terça-feira, 31 de agosto de 2010

Estou de luto

É triste ver o fim do Jornal do Brasil, mesmo sabendo que ele continua na internet. O JB foi um dos principais jornais do Brasil, teve participação importante na sustentação do regime democrático no país. Foi o pioneiro na modernização dos recursos gráficos e implantou a cultura de noticiar os fatos da forma mais clara e simples.

Em fim, destaca-se como um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito. Viva o JB!



Última edição impressa do "JB" circula hoje



Dívidas levaram ao fim do diário, de 119 anos; marca será mantida em versão on-line

Folha de S. Paulo de 31/8
MARCELO BORTOLOTI
DO RIO

A última edição impressa do "Jornal do Brasil", um dos mais antigos diários do país, circula hoje. A partir de amanhã, o jornal terá apenas uma versão on-line.

Criado em abril de 1891 pelo escritor Rodolfo Dantas, o "JB" ajudou a definir os rumos da imprensa brasileira.

Por sua Redação passaram jornalistas como Janio de Freitas, Marcos Sá Corrêa e Zózimo Barroso do Amaral, além de escritores que assinavam colunas regulares, a exemplo de Manuel Bandeira, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade.

O jornal vivia há décadas em crise financeira, com dívidas trabalhistas crescentes e queda na circulação.

Atualmente, na gestão do empresário Nelson Tanure, que arrendou o uso da marca por 60 anos, tinha dificuldade para manter seu custo operacional (cerca de R$ 3 milhões por mês) diante da queda na circulação e de um passivo estimado em R$ 100 milhões em dívidas.

Tanure já tinha feito outras incursões pela mídia. Em 2002, comprou os direitos de publicação da revista "Forbes", no Brasil, que um ano depois rompeu o contrato.

Em 2003, arrendou o jornal econômico "Gazeta Mercantil", que também tinha grande passivo e deixou de funcionar no ano passado.

Em 2008, o "Jornal do Brasil" tinha uma tiragem média de 95 mil exemplares diários. Este ano, caiu para 20 mil. Tanure não quis comentar o fim da circulação.

Para a versão digital, o jornal pretende manter uma equipe de 150 jornalistas e profissionais da área comercial e administrativa.

Em comunicado a seus leitores, o jornal diz que se tornará o primeiro veículo 100% digital do país. A versão on-line para assinantes custará R$ 9,90 mensais.

Hoje, ao meio-dia, no centro da cidade, o Sindicato dos Jornalistas do Rio de Janeiro fará um ato contra o fim da versão impressa, com a participação de ex-funcionários do "JB".

HISTÓRIA
O jornal nasceu como um veículo monarquista em pleno regime republicano. Chegou a ser empastelado no primeiro ano por sua cobertura favorável a D. Pedro 2º. Nessa época, tinha em seus quadros nomes como Joaquim Nabuco e Rui Barbosa.
Em 1959, realizou uma revolucionária reforma gráfica e editorial. Além da diagramação mais limpa e moderna, passou a trazer um noticiário claro e objetivo.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

RECONHECENDO UMA MENTIRA


Em época de eleição é sempre bom ficar atendo às verdades ou mentiras. Veja aqui algumas dicas para identificar os mentirosos profissionais.


1. A pessoa fará pouco ou nenhum contato direto nos olhos;

2. A expressão física será limitada, com poucos movimentos dos braços e das mãos. Quando tais movimentos ocorrem, eles parecem rígidos e mecânicos. As mãos, os braços e as pernas tendem a ficar encolhidos contra o corpo e a pessoa ocupa menos espaço;

3. Uma ou ambas as mãos podem ser levadas ao rosto (a mão pode cobrir a boca, indicando que ela não acredita - ou está insegura - no que está dizendo). Também é improvável que a pessoa toque seu peito com um gesto de mão aberta;

4. A fim de parecer mais tranqüila, a pessoa poderá se encolher um pouco;

5. Não há sincronismo entre gestos e palavras;

6. A cabeça se move de modo mecânico;

7. Ocorre o movimento de distanciamento da pessoa para longe de seu acusador, possivelmente em direção à saída;

8. A pessoa que mente reluta em se defrontar com seu acusador e pode virar sua cabeça ou posicionar seu corpo para o lado oposto;

9. O corpo ficará encolhido. É improvável que permaneça ereto;

10. Haverá pouco ou nenhum contato físico por parte da pessoa durante a tentativa de convencê-lo;

11. A pessoa não apontará seu dedo para quem está tentando convencer;

12. Observe para onde os olhos da pessoa se movem na hora da resposta de sua pergunta. Se olhar para cima e à direita, e for destra, tem grandes chances de estar mentindo.

13. Observe o tempo de demora na resposta de sua pergunta. Uma demora na resposta indica que ela está criando a desculpa e em seguida verificando se esta é coerente ou não. A pessoa que mente não consegue responder automaticamente à sua pergunta.

