando a procuradora-geral em Estocolmo, Eva Finne, leu os depoimentos. Depois foi reaberto, após uma articulação política. Todo esse caso é bastante perturbador. Agora, eles acabaram de congelar minha conta em um banco na Suíça, nosso fundo para pagar minha defesa.

Opera Mundi: Com base em quê?
Julian Assange — Eles estão alegando que eu os coloco em risco. Mas não têm nada que sugira isso, e de qualquer forma isso é falso.

Opera Mundi: E qual é a sua opinião sobre o congelamento de transferêcias de dinheiro pela empresa PayPal, e o fato de que a Amazon retirou o site do ar? Como você vê essas ações?
Julian Assange — É fascinante ver os tentáculos da elite norte-americana corrupta. De certo modo, observar essa reação é tão importante quanto ver o material que publicamos. A Paypal e a Amazon congelaram nossas contas por razões políticas. Com o Paypal, 70 mil euros foram congelados. Com o nosso fundo de defesa, cerca de 31 mil euros.

Opera Mundi: O que eles alegam?
Julian Assange — Eles dizem que estamos fazendo "atividades ilegais", o que é, claro, uma inverdade. Mas estão ecoando as acusações de Hillary Clinton [secretária de Estado norte-americana] sobre como publicamos documentos que podem causar transtornos aos EUA. Mesmo assim, o líder do comitê de segurança nacional no Senado disse com muito orgulho que ele havia ligado para a Amazon e exigido o fechamento no site.

Opera Mundi: O que o Wikileaks está fazendo para se defender do congelamento das doações?
Julian Assange — Nós perdemos 100 mil euros somente nesta semana como resultado do congelamento dos pagamentos. Temos outras contas em bancos - na Islândia e Suécia, por exemplo, que o público pode usar. Estão em um site. Também aceitamos cartões de crédito.

Opera Mundi: O que mais o Wikileaks está fazendo para se defender?
Julian Assange — Nós estamos contando com a diversidade e o apoio de boas pessoas. Temos mais de 350 sites pelo mundo que reproduzem nosso conteúdo. Precisamos disso mais do que nunca.

Fonte: Vermelho / Opera Mundi