Três delegados também foram afastados do cargo durante a operação. De acordo com as investigações, o esquema funcionava desde 2006.
Do G1, em São Paulo, com informações da TV Tem
Vinte e seis pessoas foram presas no interior de São Paulo nesta terça-feira (31). O Ministério Público Estadual de Bauru, a 329 km de São Paulo, e a Procuradoria da República de Jaú, a 287 km da capital paulista, concluíram as investigações sobre o envolvimento de policiais com a exploração de máquinas caça-níqueis. Entre os citados na ação estão três delegados.
Durante entrevista coletiva, representantes do Ministério Público Federal e Estadual informaram que o grupo é suspeito de formação de quadrilha, corrupção passiva, facilitação de contrabando e prevaricação. Dos 26 presos, sete são policiais civis e um é policial militar.
A Polícia Federal começou a cumprir os mandados de prisão durante a madrugada desta terça-feira. Os policiais participavam do esquema como facilitadores. Eles avisavam os donos das máquinas caça-níqueis das operações que seriam realizadas. Além disso, permitiam a entrega de componentes contrabandeados.
De acordo com as investigações, o esquema funcionava desde 2006. Os valores em dinheiro movimentados não foram divulgados. O Ministério Público Federal contou com provas testemunhais, documentais e interceptações telefônicas.
Os policiais detidos foram levados ao Centro de Detenção Provisória de Bauru. A Polícia Federal ainda deve cumprir sete mandados de prisão. A Justiça também determinou a quebra dos sigilos fiscal e bancários dos
Eles tiveram prisão pedida, mas Justiça negou; ao todo, são 33 mandados.Em operação nesta terça, PF prendeu 25 policiais civis e um militar.
Do G1, em São Paulo, com informações da TV Tem Mais de 40 equipes da Polícia Federal estão na rua desde a madrugada desta terça-feira (31). A operação no Centro-Oeste do estado de São Paulo tem como alvos as polícias Civil e Militar e está relacionada com a exploração de máquinas caça-níqueis. A PF vai cumprir 33 mandados de prisão nas cidades de Jaú (a 287 km da capital), Bauru (a 329 km da capital), Rio Claro (a 173 km da capital) e São Paulo.
De acordo com as investigações, existiam quatro grupos contando com o apoio das autoridades policiais que não reprimiam a prática do jogo ilegal desde 2006. Os contraventores eram inclusive avisados pelos policiais dos locais das buscas, quebrando sigilo policial. Até o começo da tarde de terça-feira foram presos 25 policiais civis e um militar. Todos vão responder por formação de quadrilha, corrupção passiva, facilitação de contrabando entre outros crimes. Entre os acusados estão três delegados da Polícia Civil. Eles também tiveram a prisão pedida, mas a justiça não concedeu. Os promotores querem ainda a exoneração do delegado seccional de Jaú, mas a secretaria de Segurança Pública não informou que medida vai tomar. Os componentes contrabandeados vinham da cidade de Rio Claro para Jaú e em troca as autoridades recebiam vantagens indevidas. Na investigação do Ministério Público Federal foram usadas provas testemunhais, documentais e interceptações de conversações telefônicas. Todos os presos estão sendo levados para o Centro de Detenção Provisória de Bauru.
Procurada pelo G1, a Secretaria da Segurança Pública disse que o delegado-geral da Polícia Civil, Domingos Paulo Neto, deve se pronunciar sobre o assunto ainda nesta terça-feira.
Ação da Polícia Federal prendeu investigadores e delegados em quatro cidades. A Justiça pediu a exoneração do delegado seccional de Jaú
Numa operação que começou na madrugada desta terça-feira (31/3) a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e prendeu policiais civis em Jaú acusados de envolvimento em contrabando e distribuição de máquinas caça-níqueis. A Justiça pediu a exoneração do delegado seccional de Polícia de Jaú, Antonio Carlos Piccino Filho.
A operação foi desencadeada simultaneamente em Jaú, Bauru, São Carlos e Rio Claro. De acordo com a PF, existiam quatro grupos criminosos contando com o apoio de autoridades policiais, que desde 2006 não reprimiam os jogos de azar ilegais.
Além de quatro investigadores presos em Jaú, um do 1º Distrito, um do 2º Distrito, um do Plantão Policial e um da Delegacia Seccional, teria sido levado para Bauru também pelos policiais federais o delegado seccional Piccino Filho. Foi pedida a prisão preventiva de três delegados, um de Jaú, mas a Justiça não concedeu.
Nas quatro cidades foram presos até o início da tarde desta terça-feira 25 policiais civis e um militar. Todos vão responder por formação de quadrilha, corrupção passiva, facilitação de contrabando e outros crimes.
Conforme a informação obtida junto à PF, os componentes contrabandeados vinham da cidade de Rio Claro para Jaú. As autoridades recebiam vantagens indevidas.
A operação realizada pela Polícia Federal foi pedida pelo Ministério Público Federal, conjuntamente com o Ministério Público Estadual. Também foram visitados escritórios de advocacia, inclusive em Jaú.
Ao menos 11 dos detidos são policiais em cidades do interior paulista; ainda há 11 mandados a serem cumpridos
Solange Spigliatti - estadao.com.br
Pelo menos 22 pessoas foram presas na região de Jaú, no interior de São Paulo, acusadas de participar de um esquema de contrabando de peças de caça-níqueis. A exploração contava com a corrupção e apoio de policiais civis, segundo o Ministério Público. Entre os acusados estão três delegados - o ex-diretor do Deinter de Bauru, o delegado seccional da Polícia Civil de Jaú e um delegado de Rio Claro -, seis investigadores, um agente e um policial militar. O bando responde por formação de quadrilha, corrupção passiva, facilitação de contrabando e prevaricação.
A operação dos ministérios públicos Federal e do Estado, da Procuradoria da República em Jaú e da Polícia Federal de Bauru está cumprindo buscas e apreensões nas casas dos acusados e em escritórios de advocacia. Serão cumpridos 33 mandados de prisão, segundo a assessoria. A Justiça já determinou também a exoneração do delegado seccional de Jaú.
De acordo com o MPF, durante investigações foi descoberta a existência de quatro grupos criminosos desse ramo, contando com respaldo de policiais civis e um PM, desde 2006. O grupo de Jaú, que entregava e explorava as máquinas, era associado a outro, composto também por advogados, com base em Rio Claro, que importava as máquinas com as peças contrabandeadas.
O Portal de Notícias da Globo 31/03/09 - 10h42 - Atualizado em 31/03/09 - 11h38
Equipes da PF estão nas ruas para cumprir 33 mandados de prisão. Entre os detidos, estão seis investigadores e um policial militar. Do G1, em São Paulo, com informações da TV Globo
Promotores do Ministério Público de São Paulo, procuradores da República e Polícia Federal realizam nesta terça-feira (31) uma operação no interior do estado para prender policiais envolvidos com quadrilhas de máquinas caça-níqueis. Há um ano, os suspeitos eram investigados. Havia desconfiança de que eles faziam parte de uma quadrilha que explorava máquinas caça-níqueis no interior de São Paulo. A operação começou na madrugada desta terça-feira. Mais de 40 equipes da Polícia Federal estão cumprindo 33 mandados de prisão e outros de busca e apreensão. Entre os detidos, estão seis investigadores da Polícia Civil e um policial militar. Eles vão responder por formação de quadrilha e corrupção passiva, entre outros crimes. Há ainda três delegados da Polícia Civil acusados de participar do esquema.
Segundo o Ministério Público Estadual, as investigações começaram porque a Polícia Civil não estava combatendo a exploração ilegal de máquinas caça-níqueis na cidade de Jaú, a 287 quilômetros da capital, e adjacências. Ainda de acordo com o Ministério Público, foi descoberto que quatro grupos criminosos atuavam desde 2006 com respaldo de policiais civis e um policial militar.