14. A pessoa que mente adquire uma expressão corporal mais relaxada quando você muda de assunto.

15. Se a pessoa ficar tranqüila enquanto você a acusa, então é melhor desconfiar. Dificilmente as pessoas ficam tranqüilas enquanto são acusadas por algo que sabem que são inocentes. A tendência natural do ser humano é manter um certo desespero para provar que é inocente. Por outro lado, a pessoa que mente fica quieta, evitando a todo custo falar de mais detalhes sobre a acusação;

16. Quem mente utilizará as palavras de quem o ouve para afirmar seu ponto de vista;

17. A pessoa que mente continuará acrescentando informações até se certificar de que você se convenceu com o que ela disse;

18. Ela pode ficar de costas para a parede, dando a impressão que mentalmente está pronta para se defender;

19. Em relação à história contada, o mentiroso, geralmente, deixa de mencionar aspectos negativos;

20. Um mentiroso pode estar pronto para responder as suas perguntas, mas ele mesmo não coloca nenhuma questão.

21. A pessoa que mente pode utilizar as seguintes frases para ganhar tempo, a fim de pensar numa resposta (ou como forma de mudar de assunto): "Por que eu mentiria para você?", "Para dizer a verdade...", "Para ser franco...", "De onde você tirou essa idéia?", "Por que está me perguntando uma coisa dessas?", "Poderia repetir a pergunta?", "Eu acho que este não é um bom lugar para se discutir isso", "Podemos falar mais tarde a respeito disso?", "Como se atreve a me perguntar uma coisa dessas?";

22. Ela evita responder, pedindo para você repetir a pergunta, ou então responde com outra pergunta;

23. A pessoa utiliza de humor e sarcasmo para aliviar as preocupações do interlocutor;

24. A pessoa que está mentindo pode corar, transpirar e respirar com dificuldade;

25. O corpo da pessoa mentirosa pode ficar trêmulo: as mãos podem tremer. Se a pessoa estiver escondendo as mãos, isso pode ser uma tentativa de ocultar um tremor incontrolável.

26. Observe a voz. Ela pode falhar e a pessoa pode parecer incoerente;

27. Voz fora do tom: as cordas vocais, como qualquer outro músculo, tendem a ficar enrijecidos quando a pessoa está sob pressão. Isso produzirá um som mais alto.

28. Engolir em seco: a pessoa pode começar a engolir em seco.

29. Pigarrear: Se ela estiver mentindo têm grandes chances de pigarrear enquanto fala com você. Devido à ansiedade, o muco se forma na garganta, e uma pessoa que fala em público, se estiver nervosa, pode pigarrear para limpar a garganta antes de começar a falar.

30. Já reparou que quando estamos convictos do que estamos dizendo, nossas mãos e braços gesticulam, enfatizando nosso ponto de vista e demonstrando forte convicção? A pessoa que mente não consegue fazer isso. Esteja atento.

DESMASCARANDO O MENTIROSO

Chegou a hora de usarmos um sofisticado e abrangente sistema de questionamentos que fará com que qualquer pessoa fale a verdade em apenas alguns minutos em qualquer conversa ou situação. Vou lhe armar com as melhores munições possíveis para que você vença rapidamente a batalha verbal e chegue até a verdade. Os resultados serão verdadeiramente surpreendentes. Importante: Não esqueça de observar as respostas não-verbais (inconscientes) - os sinais que você acabou de aprender - após a sua pergunta.

1. Não acuse - Insinue: O objetivo é fazer uma pergunta que não represente nenhuma acusação, mas que insinue o possível comportamento da pessoa.
Exemplo de uso:

· Suspeita: Você acha que seu (a) namorado (a) foi infiel na noite passada. Pergunta incorreta: "Você andou me traindo?"
· Pergunta correta: "Aconteceu alguma coisa diferente na noite passada?" Observe sua expressão corporal e alguma possível pista de preocupação e nervosismo com sua pergunta. Qualquer resposta do tipo: "Porque perguntou isso?" ou "Alguém te falou alguma coisa?", seguidas de um certo nervosismo, indicam forte preocupação por parte da pessoa. Ela não estaria preocupada em saber porque você está fazendo tal pergunta, a menos que pense que você pode estar sabendo o que ela não quer que você saiba.

2. Situação semelhante: Aqui você vai apresentar uma situação semelhante à que suspeita que esteja acontecendo. O bom é que vai poder falar sobre o assunto sem parecer acusatório.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Você acha que seu (a) namorado (a) está lhe traindo.
· Pergunta incorreta: "Você está me traindo com Fulana (o) de Tal?"
· Pergunta correta: "Sabe, minha (meu) amiga (o) Fulana (o) de Tal me disse que está muito desconfiada (o) do (a) seu (sua) namorado (a). Ela (e) tem quase certeza que ele (a) está cometendo uma traição. Ele (a) fica muito estranho (a) e nervoso (a) quando ela (e) fala sobre histórias de traição. O que você acha disso?" Se a pessoa for culpada, ficará preocupada, constrangida ou embaraçada e vai querer rapidamente mudar de assunto. Porém, se a pessoa achar que sua pergunta é interessante e ela for inocente, poderá iniciar uma conversa a respeito da pergunta. Esta é uma forte indicação de inocência, porque ela não tem receio de discutir o tema e não está investigando por quê você faz a pergunta.

