quarta-feira, 1 de julho de 2015

A simplicidade da cachaça familiar

Ao fundo e a direita bagaço que será queimado, a esquerda a entrada do alambique. A frente eu.
Tem coisas que só quem roda de moto por ai encontra. Entre um boteco e outro, nas estradinhas do sul de Minas Gerais, nos deparamos com um alambique Bicentenário.

Balcão de madeira, mal iluminado
A fazenda pertence a um sobrinho distante de Tiradentes, que há oito gerações produz cachaça artesanalmente. As instalações são basicamente as mesmas de 1755. O barracão de bagaços se mantém erguido com toras e coberto com telhas de barro. A base do moinho ainda é feita de pedras e tocado por uma roda d´água. A fornalha que aquece o alambique é alimentada pelo bagaço da cana e o líquido que pinga do alambique é resfriado por água corrente, desviada de um riacho próximo. Até a cana usada na produção é orgânica e a mesma de anos atrás. Eles plantam feijão no meio do canavial a fim de enriquecer o solo para o cultivo da cana, sem necessitar de defensivos químicos, mantendo a cachaça o mais natural possível.

Momento de degustação
Ao entrar no rústico barracão encontra-se, além de toda a parafernália de produção, um balcão de madeira mal iluminado, próximo a um fogão de lenha e um senhorzinho servindo cachaça em pequenos copos e falando sem parar. Do fogão saem linguiças cortadas em rodelas, que são consumidas entre um gole e outro da “marvada”. Ele conta que o engenho foi construído em 1755 e, desde então, nunca parou de produzir cachaça artesanal de boa qualidade. Quando questionado como envelhece suas cachaças o simpático senhor diz que sua cachaça não é envelhecida em barris de madeira, "minha cachaça é cristalina, não tem vergonha de ser cachaça", o envelhecimento se dá nas próprias garrafas.
Nando nos conta um pouco da história do Alambique, que se confunda com a de sua família

No meio de três ou quatro cachorros que ali vivem, circulam os visitantes e também o Luiz Fernando, herdeiro da fazenda, ou simplesmente Nando e seus dois filhos. Muito simpático nos contou que para beber cachaça é preciso respeitar algumas regras: 

A cristalina cachaça Século XVIII e a Santo Gau
1 - Beber apenas em momentos de alegria;

2 - Beber apenas acompanhado de amigos;

E ainda conta, que visitado por um hepatologista cachaceiro aprendeu que o fígado tem limites e ensina uma fórmula para beber com saúde. Deve-se observar a densidade do álcool que é de 0,8 kg/m³, multiplicá-la pelo teor alcoólico (% Gay Lussac) e depois pelo volume (ml) consumido. Para um consumo saudável o resultado da conta deve ser menor que 20, caso o cálculo refira-se há um dia ou menor de 100 se aplicado ao consumo semanal. Vale lembrar que o volume é cumulativo.

A cachaça realmente é diferenciada, não sei se bebida fora daquele contexto será tão saborosa, o fato é que a situação transporta quem está por ali para um distante passado onde não era pecado beber cachaça nem comer linguiça usando as próprias mãos.
O acesso ao Alambique não é muito simples, por isso as Harley Davidson ficaram do lado de fora

O Alambique fica na cidade de Coronel Xavier Chaves. O tal coronel era bisneto da irmã de Tiradentes, Antônia Rita da Encarnação Xavier, a cidadezinha fica entre Tiradentes e São João Del Rei, lá o Engenho Boa Vista, produz a cristalina cachaça Século XVIII e é considerado o mais antigo engenho de cachaça em atividade no país.

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