Federação dos Bancários da CUT-SP - SP - NOTÍCIAS - 30/03/2009 - 11:25:05 A Corregedoria da polícia Civil de São Paulo que apura o confronto entre Policiais Civis e Militares ocorrido em outubro de 2008 e resultou em vários feridos de cada lado, aponta como responsáveis pelo conflito o Governo do Estado e a Polícia Militar. Naquele momento, o governador José Serra responsabilizou as Centrais Sindicais, dentre elas a CUT, pelo confronto, por terem participado do ato em solidariedade aos servidores da Polícia Civil. No dia 18/03/2009, o caderno Metrópole do Jornal O Estado de São Paulo, traz matéria na qual informa que a PM já havia comunicado que a manifestação dos policiais civis nas proximidades do Palácio dos Bandeirantes apresentava sinais de tensão. A informação foi encaminhada ao “Gabinete de Crise” do governo composto pelos diretores da Polícia Civil, Coronéis da PM, e os secretários Luiz Antonio Marrey (Justiça), Ronaldo Marzagão (Segurança, hoje, ex-secretário que pediu demissão após denuncias contra seu adjunto e também pela condução desastrosa do confronto entre as policiais Civis e Militares), Sidney Beraldo (Gestão), reunidos na ocasião com o governador Serra. A demissão de Marzagão foi uma prova confessional da incompetência do governador José Serra para administrar a segurança pública e resultado da aversão ao diálogo com a sociedade. Mais uma vez, ele transferiu a responsabilidade na ânsia de mascarar sua falta de habilidade para dialogar. Quem pretende ser candidato à presidência da republica, não pode viver em um castelo, distante da sociedade. Conforme cita o jornal O Estado de São Paulo, que teve acesso ao inquérito sobre o confronto, há depoimentos de policiais militantes dizendo que foram usados como “iscas” e que não havia disposição do governo para estabelecer uma mesa de negociação. É importante lembrar que o governador Serra é conhecido pelo seu “Maquiavelismo” e, por perseguir adversários. No caso da CUT, não é a primeira vez que ele tenta responsabilizar a Central e os movimentos sociais por sua incompetência, contando para isso com a colaboração de seus amiguinhos no PIG (Partido da Imprensa Golpista). Na greve dos Policiais Civis, cuja verdade para agora vir à tona, por exemplo, o SP TV, da Rede Globo, abriu espaço para o governador sem escutar a opinião da CUT. Este factóide do Serra aconteceu quando seu candidato nas eleições municipais, Gilberto Kassab, disputava o segundo turno com Marta Suplicy. Precisamos ficar atentos, pois, esta não será a última vez que o Serra utilizará de suas parcerias com a mídia para envolver a CUT e os movimentos sociais em suas armações. Por isso temos que ficar atentos para responder. Ao iniciamos os debates regionais da conferência nacional de comunicação, temos de estar cientes de que os trabalhadores, ao lado do conjunto dos movimentos sociais, devem aprofundar a pressão pela democratização da mídia por meio do acesso a canais que permitam apresentar diferentes visões e não apenas a de quem tem rabo preso com uma diminuta fatia da sociedade.
Sebastião Cardozo, presidente da CUT-SP e da FETEC/CUT-SP
O Delegado Marcos Carneiro, que deixou o Datena falando sozinho, em ação no conflito com a PM, durante manifestação da Polícia Civil em outubro de 2008.
SÃO PAULO - Dois dias após deixar o cargo de delegado-geral de polícia, Maurício Lemos Freire foi atacado por assaltantes, em um semáforo próximo ao Obelisco do Ibirapuera, na Zona Sul. Os ladrões foram presos pouco depois, ao roubar o relógio de um policial militar, em um semáforo na Vila Mariana, na região. O delegado está em férias e não comentou o ocorrido. A Secretaria da Segurança Pública confirma apenas o assalto ao PM, embora o boletim de ocorrência 1758/09, elaborado no 36 DP (Vila Mariana), mencione uma tentativa de roubo ocorrida pouco antes. O BO diz ainda que as vítimas dos dois ataques reconheceram os assaltantes. Amigos próximos de Maurício Freire confirmam a tentativa de assalto. Segundo eles, a determinação para evitar alarde sobre o caso teria partido do novo delegado-geral, Domingos Paulo Neto, que tomou posse terça-feira. Segundo o boletim de ocorrência, às 20h09 de quarta-feira, o entregador Tiago da Silva, de 24 anos, e o feirante Leandro José do Nascimento, de 18, atacaram um PM de 39 anos, que estava parado com seu carro em um farol da Rua José Antonio Coelho, e roubaram-lhe o relógio. Um dos ladrões parecia estar armado. Pelo celular, o policial pediu apoio a colegas do 12 Batalhão, indicando a direção tomada pelos ladrões e as roupas que vestiam. Os dois acabaram presos na região, ainda em poder do relógio roubado. Segundo a Secretaria da Segurança, os PMs souberam que os ladrões haviam tentado um assalto pouco antes e "localizaram" a vítima, que também reconheceu os acusados. Em fevereiro de 2006, o então delegado-geral Marco Antonio Desgualdo escapou de sequestro relâmpago no Jabaquara, Zona Sul. Na ocasião, ele estava com a mulher e a filha e procurava lugar para estacionar o carro quando dois motoqueiros o atacaram. Eles queriam que o delegado passasse para o banco traseiro. No momento em que o delegado ia descer, porém, um dos ladrões percebeu a arma na cintura dele e gritou para alertar o colega. Desgualdo aproveitou o descuido e empurrou a porta contra a moto, desequilibrando-o. Em seguida atirou para o alto. Assustados, os dois bandidos fugiram. O então delegado-geral chegou a comentar, na época, que só reagiu porque estava preparado para atirar. Porém, desaconselhou outras pessoas a tentarem fazer o mesmo. "É muito perigoso", comentou
O Delegado do DHPP de São Paulo, Marcos Carneiro, mais uma vez mostrou seu valor. Em 16 de outubro de 2008, durante a “Batalha dos Bandeirantes” teve participação decisiva. Não fosse sua intervenção uma catástrofe poderia ter ocorrido. Ele, mesmo alvejado por balas de borracha e estilhaços de bombas de efeito moral, foi um dos responsáveis por conter os policiais civis que queriam revidar os ataques da PM. Ontem, 26/3/09, novamente o Doutor Marcos entrou em ação. Além de ter feito um brilhante trabalho, materializando provas contra um exjogador de futebol, que assassinou a exmulher, não admitiu que o apresentador da TV Bandeirantes usasse o trabalho da Polícia Civil para sustentar o índice de IBOP do seu programa. O vídeo postado aqui foi editado e falta o inicio, mas, mesmo assim, dá para perceber que o entrevistador tenta conduzir a matéria da forma que lhe convém deixando de lado a realidade dos fatos. Doutor Marcos mais uma vez, parabéns.
GREVE, CONQUISTA, REPOSIÇÃO 2008, um ano para não ser esquecido
Estamos em 2009, mas 2008 será um ano para ser lembrado por todos os integrantes de nossa categoria. O motivo deverá parecer óbvio, pois a informação é um dos pilares básicos de nossa profissão. Sim, claro, o assunto a ser tratado por todos as páginas desta revista especial foi a vitoriosa campanha empreendida pela Polícia Civil, por todos os delegados espalhados pelos 645 municípios do Estado de São Paulo. O envolvimento foi pleno, antes e durante todo o processo de greve deflagrado.
Certamente o custo foi alto, envolvendo o dia-a-dia de cada um, o convívio familiar e com a sociedade como um todo. Mas o resultado final, mesmo que não o ideal para todos, tem um significado indelével, único em nossa história. Reconquistamos o respeito, do governo. E até o próprio, que foi sendo minado pelo passar dos anos sem reposições salariais dignas, que permitissem a manutenção de um padrão de vida aceitável, em que se podia olhar nos olhos da esposa e dos filhos com serenidade, e não preocupação com o amanhã.
Um amanhã sempre incerto em nossa profissão, escolhido com a certeza de que iríamos servir ao Estado, à sociedade, com o risco de nossas próprias vidas, mas com o reconhecimento do valor da prestação de nossos serviços e do direito a uma justa compensação econômica.