3. Não é surpreendente?: Como no exemplo acima, aqui você vai abordar o assunto, mas de uma forma geral. Nos permitirá uma grande percepção de culpa ou inocência da pessoa.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Você desconfia que seu (sua) noivo (a) está saindo com outra (o)
· Pergunta incorreta: "Você está saindo com outra (o)?"
· Pergunta correta: "Olha que absurdo... Hoje minha (meu) amiga (o) Fulana (o) de Tal me contou que pegou seu (a) noivo (a) com outra (o). Não é impressionante como alguém consegue ser infiel e não ter receio de ser desmascarado?" Quaisquer respostas que demonstrem reações de embaraço, nervosismo ou constrangimento, seguidas de perguntas como: "Por que está me perguntado isso?", além de tentativas de mudança de assunto, demonstram grande carga de preocupação e culpa.

4. Atacando o ego da pessoa. Aqui vamos usar o ego da pessoa contra ela própria. Vamos dizer a ela que jamais seria capaz de confessar, pois está sendo 'pressionada' por outra pessoa à não dizer a verdade e que essa pessoa manda nela. Esta técnica é muito usada por policiais.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Você tem quase certeza que Fulano (a) roubou sua empresa
· Pergunta incorreta: "Vai confessar que roubou minha empresa, ou não?"
· Pergunta correta: "Acho que já sei qual é o problema: Você não me diz a verdade porque alguém manda em você. Você não tem o poder para decidir isso. Tem outra pessoa por trás disso e você não quer 'ficar mal' com ela, não é?" O mais incrível é que geralmente as pessoas acabam confessando e se sentindo orgulhosas de ter feito isso.

5. Indução: Aqui está uma poderosa técnica. Particularmente, já utilizei e obtive ótimos resultados. Elabore uma pergunta que restrinja sua resposta a algo que a pessoa pense ser positivo, de forma que ela não se importe em responder sinceramente.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Alguém viu seu (a) namorado (a) numa festa na noite passada.
· Pergunta incorreta: "Você andou fazendo festa escondido de mim?"
· Pergunta correta: "Ontem, você chegou em casa após as 24h, não foi?" Se a pessoa tiver ficado em casa, ficará livre para responder, mas se tiver, realmente saído, mesmo assim se sentirá a vontade em responder sinceramente, porque você deu a entender que já sabia e não havia problemas. O fato de a pessoa ter voltado para casa de madrugada não está em questão. O importante é que você conseguiu a resposta à verdadeira pergunta.

6. Bumerangue psicológico: Com esta técnica, você diz à pessoa que ela fez algo bom, e não mau. Assim, ela ficará, completamente livre para lhe dizer toda a verdade.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Você suspeita que fulano (a) está roubando sua empresa.
· Pergunta incorreta: "Fulano (a), você anda me roubando?"
· Pergunta correta: "Ei, Fulano (a)! Acho que podemos nos tornar sócios muito ricos! Parece que você, ultimamente, tem 'passado à perna' em mim, mas está tudo bem. Nós podemos trabalhar juntos, seu (sua) espertinho (a)! Me conte mais sobre suas incríveis técnicas... Quero aprender tudo!" Você quer aparentar que está contente por saber o que a pessoa está fazendo. Ela não terá saída e vai se abrir para você.
Outro exemplo: (Utilizado em entrevistas para emprego)
· Suspeita: Você suspeita que o candidato à vaga oferecida mentiu sobre as informações em seu currículo.
· Pergunta incorreta: "Fulano (a), você andou colocando informações falsas em seu currículo?"
· Pergunta correta: "Fulano (a), nós dois sabemos que todo mundo inventa um pouco sobre seu currículo. Pessoalmente, acho que isso demonstra coragem, porque a pessoa não tem medo de assumir novas responsabilidades. Me diga, quais partes em que você foi mais criativo no seu currículo?"

7. Paranóia: Esta técnica de sugestão é muito poderosa e pode induzir a um estado temporário de paranóia na pessoa - principalmente se várias pessoas falarem a mesma coisa.
Exemplo de uso:
· Suspeita: Você suspeita que sua (seu) colega de trabalho está roubando o material de escritório da empresa
· Pergunta incorreta: "Fulana (o), você anda roubando o material de escritório?"
· Pergunta correta: "Fulana (o), acho que todo mundo já sabe sobre o material. Já reparou que, às vezes, eles ficam encarando você?" Se ela for mesmo culpada, vai se sentir encarada por todos e logo passará a aceitar a sugestão de que todos já estão sabendo do roubo. Você poderá verificar isso na sua expressão corporal de tensão e pavor, seguida de uma atitude de desconfiança diante das pessoas. Caso ela não seja culpada, não demonstrará nenhuma atitude e apenas vai achar que você está brincando com ela.


TÉCNICAS AVANÇADAS PARA REVELAR A VERDADE: OS TRUQUES DOS PROFISSIONAIS.

As técnicas abaixo devem ser usadas caso você esteja muito desconfiado da pessoa e ela se recusa a confessar.

Céu e inferno: Esta técnica cria uma espécie de fobia na pessoa e a única saída é confessar a verdade para você. Aqui usamos as forças que moldam o comportamento humano: Dor e o Prazer nos seus limites para nos revelar a verdade.
Exemplo de uso:
Se você acha que sua colega de trabalho está roubando o material de escritório da empresa. Você falaria: "Fulana, já sei da verdade. Sei também que você já está se arrependendo de ter feito isso. Podemos resolver isso agora. Você pode me contar tudo e esquecemos isso para sempre. Ninguém mais ficará sabendo e você continuará no seu emprego. Mas, pode escolher um caminho mais doloroso: Posso ir até nosso chefe e falar para ele. Você sabe que isso seria demissão na certa, não é? Além do mais sua imagem ficaria suja. Imagina todos seus colegas comentando sobre o que você fez? Portanto, para o seu bem, me confesse agora e terminamos com isso de uma vez por todas". Se vincularmos dor intensa e insuportável à idéia de mentir e prazer imediato à idéia de falar a verdade, ela só terá uma saída: falar a verdade!

Curto circuito: Com essa técnica você cria uma confusão mental na pessoa, enquanto implanta sugestões diretamente no inconsciente. Ela ficará confusa com a frase de abertura (estão em sublinhado nos exemplos abaixo) e entrará num leve transe enquanto você lança uma frase com comandos implícitos (estão em negrito) que serão completamente absorvidos pelo seu inconsciente.
Exemplo de uso:
"Fulano (a), você pode muito bem acreditar nas coisas que pensava que sabia, e, se você quer... dizer a verdade... ou... não quer dizer a verdade...a decisão é sua. Portanto, me... diga a verdade..., agora!" Essa sentença é registrada pelo inconsciente em sua totalidade. Os comandos, "dizer a verdade", "diga a verdade" (Muito importante: o inconsciente não registra uma negativa - o 'não') e "agora" são enviados diretamente para o inconsciente, sem a pessoa - a parte consciente - se dar conta e mostrar resistência.
Outro exemplo:
Fulano (a). Eu não quero que você diga nada, a menos que, realmente, queira. E entendo que você já esqueceu o que havia pensado em querer, não é? Se estiver pensando consigo mesmo algo como... eu quero dizer à você, então simplesmente... diga ... Quando perceber que... esta é a decisão certa...você... irá me dizer a verdade... agora!
Importante:
· Antes e depois do comando - que está em negrito - você deve dar uma pausa (...)
· Ao dar o comando, aumente um pouco a voz e utilize uma tonalidade descendente.
· Gesticule com as mãos ao dizer o comando.

Você também pode usar a técnica do curto circuito, com o intuito de apenas interromper a linha de raciocínio de uma pessoa. Utilize as frases abaixo quando quiser tomar o controle de uma conversa, ou temporariamente confundir a pessoa, enquanto você reúne seus próprios pensamentos. Abaixo você tem algumas frases que desenvolvi. Não esqueça de gesticular enquanto fala. Use com moderação. Se usar várias delas seguidas, poderá provocar uma forte confusão mental na pessoa.
· Porque você ainda acredita em algo que duvidava?
· Você, realmente, ainda acredita nas coisas que pensava que sabia?
· Você duvidaria menos se acreditasse mais nas coisas que imaginava que sabia?
· Você não lembra do que havia esquecido?
· Se acreditasse mais nas coisas que falou, duvidaria menos das coisas que escutou?
· Você acredita nas coisas que já sabia?
· Como pode acreditar nas coisas que pensa que sabia?
· Essa pergunta significa que você ainda duvida das coisas que imaginava serem verdadeiras, não é?
· Você acredita mesmo, que já sabia disso?
· Porque me perguntou algo que já sabia?
· Se você já acreditava nisso, porque pensou que têm dúvidas?
· Se você não esperava que eu acreditasse numa coisa dessas, porque me contou?
· Você está concordando com uma coisa que já sabia, não é?
· Como pode concordar de algo que acreditava ser mentira, antes mesmo de aceitar a verdade?
· Quanto mais você acredita nas coisas que duvidava, mais concorda com a possibilidade de que tudo não passou de uma grande mentira?