Foi em nome desses valores que perseguimos, durante todo o ano passado, em especial, em busca de algo que nos vinha sendo tirado por governos consecutivos, apesar das sempre promessas de estudos de viabilidade econômica, mas com a eterna ressalva de que o Estado passava por problemas que impediam a desejada recomposição salarial.
A união, a doação pessoal de cada um, a participação conjunta das entidades demonstram a capacidade da categoria em se organizar em nome de um objetivo comum, em buscar, com luta e dedicação, um desejo, um anseio, hoje uma conquista.
Como tudo tem um começo, um meio e um fim, a melhor forma de contar e comemorar esta vitória é por meio de uma linha do tempo deste ano especial, desses 365 dias passados, suados, inéditos que possibilitam, se não um 2009 ideal, pelo menos um ano de conquista.
Pode-se afirmar, sem a menor chance de erro, que, praticamente desde a primeira reunião da Diretoria da ADPESP, que assumiu o mandato em janeiro de 2008, uma preocupação comum a seus integrantes foi a idealização da campanha salarial.
Já a partir desse primeiro momento, em reuniões prévias dentro da sede da ADPESP, começou-se a traçar uma estratégia que resultaria no movimento que se seguiu. Os diretores e seu presidente chegaram à conclusão de que não deveriam fixar as reivindicações da categoria exclusivamente na questão salarial, tomando como base infrutíferas campanhas anteriores.
Era preciso ter a população, como um todo, ao lado da categoria. Em tempos de tanta insegurança, tentou-se mostrar que a luta era por uma polícia melhor, que, em decorrência, iria prestar um melhor serviço à sociedade e os proventos seriam, por consequência, melhorados. Foram avaliadas diversas propostas, que chegaram por e-mail, telefone, cartas e até conversas informais no restaurante. Todas foram analisadas, estudadas a fundo, pois chegou-se à conclusão que não poderia haver margem para erros de princípio, de estratégia. A categoria já estava cansada de tantas tentativas anteriores que resultaram em desgaste, sem resultado prático.
Nesse momento foi decidido que a campanha deveria ter a participação das demais entidades representativas da Polícia Civil. Foi lembrado o ano de 2007, quando outras entidades, sem a participação da ADPESP, tentaram uma campanha em conjunto com representantes da PM, que, mais uma vez, não gerou os frutos esperados.
Decidiu-se então que o movimento teria apenas a participação de policiais civis, mas em sintonia com todas as representações. E assim aconteceu. Formou-se um grupo de diretores para trabalhar o planejamento e, em 16 de abril, era convocada a primeira Assembléia Geral Extraordinária. Na oportunidade, com a presença de mais de 150 Associados, foi apresentado e aprovado o planejamento estratégico criado pela ADPESP, que usaria a greve como forma de pressão e consolidaria a proposta com a contratação de uma empresa de marketing, para realizar uma campanha publicitária dando sustentação às reivindicações.
Iniciou-se a pesquisa junto às grandes agências de publicidade até encontrar uma que aceitasse o desafio e atendesse às expectativas. Concomitantemente, seguindo o planejamento estratégico, foi dado início à preparação do evento que anunciaria a greve à sociedade. Por iniciativa do Presidente Sergio Marcos roque, foi marcada uma missa comemorativa aos 200 anos da Polícia Civil no Brasil, celebrada pelo Cardeal Arcebispo de São Paulo, na Catedral da Sé. Esse seria o primeiro passo e talvez o mais importante para essa mobilização, uma vez que seria difícil a administração proibir os policiais de todo o Estado de participarem de uma missa.
Concomitantemente a essa decisão, todas as entidades representativas das carreiras policiais civis foram convidadas para participar do movimento. A primeira reunião oficial aconteceu no dia 29 de abril e contou com a presença de 19 entidades. Ficou decidido que o movimento iria se chamar Representação Coletiva dos Policiais Civis de São Paulo. No entanto, por sugestão da agência de publicidade contratada pela ADPESP, passou a denominar-se Comitê pela Segurança do Cidadão. Nesse período a idéia de mobilização foi se aperfeiçoando e foram surgindo caminhos alternativos.
Como demonstração destas novas estratégias, mais de 300 Delegados de Polícia foram mobilizados para ir a Brasília, a fim de manifestar apoio à PEC 549, do deputado federal Arnaldo Faria de Sá, que reinsere a categoria no rol das Carreira Jurídica equipara o salário inicial dos delegados de polícia aos dos integrantes do Ministério Público. Em decorrência, a categoria ficou conhecida na Câmara Federal pelo seu poder de mobilização, a ponto de ser citada por diversos parlamentares por sua força de pressão.
Mas a luta principal era travada aqui em São Paulo. As reuniões com as demais entidades passaram a ser semanais, todas as segundas-feiras, às 10h, na sala de Reunião da ADPESP no 11° andar. Discutia-se mobilização, estratégia e dividiam-se tarefas.
Em 25 de maio aconteceu a 2ª Assembléia Geral, quando foi apresentada a agência de publicidade escolhida, aprovada sua contratação e a estratégia da greve. Nesse mesmo período, também aconteceu a primeira reunião do Conselho de Representantes, formado por líderes regionais. O principal compromisso assumido, além de representar a ADPESP em suas Regiões, era informar os colegas sobre o andamento da campanha, de forma a manter todos mobilizados.
Uma missa e a determinação de fé
Independentemente de toda essa atividade, a mobilização acabava ficando entre quatro paredes, salas de reuniões, contatos diretos, por telefone ou por meios eletrônicos. Era preciso ir avante, mostrar à sociedade o que estava ocorrendo.
Então, a Campanha ganha as ruas em 20 de maio, dia da primeira manifestação na Praça da Sé, centro da capital. A missa encomendada pela Associação atingiu o seu objetivo, em todos os sentidos. Lotou a Catedral da Sé. Havia gente em pé, ocupando todos os corredores. Do lado de fora, em um caminhão de som, diretores da ADPESP explicavam os motivos do movimento e chamavam os presentes para um ato público, em favor da categoria. Ao término da cerimônia, foi realizada uma passeata com a participação de cerca de 700 policiais. Eles portavam faixas e cartazes com frases chamando a atenção do governo para situação da polícia paulista. Os manifestantes saíram da Praça da Sé e foram até o Largo de São Francisco, onde em um comício foi anunciada a greve, para o dia 13 de agosto.
Essa manifestação contou já com a participação das outras entidades e teve maciça presença dos colegas do Interior, que chegaram a São Paulo em 11 ônibus fretados, mostrando a força dos DEINTERs. Seguindo a estratégia inicial, na ocasião, não foi reivindicado um índice específico, apenas mostrou-se o interesse em negociar. Foi destacado que os policiais não tinham reajustes significativos há 14 anos e a defasagem chegava a 200%. Pediu-se reestruturação da Policial Civil e a valorização das carreiras. O reajuste salarial seria algo a ser obtido como consequência.
O presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque, aproveitou o momento para dizer em público que não iria mais admitir manifestações mentirosas, como as que vinham partindo da Secretaria de Segurança Pública, que em resposta ao nosso ato afirmava ao Jornal O Estado de S. Paulo já ter atendido as reivindicações no ano passado. Mais grave, divulgou como benefício a concessão do GAT - Gratificação por Acúmulo de Titularidade. Esse benefício só viria a ser regulamentado no dia 12/8, em função do movimento, mas beneficiando apenas os Delegados de Polícia que respondem por mais de uma unidade, em municípios diferentes. Reduzindo o espectro proposto na lei.
O mês de julho foi importantíssimo para o movimento, pois nesse período começou a produção da campanha publicitária, a confecção do material gráfico e a criação do site www.comitepelaseguranca.com.br, que deu suporte à campanha.
Diversas reuniões foram realizadas com o intuito de avaliar os rumos tomados e fazer possíveis correções de rota. A imprensa já começava a publicar matérias demonstrando que várias regiões do Interior do Estado haviam aderindo ao movimento.