Fonte: http://www.acidezmental.xpg.com.br/index.html

Correntes de "Virada do PSDB" invadem redes sociais. "Só se for virada em direção à porta!"

Coluna da BARBARA GANCIA na Folha de 28/8


CENTENAS DE anos atrás, ganhei de presente um exemplar adulto da raça basset hound que havia sido batizado de Montgomery.



A despeito de nome de general, Monty tinha porte atlético de papa. Pesava 49 kg, dois a mais do que minha irmã, e costumava usar o fato a seu favor nas vezes em que ela o levava para desfilar no Ibirapuera.


Era fatal. Bastava entrar no parque que o cão empacava. Na hora em que lhe dava na telha, ele cravava a barriga no asfalto e não havia jeito de fazê-lo dar mais um passo em qualquer direção.
De uns dias para cá, o candidato José Serra tem me lembrado o Montgomery. A falta de mobilidade é parelha e seu poder de reação dariam hoje ao defunto cão ares de greyhound de corrida.


Desde que Dilma começou a se consolidar nas pesquisas, tenho visto muita gente falar em "mexicanização" do país e comparando o PT ao PRI na sua vocação de "partido único". Ué? Por que isso agora? Projeto semelhante ao do PT não estava em curso abertamente com Sérgio Motta no governo FHC?


Deixe-me fazer uma pergunta, modesta datilógrafa que sou: o eleitor não vê defeitos no governo Lula porque ele é imaculado ou porque o PSDB não cumpriu com o dever que tinha de apontá-los?


Nesta eleição, o único momento em que Serra marcou território foi quando deu uma de Jair Bolsonaro para alertar contra os perigos do narcotráfico boliviano. Isto lá é comportamento que se preze de um homem público que se preparou a vida inteira para ser presidente?
O fracasso da oposição é culpa -surpresa!- da própria oposição, que não se renovou, viveu os últimos anos em guerra e não soube falar grosso contra as lorotas federais que encheram nossos ouvidos nos últimos dois mandatos.


Alô, PSDB! Contestar números, derrubar mitos, fazer o dever de casa, não era essa a única maneira de proceder? O que foi que aconteceu? O que vocês ficaram fazendo? Festa no Rio com o Luciano Huck e o Ronaldo Fenômeno? Briga de cachorro grande lá no Nordeste? Lustração de ego de banana de pijama? Onde vocês andaram nestes anos?


Alguém por acaso ouviu o Serra contestar os números dessa ilusão chamada PAC -que não atinge nem mesmo 3% do orçamento?


O PSDB vem agora lembrar que alternância de poder é importante. Não diga! Mas cadê o FHC, o Tasso e o Aécio? E o que foi mesmo que eles trouxeram de bom para a campanha do Serra? Que eu saiba, o único que fez sua parte até aqui, acanhado ou não, é o Geraldo. E nem mesmo ele agora está preservado da enxurrada que parece vir por aí.


Pois quer saber? Bem feito! Agora ficam os bacanas todos desesperados mandando corrente pelo Facebook e pelo e-mail falando em "virada" na eleição. Ora, só se for virada em direção à porta!


Esse pessoal também, vou te contar! Passa a vida preocupado com o fim de semana em Ilhabela e, de repente, acha que dá para correr atrás do prejuízo como se consciência política fosse item prêt-à-porter que se compra no shopping Iguatemi. Mal sabe que a eleição já era e seu partido também.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Como a mídia destila o seu veneno - Diferentes maneiras de contar a mesma estória


Como seria divulgado pela imprensa nacional a velha história de Chapeuzinho Vermelho

JORNAL NACIONAL
(William Bonner): 'Boa noite. Uma menina chegou a ser devorada por um lobo na noite de ontem....'.
(Fátima Bernardes): '... mas a atuação de um caçador evitou uma tragédia'.

PROGRAMA DA HEBE
'... que gracinha, gente. Vocês não vão acreditar, mas essa menina linda aqui foi retirada viva da barriga de um lobo, não é mesmo?'

CIDADE ALERTA
(Datena): '... onde é que a gente vai parar, cadê as autoridades? Cadê as autoridades? ! A menina ia para a casa da avozinha a pé! Não tem transporte público! Não tem transporte público! E foi devorada viva... Um lobo, um lobo safado. Põe na tela!! Porque eu falo mesmo, não tenho medo de lobo, não tenho medo de lobo, não.'

REVISTA VEJA
Lula sabia das intenções do lobo.

REVISTA CLÁUDIA
Como chegar à casa da vovozinha sem se deixar enganar pelos lobos no caminho.

REVISTA NOVA
Dez maneiras de levar um lobo à loucura na cama.

FOLHA DE S. PAULO
Legenda da foto: 'Chapeuzinho, à direita, aperta a mão de seu salvador '.
Na matéria, box com um zoólogo explicando os hábitos alimentares dos lobos e um imenso infográfico mostrando como Chapeuzinho foi devorada e depois salva pelo lenhador.

O ESTADO DE S. PAULO
Lobo que devorou Chapeuzinho seria filiado ao PT.

O GLOBO
Petrobrás apóia ONG do lenhador ligado ao PT que matou um lobo pra salvar menor de idade carente.

ZERO HORA
Avó de Chapeuzinho nasceu no RS.

AQUI
Sangue e tragédia na casa da vovó.

REVISTA CARAS
(Ensaio fotográfico com Chapeuzinho na semana seguinte). Na banheira de hidromassagem, Chapeuzinho fala a CARAS: 'Até ser devorada, eu não dava valor para muitas coisas da vida. Hoje sou outra pessoa.'

PLAYBOY
(Ensaio fotográfico no mês seguinte) Veja o que só o lobo viu.

REVISTA ISTO É
Gravações revelam que lobo foi assessor de político influente.

G MAGAZINE
(Ensaio fotográfico com lenhador). Lenhador mostra o machado.

SUPER INTERESSANTE
Lobo mau! Mito ou verdade?

DISCOVERY CHANNEL
Vamos determinar se é possível uma pessoa ser engolida viva e sobreviver.

Colaboração Ronaldo Flor

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Já esqueci a Copa



Depois de ver o ataque do Santos integrado ao selecionado brasileiro só posso dizer uma coisa: Dunga BURRO! Dunga BURRO!

terça-feira, 10 de agosto de 2010

O dia em que William Bonner escorregou

Por luisnassif, seg, 09/08/2010 - 21:18

A entrevista de Dilma Rousseff ao Jornal Nacional foi laboratório amplo de como o jornalismo pode utilizar estereótipos vazios em uma campanha eleitoral.

Não se vá exigir de William Bonner e Fátima Bernardes – dois ótimos apresentadores – conhecimento que vá além dos bordões das televisões. Quem detém mais conhecimento são comentaristas, especialmente os que passaram pela imprensa escrita, antes de chegarem à TV.

TV aberta não privilegia conteúdo. Trabalha sempre em cima do bordão, em geral repetitivo para poder alcançar a faixa mais ampla de público. Como tal, há um nivelamento por baixo. A arte na TV aberta consiste no apresentador falar uma banalidade em tom grave e convincente.

Mais que isso, em emissoras partidárias – como é o caso da Globo – cria-se um mundo à parte, força-se a reportagem sempre em uma mão única. E aí sucumbem vítima de um problema bastante estudado na sociologia da comunicação: acreditam que o mundo real é aquele espelhado em suas reportagens; e, como não há o contraditório interno, acredita-se na eficácia de bordões que, na verdade, só são eficientes quando não existe alguém do outro lado para rebater.

Entrevistas têm esse grave inconveniente do entrevistador ser obrigado a dar a palavra ao entrevistado. Tudo fica mais difícil.

Na entrevista, Bonner se limitou a perguntar da dependência de Dilma em relação à Lula, sobre o fato de ela ser mulher dura, pouco propensa a negociar politicamente; e, depois, na mesmíssima entrevista, do fato de sua chapa ser vítima do excesso de negociação, ao abrigar parlamentares e partidos polêmicos. Enfim, um samba do polemizador polifásico – aquele que junta um monte de bordões e não se dá conta de que não guardam coerência sequer entre si. Acusada por não saber negociar; acusada por negociar em excesso.

A consequência foi Dilma rebatendo com facilidade cada bobagem dita, reforçando o discurso social, mas sem avançar em uma proposta sequer de programa, explicando a lógica das alianças políticas. E William Bonner interrompendo-a a toda hora, impedindo sequer uma resposta completa. Algo tão desastrado e mal educado que obrigou Fátima Bernardes, do alto de sua elegância, a calá-lo com um sinal, para que parasse de ser inconveniente.


segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Corra que a TV Cultura está no fim


Estão acabando com a TV cultura. Eu tenho sorte de ter acesso à TV a cabo, mas quem pode oferecer aos filhos apenas a TV aberta está prestes a enfrentar a Xuxa e a Marisa, no SBesTera. Além da excelente programação infantil a Cultura oferece ainda uma ótima programação cultural, esta ilha de qualidade, ao que tudo indica está com os dias contados.


Governo de SP não tem projeto para a TV Cultura, afirma presidente do Sindicato dos Jornalistas


O Sindicato dos Jornalistas do Estado de São Paulo quer se reunir com profissionais da TV Cultura para discutir as ameaças feitas pelo presidente da Fundação Padre Anchieta, João Sayad. Para esta segunda-feira (09/08) estão previstas assembleias de radialistas e jornalistas na frente da sede da emissora na Água Branca. Na quinta-feira, de manhã, os sindicalistas têm audiência com Sayad.

O Sindicato lançou uma Carta Compromisso em defesa da TV Cultura para todos os candidatos ao governo de São Paulo e pretende fazer um ato aberto e público nos próximos dias.