Todas as segundas-feiras esses fatos eram avaliados na reunião das entidades na sede da ADPESP, verificando-se que o movimento tinha tomado corpo. Seguia-se o planejamento estratégico traçado desde o início. As outras entidades engajadas, cada uma de forma específica, participavam da estratégia montada na ADPESP, apresentando sugestões e discutindo correções na rota.
Uma verdadeira estratégia de marketing
Sabia-se que era preciso provocar um impacto coletivo com a divulgação de nosso movimento. Além de se anunciar publicamente à sociedade os motivos da campanha (já se prevendo a possibilidade de uma paralisação), era preciso o entendimento da população.
Depois de muito empenho finalmente o filme que seria veiculado na TV foi aprovado. Foram semanas de criação e produção do material, pois este seria o cartão de visitas a ser apresentado ao governo, não poderia conter falhas. Uma vez pronto era preciso de um plano de mídia, decidindo a veiculação da propaganda. Uma série de estudos foi feita, diversas comparações de custo-benefício foram realizadas até chegar à mídia ideal, que envolvia a principal emissora televisa do país.
O filme enviado para a Rede Globo e foi vetado. A alegação era de que o texto mostrava-se ameaçador, contrariando normas da casa, e não poderia ser veiculado. Novas reuniões e decidiu-se refazê-lo. O trecho onde se dizia que “a polícia vai parar” foi trocado por “para a polícia continuar atendendo o povo de São Paulo”. A estratégia deu certo e a rede Globo aceitava a campanha publicitária, mas perdeu-se a data programada da veiculação. A idéia inicial era que fosse feito o lançamento da Campanha num dos intervalos do programa Fantástico.
Teve início um novo planejamento de mídia, semana diferente, escolha de outra programação, com uma audiência específica. Novo plano. Aprovação de orçamento. Pagamento. Fechada nova veiculação, agora nas TVs Bandeirantes, Record e Globo.
No dia 1º de agosto de 2008, uma sexta-feira, a campanha foi lançada no intervalo do programa Brasil Urgente, do jornalista José Luis Datena, na TV Bandeirantes. O site da ADPESP publicou com destaque o lançamento do comercial, com sua programação. A imprensa foi avisada. O Pub na sede da ADPESP estava cheio, todos esperando o momento, que parecia não chegar nunca. Alguns, em tom de brincadeira, diziam que estavam sendo enganados, que a Associação não havia pago a veiculação. Afinal, nunca na história da entidade foi realizada uma campanha desse porte e, ainda mais, contra o Governo.
Porém, depois de um “me ajuda aí ô” dito pelo o apresentador entrou o intervalo comercial e lá estava o filme da campanha. A peça publicitária mostrava quatro atores vestidos como policiais civis batendo à porta de um gabinete com a inscrição "governador", clamando por uma audiência. "Governador, queremos falar dos salários, os mais baixos do País", diz uma atriz. "Governador, precisamos falar sobre a segurança da população", diz outro ator. E termina com o locutor afirmando: A Polícia quer respeito para continuar trabalhando pelo povo de São Paulo.
O filme foi veiculado na TV Bandeirantes no dia 1/8, na Record dia 2/8 e no dia 5/8, quando seria veiculado no Jornal Nacional da Rede Globo, novamente foi censurado. O governador barrou na Justiça a veiculação da peça publicitária. A liminar em favor da Procuradoria-Geral do Estado foi concedida pelo desembargador Ricardo Dip, do Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, que em seu despacho acatou a tese do procurador-geral, Marcos Fábio de Oliveira Nusdeo, de que o filme "extrapola os limites do direito à informação e livre manifestação, objetivando causar pânico à população".
A censura ao comercial virou notícia e ganhou as páginas dos jornais de grande circulação. A revolta dos policiais foi geral e aumentou ainda mais a mobilização. A versão do filme publicada no site YouTube ultrapassou os 60.000 acessos.
De novo eram necessárias novas ações para reverter um possível impacto negativo dessa censura, num país livre e democrático. Assim que os dirigentes da ADPESP receberam a informação da proibição do comercial passaram a se articular e tentar novas soluções. Um tanto desnorteados pela notícia da censura, de imediato, a idéia era substituir o filme, mas não havia tempo hábil para produzir outro.
Recorreu-se então à técnica do “lettring” - quando um texto, lido por um locutor, percorre a tela. Mas também não foi possível, pois a Rede Globo não aceitaria nada que remetesse à idéia de greve ou à liminar. O tempo corria, restavam poucos minutos para apresentar uma solução. Ela não veio. Perdeu-se a inserção. A Diretoria acionou o escritório de advogados que atende a Associação para tentar caçar a liminar que impediu a veiculação do filme publicitário. Foi dada entrada em um Agravo Regimental, na 8ª Câmara de Direito Público. Depois de impetrado recurso o Tribunal de Justiça de São Paulo designou o Desembargador Paulo Dino Mascareti para relatar o recurso contra a liminar. Passados sete dias ele declarou-se suspeito para o julgamento, alegando ser vice-presidente da APAMAGIS e ter relação com a entidade. A ação ainda não foi apreciada.
É chegada a hora H
Finalmente iniciam-se as negociações. Uma semana antes da data marcada para greve, o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, convidou os presidentes das entidades para uma reunião em seu gabinete, no Palácio dos Bandeirantes. Todos que ali compareceram esperavam a apresentação de alguma proposta que atendesse às reivindicações. A reunião foi improdutiva. Ao ser interpelado pelo porta-voz da ADPESP, o secretário disse que, naquele momento, a única proposta concreta possível era a de se aprofundarem os estudos da reestruturação das carreiras e destacou que qualquer aumento significativo de salário estaria descartado, uma vez ser o contingente policial muito grande e isso acarretaria em despesas que o governo não poderia suportar.
Nesse momento, o representante da ADPESP lembrou ao secretário que a categoria estava a menos de 200 horas de uma greve e ele deveria se preocupar em apresentar propostas concretas, que pudessem evitar a paralisação. Como não foi isso que aconteceu, o presidente da Associação se retirou da sala. Os demais representantes ainda tentaram tirar do secretário alguma esperança, mas não foi possível. A reunião se encerrou e todos perceberam que o governo não iria se render às manifestações anteriores.
O dia da greve já se aproximava e nas reuniões das segundas-feiras as entidades passaram a distribuir tarefas e definir a logística da paralisação.
Decidiu-se pela criação do Comando de Greve, que deveria ser formado pelos representantes de todas as entidades e permaneceria na sede da ADPESP. O auditório Ivahir Freitas Garcia foi transformado em sala de situação. Foram instaladas linhas telefônicas, constantes na Cartilha, conexão rápida para internet, aparelho de TV e rádio. Folhetos, cartazes e adesivos foram criados, impressos e distribuídos por todo Estado. A categoria entrou no clima. Só se falava em greve.
A sede da ADPESP foi decorada com as faixas usadas na passeata, do anúncio da greve, criando um clima de manifestação. Diretores da Associação visitaram diversas Regiões do Estado, dando entrevista à imprensa local, divulgando o pleito e fazendo reunião com os policiais, a fim de multiplicar a mobilização e garantir apoio da sociedade.
Já se acertavam os últimos detalhes e os Associados cobravam a Cartilha, que orientaria a greve. Como ainda ela não estava de todo concluída, a ADPESP decidiu ajudar, convocou alguns representantes e elaborou-se o material. Esse foi um dos muitos percalços que tiveram de ser enfrentados, e superados, para se chegar a bom termo. Assim, na sexta-feira, 8/8, foi publicada a cartilha e divulgada por e-mail a diversos colegas, que as repassaram aos demais. Em poucas horas todos já tinham conhecimento de seu conteúdo. Com a ajuda da categoria foi possível superar a demora na veiculação. Mais uma barreira vencida.
No final de semana as notícias chegavam pelos celulares. Davam conta de que o Governador estava reunido com o secretário de Segurança, o de Gestão e com o chefe da Casa Civil. O Conselho da Polícia Civil também estava reunido e o Delegado Geral havia sido convocado a comparecer no Palácio do Planalto. Toda essa movimentação, num sábado que antecede ao dias dos pais, despertou a curiosidade das lideranças.
Segunda-feira pela manhã os representantes das entidades que participaram do movimento foram acordados pelo CEPOL, chamando para uma reunião na Delegacia Geral a pedido do Delegado Geral. Às 10h estavam todos presentes na ante-sala de onde se reúnem os Cardeais. A expectativa era grande, uns acreditavam que o governo havia ouvido os reclames da categoria e outros estavam descrentes.
Na presença do Conselho da Polícia Civil, o Delegado Geral abriu a reunião relatando que no final de semana encontrara-se com representantes do governo, a fim de tratar da manifestação e que sua missão era a de criar um canal de negociação com as entidades para que a greve fosse suspensa. A exemplo da reunião da semana anterior, os representantes fizeram os mesmos discursos, destacando a defasagem salarial, as dificuldades de promoção e de aposentadoria. Houve até um representante de outra carreira que pediu para que o Delegado Geral intercedesse por um companheiro dele, que não havia sido promovido na última lista.
Novamente o representante da ADPESP assumiu a palavra e cobrou propostas, dizendo que estavam ali para ter conhecimento das ofertas do governo, que todos eram policiais e conheciam as mazelas da categoria. O Delegado Geral então apresentou algumas propostas, dentre elas a de eliminar a 5ª classe das carreiras de delegados e médicos legistas e uma para formar de um grupo paritário a fim de discutir a reestruturação. Obviamente,as entidades não aceitaram.
Então o porta-voz da Associação cobrou uma aposição mais clara por parte do governo. Por volta das 16h a reunião foi suspensa e o Delegado Geral deslocou-se até a secretaria de Gestão, para apresentar a reação das entidades frente ao proposto e marcou nova reunião para as 19h.
Na segunda rodada de negociações já não havia a presença de todos os representantes, mas a reunião seguiu assim mesmo. O governo havia ampliado a proposta estendendo a extinção da 5ª classe, também, para as demais carreiras. Acenou ainda com a aposentadoria especial e assinou o decreto que regulamentou o GAT- Gratificação do Adicional de Titularidade, contemplando apenas os Delegados de Polícia que responderem por mais de um distrito em municípios diferentes. Insistiu também na tese da reestruturação, lançando mão de um grupo paritário que, segundo o Delegado Geral, poderia trazer bons frutos. Muitas manifestações começaram a surgir e o desentendimento foi constante. Nesse momento estavam presentes à reunião cerca de 40 pessoas. Estava claro que a greve estaria mantida para o dia 13. Não houve consenso.
Ao final, a ADPESP por meio de seu representante insistiu em que a proposta deveria ser escrita, que da forma que foi apresentada não era de fácil compreensão, por consequência muito difícil de ser apresentada à classe. O Delegado Geral então se comprometeu em, no dia seguinte, trazer alguém da Secretaria de Gestão para esclarecer as dúvidas e todos os representantes foram embora com a certeza de que todo o planejamento para a greve teria de ser mantido.
Na terça-feira, faltando 24 horas para a greve, a movimentação era total. Todos os funcionários da ADPESP foram envolvidos, cada um com uma tarefa a cumprir. Uns faziam pacotes com folhetos, adesivos e cartazes, que foram enviados aos distritos, outros atendiam as centenas de telefonemas de associados buscando informações sobre o procedimento que deveriam adotar no dia seguinte. À tarde, Diretores da Associação dirigiram-se até a Delegacia Geral a fim de encontrarem os técnicos da secretaria, que detalhariam a proposta. A imprensa de todo o Estado procurava novas informações e confirmava a paralisação. No final da tarde a primeira notícia sobre o movimento. O SINDPESP informa ao presidente da Associação que o Tribunal Regional do Trabalho havia reconhecido o dissídio da categoria e intimado o sindicato a comparecer a uma audiência de instrução e conciliação às 13h do dia seguinte. Todos ficaram apreensivos com a informação, pois ela poderia mudar totalmente o rumo dos acontecimentos.
Está deflagrada a greve
É chegado o dia. Já às 7 horas da manhã, o auditório da ADPESP estava transformado em sala de situação e aguardava-se a chegada dos presidentes das entidades que formariam o Comando de Greve.
Meia-hora mais tarde, preocupação. As linhas telefônicas não funcionavam quando se tentava ligar para celular. Rapidamente é contatado pessoal da manutenção que imediatamente resolve a questão. Chegam várias garrafas de café e outras de água, o pessoal está preparado para o pior, tem provisão para muitas horas.
O aparelho de TV está sintonizado no telejornal e som ecoa pela sala vazia. Apenas o pessoal da ADPESP está presente. Percebeu-se a ausência dos sempre presentes aposentados. Os telefones não param nenhum minuto de tocar, pois todos querem saber como atender a nova ordem judicial de que seja mantida a continuidade dos serviços, em 80% do efetivo, sem interrupção total de qualquer tipo de atividade, como ficara determinado pela justiça trabalhista sem um conhecimento amplo por parte da categoria.
Tal assunto não constava na Cartilha. Mudou a regra do jogo. A falta de informação pode causar danos. Houve um momento de indecisão, todos aos telefones buscando informações. Elas vinham desencontradas. Pela internet localizamos o ofício expedido pela secretaria da seção especializada em dissídios coletivos do TRT de São Paulo e, em fim, tomamos total ciência do fato.
Depois de algum tempo, já com tudo esclarecido e com a presença dos representantes da Associação dos Agentes, dos Papiloscopistas, dos Investigadores, dos Escrivães e de vários delegados, foi possível reorganizar a situação. Foi criado um quadro para registrar as paralisações, que era atualizado a cada telefonema, com os policiais avisando sobre as adesões, que eram devidamente anotadas. A lista aumentava a cada minuto. Muitos telefonemas davam conta de coações praticadas por superiores. Foi feita uma lista negra, onde eram incluídos os policiais que tentavam impedir o direito à greve e imediatamente o caso era encaminhado aos advogados para providências.
A imprensa, presente, pode acompanhar tudo de perto, num ritmo era alucinante. Quando chegou a notícia de que o seccional de Diadema havia dado voz de prisão a uma delegada grevista, a revolta tomou conta de todos e, imediatamente, deslocou-se um grupo de representantes da ADPESP para o local, a fim de prestar solidariedade à companheira.
As ligações não paravam, as adesões aumentavam e a imprensa repercutia cada fato. Na rua, a greve estava em curso.
Um companheiro fez um levantamento de quantos BOs foram lavrados até as 12h. O número não passou de 107. Mais um motivo para comemorar. O DECAP, que poucos acreditavam, parou. Naquele dia todos aguardavam ansiosamente contato do Sindicato, a final haveria uma reunião de negociação no TRT.
Quando chegaram informações, por volta das 16h, elas eram de que fora feito acordo para suspender a greve. Na próxima sexta-feira, 15/8, as partes indicariam dois membros representantes de cada uma das categorias e quatro do Governo, a fim de formar uma comissão com o objetivo de deliberar sobre assuntos de interesse da categoria. Ficou decidido ainda que o Governo do Estado não tomaria nenhuma atitude de retaliação relativa à greve.
Não restara outra alternativa. Greve suspensa. Paulatinamente a sala do Comando de Greve, que contou apenas com representantes da ADPESP, AGPC, AIPESP ACARPESP e APPESP, foi se esvaziando.
Restava, nesse momento, resolver os problemas prementes, formar a comissão de negociação e se preparar para a semana seguinte e se preparar para enfrentar os negociadores do governo. Mais uma vez houve comemoração. A ADPESP tem gente preparada para essa tarefa. Um dos diretores da Associação dirigiu-se até a sede do SINDESP, onde pela primeira vez, nos últimos meses, as demais entidades se reuniam e foi informado de que quem representaria os Delegados de Polícia na audiência conciliatória do Tribunal Regional do Trabalho eram dois membros do Sindicato. A ADPESP ficaria de fora.