A TV Cultura tem hoje um orçamento de cerca R$ 230 milhões. Desse total, R$ 50 milhões vêm da venda de espaço nos intervalos dos programas para anunciantes privados. Outros R$ 60 milhões são oriundos da prestação de serviços, como é chamada na emissora a produção de programas e vídeos para instituições como o Tribunal Superior Eleitoral, a Procuradoria da República, a TV Assembleia (do Estado de S.Paulo) e a TV Justiça.

A gestão de Sayad já iniciou o desmonte dessas duas fontes de recursos. Até o ano que vem, a TV Cultura não terá mais nenhuma publicidade comercial em seus intervalos nem produzirá mais programação para órgãos públicos. Dessa forma, reduzirá uma boa parte do seu número de funcionários.

Se o plano for executado, a TV Cultura sobreviverá apenas dos R$ 70milhões que o governo do Estado aporta diretamente todos os anos, além de outros R$ 50 milhões que ela que recebe pela produção de conteúdo para as secretarias estadual e municipal de Educação.

Remédio errado

Segundo o presidente do Sindicato dos Jornalistas, José Augusto de Oliveira Camargo, o Guto, tudo isto está acontecendo porque o Governo de São Paulo não tem projeto, nem sabe o que fazer com a TV Cultura. “A situação da emissora oscila conforme a vontade do governo, abandonada à própria sorte”, afirmou Guto.

Ele lembrou que a TV Cultura já passou por várias fases, disputando espaço com as grandes emissoras, devido à alta qualidade da programação infantil, mas já passou por investimento em programas mais populares para manter audiência. “Se algo está ruim na TV Cultura, como o Sayad disse, é por obra e graça deles mesmos, não pela idéia de TV pública ou pela competência dos trabalhadores da emissora”, declarou.

Para Guto, o remédio para eventuais dificuldades da emissora não é desmonta-la, mas apostar e construir seu caráter público e alternativo às grandes emissoras, em vez de disputar audiência com elas. “A solução é buscar excelência e um diferencial na programação, em vez de desistir dela”, propôs Guto.

sábado, 7 de agosto de 2010

Entrevista de Lula a Istoé


A edição que circula hoje, 7/8, da revista Istoé publica uma entrevista imperdível com o presidente Lula. Em um papo franco, sincero e muito revelador ele fala do seu governo e de sucessão. Mesmo quem não goste dele ou não se interessa por política, partidos ou presidentes deve ler. É sempre bom estar atualizado antes de formar opinião.


"Ninguém vai destruir minha relação com a sociedade"

Carlos José Marques, Delmo Moreira, Mário Simas Filho e Octávio Costa


ENCONTRO COM EDITORES

“Fico feliz em saber que ninguém quer fazer campanha falando mal de mim”

Antes de iniciar a conversa com ISTOÉ, o presidente Lula mostrou que estava disposto a dar uma entrevista reveladora. “Vamos combinar o seguinte: podem fazer qualquer pergunta, por mais inconveniente que pareça”, disse ele ao ocupar a cabeceira da comprida mesa de reuniões no seu gabinete improvisado no Centro Cultural Banco do Brasil. “Vamos adotar o seguinte: é probido proibir”, afirmou.

E assim foi. Animado, coloquial e bem-humorado, Lula falou por quase duas horas com a equipe de ISTOÉ, sem recusar nenhum tema proposto. Em dois momentos mostrou um especial estado de espírito. Primeiro um largo sorriso quando recebeu de um assessor, durante a entrevista, os dados da última pesquisa Sensus/Ibope que dava 10% de vantagem à sua candidata Dilma Rousseff sobre o oposicionista José Serra. Pouco depois, o presidente ficaria com o olhos marejados quando falava dos principais legados que julga deixar para o País: “Hoje os pobres sabem que podem chegar lá.”

ISTOÉ – O sr. deixa o Planalto como o presidente mais popular da história do País. Como pensa em administrar esse patrimônio depois de sair do governo?
Luiz Inácio Lula da Silva – O meu medo é tomar uma atitude precipitada sobre o que eu vou fazer. Montar alguma coisa e depois de seis meses descobrir que não era aquilo. Então, eu acho que alguém que deixa o mandato, como vou deixar, numa situação graças a Deus muito confortável, tem que dar um tempo de maturação. Preciso de um tempo, quem sabe quatro, cinco, seis meses. Tem que deixar a Dilma construir um governo que seja a cara dela, do jeito dela, e eu ficarei no meu canto, curtindo o fato de ser um ex-presidente da República.