Ledo engano, pois uma entidade com 60 anos de história que representa mais de 4000 delegados de Polícia e tem compromisso com a categoria não pode se submeter a tal situação. Se a ADPESP não representa a classe legalmente representa a todos de fato. Foi mantida a mobilização e utilizado todo o peso de nossa representatividade para alcançar nosso objetivo. Contamos com a ajuda de todos os associados.
A rodada de negociações, sob a tutela do TRT, transcorreu normalmente, mas com a participação de diretores da ADPESP, que, mesmo sem estarem inscritos para debater, foram autorizados pelo negociador à presença.
Nesse momento, ficou claro a Diretoria precisava tomar medidas próprias em defesa da categoria que representa. Num primeiro passo, filia-se ao DIEESE. Este renomado instituto, municiado dos dados salariais da categoria, realizou um estudo dos últimos anos e constatou claramente defasagem de quase 100% nos salários dos Delegados de Policia e de 56% no das demais categorias.
A metodologia usada para chegar a esses números é muito simples: tomou-se por base inicial a última reposição concedida pelo Governo antes de o PSDB assumir o Estado de São Paulo, abril de 1995. O instituto traçou um panorama da situação salarial da categoria, comparando com outras carreiras e posicionando os índices de acordo com suas época e moeda vigente. Essas informações, chanceladas pelo instituto foram usadas para mostrar à sociedade que o Governo mentia quando afirmava que havia reposto perdas salariais.
Dando prosseguimento as suas estratégias de mobilização, a diretoria da ADPESP foi, em agosto, a Brasília, a convite do Senador Suplicy, que, indignado com a situação dos policiais paulistas, fez um pronunciamento em favor da classe, durante sessão plenária daquele dia. Na presença do Presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque, do Presidente da ADEPOL, Carlos Eduardo Benito Jorge, e do Assessor Especial da ADPESP, Fernando Beato, o senador lembrou a luta da categoria e afirmou que uma polícia que é referência no País não poderia ser tratada dessa forma. O Senador Romeu Tuma, que presidia a sessão, visivelmente emocionado destacou a alegria de estar naquela presidência exatamente no dia em que recebia a visita de seus colegas Delegados de Policia.
O Senador Suplicy encabeçou ofício encaminhado ao Governador Serra, assinado pelos três representantes do Estado de São Paulo naquela Casa, Aloísio Mercadante, Eduardo Suplicy e Romeu Tuma, solicitando especial atenção para categoria. Dias depois o Senador Aloísio Mercadante visitaria a ADPESP com objetivo de levar o seu apoio às reivindicações da categoria e tornando-se mais um defensor da causa da Polícia paulista.
Os rumos da dura negociação
Em 5 de setembro, as demais entidades, desgastadas pelo ocorrido no TRT, permitem a participação da ADPESP junto à mesa de negociações. A procuradora do Trabalho ao examinar os dados apresentados pela equipe da Associação, intercede em favor da categoria, alegando que o governo pouco se esforçava para resolver a questão. Nesse momento, representantes da secretaria de Gestão apresentaram proposta de acrescer ao orçamento da pasta da Segurança Pública o valor de R$ 450 milhões, sem dizer como aplicá-los. Após reuniões com a participação da equipe da ADPESP, formada pelo presidente Sergio Roque, o diretor André Dahmer e o advogado Fernando Harada, o governo subiu a proposta para R$ 550 milhões. Em um rápido cálculo feito por um diretor da entidade descobriu-se que o valor oferecido, se aplicado de forma linear a todos os componentes da folha, Policia Militar, Técnico Científica e Civil, representaria um índice de reajuste de cerca de 7%. Muito aquém do pedido no início das negociações, 60%. Vale destacar que inicialmente falava-se na reforma da Polícia Civil, uma profunda reestruturação que a tornaria mais técnica e eficiente, valorizando o profissional e beneficiando a sociedade. Porém, o foro desviado para o TRT e a presença da imprensa nas negociações acabou por valorizar o índice. Não que ele não fosse igualmente importante para classe, é que os anseios da categoria são muito maiores, além do que o projeto de transformação passaria automaticamente por melhores condições remuneratórias.
A juíza Dora Treviños, adiou várias vezes o final da negociação e o consequente início do julgamento. Na esperança de ver o caso solucionado, foi enviado negociador à secretaria de Gestão em busca de algo que melhorasse a proposta. Na primeira semana de setembro foram realizadas seguidas reuniões na sede do TRT, as entidades convocaram suas bases, para que fossem ao Tribunal a fim de acompanhar a última rodada de negociação.
Ônibus vieram do Interior do Estado, lotados de policiais, portando faixas e cartazes e foram para frente do TRT. Eram cerca de 300 pessoas. Alguns grupos que vieram de outras cidades chegaram cedo e resolveram passar na sede do DENARC e da ACADEPOL, ocorrendo pequenos tumultos. Desciam dos ônibus, fazendo muito barulho, tocando apitos, cornetas e buzinas. Após dirigiram-se para sede do TRT.
Quando, às 3 horas da tarde, do dia 5/9, a diretoria da ADPESP chegou ao Tribunal, o local estava repleto de manifestantes. A segurança local isolou o acesso principal e só entrava quem estivesse credenciado. Do lado de fora do prédio, na Rua da Consolação, os grevistas mantiveram a manifestação.
O local da audiência, uma mesa típica de Tribunal, ostentava de um lado representantes dos sindicatos e, do outro, os do Governo. A ADPESP foi convidada a sentar-se à mesa que, a essa altura, tinha também um representante da PM, o deputado estadual Major Olímpio Gomes, e uma da Policia Técnico Científica. À frente, no lugar de destaque da mesa, sentaram-se a Juíza, o negociador e do lado oposto a procuradora. Em pé, estavam presidentes e diretores das outras Associações, além de vários repórteres de emissoras de rádio, TV e jornais.
O governo não avançou nas propostas, manteve os cerca de 7% oferecidos anteriormente, com a promessa de reestruturação para discutir depois. Os presidentes de sindicatos falaram da defasagem, da dificuldade de os policiais sobreviverem com os seus vencimentos e da intransigência do governo, um a um repetiram o mesmo discurso dos outros dias.
Os representantes da ADPESP apresentaram os dados do DIEESE ao negociador e propuseram uma diminuição no índice de 60%, dividindo-o em três partes. Seriam 44,26%: a primeira parcela de 15% para 2008, a segunda de 12% em 2009 e a terceira, também de 12%, para o ano seguinte. O Governo não aceitou. Alegando falta de caixa, disse que tal reivindicação poderia levar o Estado a falência, pois a pasta é composta por muitos funcionários.
Nesse momento o técnico da secretaria de Gestão foi interrompido por diretor da ADPESP, que lembrou ao representante do Governo que as reivindicações eram da Polícia Civil e apenas para ela. Imediatamente o representante da PM manifestou-se contrariamente à proposição. Dessa forma, o impasse persiste e a Juíza propõe um reajuste salarial para categoria da ordem de 12% para 2009 e mais 10% em 2010. O Governo recusou, sob os mesmos argumentos anteriores.
Não havendo acordo a juíza deu início à fase preparatória do julgamento e concedeu prazo de cinco dias (a partir de 5/9) para que as entidades apresentassem a defesa de sua tese. Foi sorteado para relatar o processo o Desembargador Nelson Nazar.
Em reunião realizada no dia 8/9, na sede da ADPESP, com a presença de todas as representações dos policiais civis, decidiu-se por manter o Estado de Greve, com operação padrão até o final do julgamento do Tribunal do Trabalho.
O Governo, por sua vez, questionou a competência do TRT no julgamento do dissídio, alegando que o Tribunal do Trabalho e o Tribunal de Justiça descumpriram decisões proferidas pelo STF, no sentido de caber à Justiça comum decidir conflitos trabalhistas entre o Poder Público e seus funcionários.
O ministro Eros Grau, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu, em caráter liminar, a tramitação de dissídio coletivo da greve no Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. No entanto, manteve a liminar concedida pelo TRT, garantindo a greve.
Foi preciso uma nova estratégia. Decidiu-se pela retomada do movimento, inicialmente, com aplicação de uma operação padrão e editada uma nova Cartilha, com todas as orientações e procedimentos necessários. A ação consistia em cumprir, quase que ao pé da letra, o código de processo. Os policiais deveriam atender a todos os locais de crime, solicitar perícia, aguardar e orientar o perito.
A estratégia não teve o sucesso esperado e partiu-se então para a retomada da greve. Ficou decidido que o movimento paredista não iniciaria imediatamente, sendo marcada uma data de início, a fim de criar expectativa no governo. Dessa forma, os organizadores tiveram tempo hábil para divulgar o fato junto à imprensa e, com isso, motivar a categoria objetivando grande adesão.
A retomada da greve
O auditório da ADPESP, mais uma vez, foi transformado em sala de situação. Às 8h do dia 16 de setembro deu-se início à histórica greve da Polícia Civil paulista. Da gráfica chegavam diversas caixas com impressos explicando para população o motivo da paralisação. Vinham também adesivos, que compunham os kits de material de divulgação de greve, que eram enviados pelo correio para as diversas regiões do Estado. Os telefones da Associação ficaram mais uma vez congestionados. As ligações eram para buscar orientações de como agir no período da greve. A imprensa também mantinha contato atrás de notícias e depoimentos dos diretores. A sala de situação estava montada no auditório da ADPESP, onde funcionou o comando de Greve.
A partir dos contatos é montado um quadro com a lista de adesões, sempre crescente. Por outro lado, aumenta a pressão para se tentar impedir o sucesso do movimento. A assessoria da ADPESP é solicitada e entra em ação, dirigindo-se até uma delegacia em socorro de colega que estava sendo pressionado por superiores, fato amplamente coberto e divulgado pela imprensa.
Outra estratégia foi o uso de carros de som, que percorreram as ruas impedindo qualquer tipo de pressão contrária ao movimento paredista. A imprensa, mais uma vez, cobriu a ação, dando destaque no assunto.
No Interior a greve ganhou grande destaque. Nas CIRETRANS formavam-se filas enormes, com os policiais portando faixas e espalhando cartazes. Das 53 Seccionais, 49 aderiram totalmente, e 4 parcialmente. A greve estava nas ruas.
O Governo publicou anúncio, nos jornais de grande circulação, em todo o Estado, alegando que a categoria era intransigente e que ele havia proposto um aumento de 38%. Na realidade esse índice beneficiaria apenas 15 delegados de policia, que se encontravam em estágio probatório e lotados em cidades com menos de 200 mil habitantes, os demais receberiam menos de 4%.
Essa estratégia do governo acabou por motivar ainda mais manifestantes, que resistiam as pressões e mantiveram a greve em todo o Estado.
O Ministério Público estadual, por meio da Promotoria de Justiça da Cidadania, instaurou inquérito civil para acompanhar o movimento, que respeitou a liminar do TRT e manteve 100% do efetivo no trabalho. A manifestação consistia em registrar apenas os casos considerados mais graves, sem interromper totalmente nenhuma das atividades da categoria.
A secretaria de Segurança anunciou à imprensa o corte do ponto dos grevistas e orientou a Polícia Militar a registrar BOs PM das ocorrências não atendidas, encaminhando-as para o Ministério Público Estadual, o que gerou uma representação na Procuradoria Geral da Justiça do Ministério Público Estadual contra a Secretaria de Segurança Pública, por constrangimento ilegal.
A imprensa acompanhou diariamente a evolução da greve. A Folha de S. Paulo publicou uma tabela da remuneração dos Delegados de Polícia do Brasil, atestando que o menor salário pago na federação era em São Paulo. O Estado de S. Paulo divulgou entrevista de uma página com o presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque. Fato repetido pelo concorrente, a Folha de S. Paulo. Todos os dias diretores da Associação falavam da disparidade salarial, da ingerência política e a possibilidade de termos uma polícia melhor, mais eficiente.
A imprensa abriu espaço ao governo para entrevistas nas principais mídias, nos programas de rádio de maior audiência, tentando justificar sua decisão de não atender as solicitações da categoria. A greve foi notícia em todo País.
O número de ocorrências registradas diminuiu 60%, dos BOs atendidos 90% correspondiam a fatos de natureza grave e estavam dentro do que preconizava a cartilha. Em decorrência, o Governo endureceu e dizia não negociar com funcionários em greve. Transfere o presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque, do DIPOL para o DECAP, alegando que o dirigente não poderia permanecer no DIPOL, pois entre as suas funções está a de fazer o monitoramento da greve.
O Comando de Greve decidiu fazer uma passeata para reafirmação das reivindicações da categoria e contra a posição adotada pelo governo frente à paralisação e reforçar o movimento, buscando a realização de um encontro dos representantes da categoria com o Governo a fim de tentar uma negociação.
A passeata do dia 23 de setembro reuniu cerca de 1.500 manifestantes, da capital e do Interior e do litoral. A manifestação teve início às 11 horas e saiu da frente do prédio da Associação, em direção à Secretaria de Segurança Pública, na Rua Líbero Badaró. Durante o trajeto, os manifestantes, portando faixas de protesto contra a postura do Governo em não negociar, gritavam palavras de ordem. Ao chegar à frente do prédio da secretaria, pediram que o secretário de Segurança Pública, Ronaldo Marzagão, descesse para negociar o reajuste salarial, fato que não ocorreu.
O ápice do movimento foi quando os policiais cantaram o Hino Nacional e, depois, deram as mãos, dando um abraço ao prédio. A passeata seguiu até a Rua Brigadeiro Tobias, no Palácio da Polícia Civil. Ali mais policiais civis se juntaram ao grupo.
Enquanto a passeata ocorria, em uma das salas do Palácio da Polícia, alguns diretores, membros do egrégio Conselho da Polícia Civil, tentavam demover, sem sucesso, o Doutor Domingos de Paulo Neto, então diretor do DIPOL, da idéia entregar o cargo por não concordar com a ordem do secretário da Segurança Pública de retirar do seu Departamento o presidente da Associação dos Delegados de Polícia, líder do movimento paredista. As retaliações contra a categoria não pararam por aí, e diversos colegas do Capital e do Interior do Estado também foram transferidos. Nas cidades onde os fatos ocorreram os colegas realizaram passeatas e atos públicos contra a retaliação a um movimento justo e legal.
A ADEPOL do Brasil organizou uma grande moção de apoio ao Movimento dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo. Reuniram-se na sede da ADPESP 18 presidentes de entidades de diversos estados. Esse encontro foi o embrião de uma manifestação que seria realizada posteriormente, quando as Polícias Civis dos outros Estados paralisariam por duas horas em apoio ao movimento paulista. As manifestações em apoio ao movimento aumentavam dia-a-dia, como da OAB, Câmaras Municipais, FIESP e Polícia Federal.
Uma trégua de 48 horas
O Governo publicava anúncios em jornais dizendo que havia oferecido o máximo possível para a categoria. Em todas suas manifestações, a afirmação: não se negocia com grevistas. Então os estrategistas da Associação resolveram dar uma trégua ao governo e propor a suspensão do movimento por 48 horas, transferindo responsabilidade, mostrando que estavam dispostos a colaborar, oferecendo uma chance aos negociadores do Estado para resolverem a questão.
Foi marcada então uma reunião com o Conselho de Representantes da ADPESP - associados que atuam no aconselhamento das decisões estratégicas do movimento dos Delegados de Polícia - a fim de firmar a posição da Associação junto ao movimento. Na reunião compareceram policiais de outras carreiras e de alguns segmentos contrários à Diretoria da ADPESP. Mas o bom senso prevaleceu, as questões políticas foram deixadas de lado e os conselheiros entenderam que a proposta não era pelo fim da greve, mas sim uma manobra que aumentaria a credibilidade do movimento. A imprensa acompanhou a reunião e divulgou o interesse da categoria em negociar e resolver o impasse com o Governo.
Cerca de uma hora após o término da reunião o secretário de Gestão Pública, Sidney Beraldo, procurou o Presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque, a fim de retomar as negociações. Durante 48 horas representantes da categoria estiveram reunidos com técnicos do Governo. Ofereciam aposentadoria especial, mas não tinham o texto da lei, falavam em promoções, mas não tinham o cálculo do impacto na folha.
As negociações não avançaram, venceu o prazo e a greve foi retomada com força total em um ato público na Assembléia Legislativa, em São Paulo. Mais uma vez a categoria compareceu em peso. Vários ônibus vindos do Interior do Estado, o pessoal da capital compareceu e lotou as galerias do plenário. Os deputados da oposição manifestaram-se em favor da classe e eram aplaudidos. Quem tentou defender a posição do governo foi vaiado. A Assembléia ficou pequena para os mais de 1000 manifestantes. Organizou-se uma caminhada até o prédio do DETRAN, próximo à ALESP. A passeata ocorreu de forma ordeira e não prejudicou o trânsito, uma vez que seguiu por vias de menor concentração de veículos.
Na semana seguinte os manifestantes encontraram-se defronte ao MASP, na Av. Paulista, e seguiram até a secretaria de Gestão Pública, mas uma vez ordeiramente e sem atrapalhar o trânsito. O GOE garantiu a segurança do local e os manifestantes seguiram pela calçada. A repercussão do movimento era maior a cada dia, a greve da polícia paulista já era notícia em todo o País. Uma manifestação marcada para porta do Palácio dos Bandeirantes causava preocupação tanto no governo quanto aos coordenadores do movimento.
A diretoria da ADPESP foi a Brasília buscar apoio das lideranças do PSDB, partido do governo paulista, pedindo que intercedessem junto ao comando do Estado, pois a má condução do ato poderia terminar em tragédia. Algumas horas antes do ato público o Presidente da ADPESP, Sergio Marcos Roque, recebeu na sede da entidade os deputados Ed Thomas, Mauro Bragato e Reinaldo Augusto para tratar do assunto, tentando se evitar o pior.
A batalha no Palácio dos Bandeirantes
No histórico dia 16 de outubro, mais de 3000 manifestantes compareceram ao Morumbi e concentraram-se na frente do Estádio Cícero Pompeu de Toledo. O Governo convocou o GOE para garantir a segurança da manifestação na frente do estádio e uma guarnição da PM realizou duas barreiras, compostas por soldados de braços dados a cerca de 500m da porta do Palácio e o pelotão do Choque 200m à frente. Depois de mais de uma hora de manifestação na frente do estádio, quando os manifestantes pretendiam caminhar até a frente do Palácio, chegou a informação de que os líderes seriam recebidos pelo governo.
Foi então montada uma comissão composta por presidentes de entidades, que caminhou até o primeiro cordão de isolamento. Lá receberam a notícia de que não poderiam subir até o Palácio, mas uma comissão composta por secretários de Estado viria até eles. O clima estava tenso, os soldados de PM estavam nervosos e inseguros frente à situação, afinal alguns de seus familiares estavam presentes apoiando o movimento da Polícia Civil, que também os contemplaria.
O dia era cinzento e chuvoso, desde as 12h garoava. A chuva começava aumentar. Veio a notícia de que alguém, de dentro do Palácio, havia mandado suspender a tentativa de negociação, pois imaginava-se que a chuva se encarregaria de dispersar os grevistas.
O tempo passava, a multidão estava ansiosa por notícia dos lideres que haviam saído em busca de negociação. O combinado era de que os grevistas esperariam a volta da comissão, com novas informações. Começou a circular, entre os manifestantes, a informação de que o governo não iria receber as entidades. Rapidamente a massa entrou em movimento na direção do primeiro cordão de isolamento, onde se encontravam os representantes. O número de pessoas foi aumentando, e todos subiam em direção ao cordão de isolamento da PM.
Deu-se início a um empurra-empurra. O primeiro cordão foi rompido e o segundo se desfez sem muito esforço. Os manifestantes avançaram em direção ao portão do Palácio dos Bandeirantes, mas antes de chegarem ao destino havia outra barreira, desta vez do batalhão do Choque, que recebeu os policiais civis com bombas e balas de borracha.
O que se viu a seguir foram verdadeiras cenas de guerra, com direito a transmissão ao vivo pelas principais emissoras televisivas. Os grevistas recuaram e refugiavam-se nas ruas transversais. Começaram a surgir muitas pessoas ensanguentadas, atingidas por estilhaços de bombas e balas de borracha.
Outros escondiam-se tentando se livrar dos efeitos do gás lacrimogêneo. O GOE, que estava postado antes dos cordões de isolamento, subiu em apoio aos colegas e posicionou-se junto à barreira do Choque, neutralizando a ação do pelotão. O Hospital Albert Einstein, nas imediações do conflito, ao final do dia computava mais de 12 feridos, e em outros hospitais da região a situação se repetiu.
O conflito, inédito e lamentável, se transformou em noticiário internacional. Durante os dias seguintes os jornais publicavam matérias sobre a chamada “Batalha do Bandeirantes”, e formadores de opinião manifestavam-se sobre o assunto. Alguns favoravelmente à categoria e outros contra, mas todos eram unânimes em criticar o Governo pela condução da greve dos policiais.
Esse conflito serviu, mais ainda, para fortalecer o movimento. O governador José Serra estava nitidamente incomodado. Era período eleitoral. Comentou-se que o governador iria visitar um candidato de seu partido, em uma importante cidade do Interior, para pedir votos e inaugurar um hospital. Quando lá chegou foi avisado de que policiais grevistas compareceriam ao local com faixas e cartazes. Deu meia volta, entrou no avião que o levará e retornou.
A vitória chegou enfim
O comando de greve preparou um grande ato público na Praça da Sé, lembrando o início do movimento em 20 de maio de 2008. A ADPESP providenciou diversos ônibus e estrutura para que o pessoal do Interior viesse para São Paulo para a maior manifestação da história Polícia Civil paulista, no dia 27 de outubro de 2008. Compareceram mais de 5000 policiais civis. Diversos deputados e vereadores vieram trazer apoio ao movimento. Da Praça da Sé os manifestantes seguiram em passeata até o Palácio da Polícia, passando pela secretaria de Segurança Pública.
O governo não resistiu e mesmo com a categoria em greve mandou para Assembléia Legislativa projetos de lei propondo o aumento linear de 6,5%, a extinção da quinta classe e transformação da quarta para investidura temporária. Propôs também que a diferença entre as Classes fosse de 10,5% e a promoção automática para cerca de 1.500 Delegados de Polícia. Ainda integra o pacote a adoção da aposentadoria Especial.
Uma vez na Assembléia Legislativa, onde o governo detém a maioria dos deputados, muito pouco poderia ser feito, mas a diretoria da ADPESP, juntamente com algumas entidades, buscou apoio da oposição ao governo na Casa. Os deputados reconheceram as necessidades da categoria e defenderam nossa posição. Muitas emendas foram criadas e apresentadas, mas nenhuma delas interessava ao governo e por meio de manobras regimentais foram rejeitadas uma a uma.
A oposição, formada pelos deputados de PT, PSOL e um do PV, resistiram bravamente a obtiveram pequenos avanços, fato que obtido frente a um governo como esse se torna grande vitória. Ao final e com a intervenção do líder do governo chegou-se a um consenso. O governo antecipou a regulamentação das propostas para 2008, adotou nível universitário para os operacionais e comprometeu-se com a categoria em iniciar a discussão de uma ampla reforma da Polícia a partir de março de 2009, onde será retomado o projeto de Carreira Jurídica para Delegados de Polícia. A Polícia Civil quis respeito e conquistou.