ISTOÉ – Isso é possível, presidente?
Lula – O Felipe González (ex-primeiro-ministro da Espanha) contou-me uma história que eu faço questão de repetir. Ex-presidente é que nem aquele vaso chinês que você ganha de presente. Você não sabe onde colocar o ex-presidente. Ele passa a ser incômodo se não se tocar que é um ex-presidente. Essa é a parte mais séria da história. Quero dar um tempo maior. O que eu pretendo fazer? O acúmulo de acertos nas políticas sociais que nós tivemos no Brasil precisa ser socializado. Eu quero socializar essas políticas com os países da América do Sul, do Caribe, com os países africanos. Eu já tenho muitos convites de países africanos para ir lá e mostrar a ideia e o que nós fizemos. Mas é para ir lá com tempo, para ir a campo.

ISTOÉ – O sr. fará as caravanas internacionais, então?
Lula – Eu não sei se serão as caravanas como as que eu fazia aqui no Brasil. Mas pretendo construir uma equipe de companheiros que acumularam oito anos de experiência no governo e 30 anos de experiência enquanto oposição, para que a gente tente colocar em prática, junto aos governantes dos países mais pobres, as condições de eles terem uma política de desenvolvimento social.

ISTOÉ – É preciso ter um cargo para isso, como o de presidente do Banco Mundial?
Lula – Não. É só a vontade política.

ISTOÉ – Mas vários governantes falam de seu nome para ocupar um organismo internacional multilateral. O que o sr. acha disso?
Lula – Tenho companheiros que falam, olha Lula você vai para a ONU. Eu tenho uma ideia diferente. Acho que a ONU é uma instituição que tem que ser dirigida por um burocrata, que tenha a consciência de que ela é subordinada aos presidentes dos países. Porque se você coloca alguém lá, que, por coincidência, tenha mais força que alguns presidentes, haverá, no mínimo, uma anomalia. Você fica com uma instituição criada para servir os países com gente mandando mais. Imagine se a moda pega e os ex-presidentes americanos resolvem ser secretário-geral da ONU.

“Quando Dilma veio para a Casa Civil percebi que eu estava
diante de um animal político não trabalhado”

“Devo muito do sucesso do meu governo ao Palocci. Talvez pela qualidade
de médico, de não sentir a dor que sente o paciente, ele manejava a economia com
a maestria que um economista não teria”

ISTOÉ – Mas o sr. recusaria um convite nessa direção?
Lula – Eu recusaria. Recusaria essa coisa de Banco Mundial. Eu tenho consciência do seguinte: tenho 64 anos e quando deixar a Presidência vou ter 65 anos, logo ainda tenho uma contribuição política para dar ao País. Eu sonho com a construção de uma frente ampla no Brasil. Juntar as forças políticas aqui, construir um programa comum, fazer a reforma partidária, que acho que é uma condição sine qua non para a gente poder mudar em definitivo o Brasil. Temos que fazer a reforma partidária. Isso não é coisa de presidente da República. Isso é coisa dos partidos políticos. E eu, de fora, pretendo ajudar o meu partido a organizar os outros partidos em torno da ideia da reforma política.

ISTOÉ – O projeto de um instituto para irradiar essas ideias também está em curso?
Lula – Também está em conta. Mas agora estou com a minha cabeça voltada para o seguinte: tenho mais cinco meses de governo. Tem muita coisa para acontecer, e sabe do que eu tenho medo? Eu sou muito amante do futebol e o que eu jamais faria como técnico é marcar um gol, correr para a retranca e ficar esperando o adversário vir para cima de mim. Então, tenho muito trabalho pela frente. Quero trabalhar até o dia 31 de dezembro. Tenho agenda até o dia 29 de dezembro, tenho agenda no dia 28 de dezembro, eu quero ter agenda até o último dia de trabalho. No dia que eu entregar a faixa para quem for eleito presidente da República, aí sim…

ISTOÉ – Presidente, pelas pesquisas atuais, há uma grande chance de o sr. entregar a faixa para a ex-ministra Dilma Rousseff. A que o sr. atribui o êxito de Dilma? Foi graças ao empenho do sr.? É o perfil dela?
Lula – Acho que há um conjunto de valores. Primeiro, é preciso ter muita humildade para pedir para o povo votar na Dilma. Um voto é um direito livre e soberano de cada cidadão, mas, como eu passei por aqui oito anos e sei como funciona isso, sinto-me na obrigação de dizer ao povo quem eu entendo que poderia dar continuidade àquilo que nós estamos fazendo. Esta é a primeira coisa com que nós temos que ter todo o cuidado. A segunda coisa é a seguinte: um governo que tem 76% de bom e ótimo nos últimos cinco meses de mandato, um presidente da República que tem 86% de bom e ótimo e se colocar regular vai a 98%, 97% em alguns Estados, é um governo com forte possibilidade de fazer a sucessão. Tem uma aliança política muito forte. Tem muitos candidatos a governador apoiando a ministra Dilma. Ela está muito bem preparada, não tem hoje no Brasil ninguém mais preparado do que a Dilma, do ponto de vista de ter o Brasil na cabeça.

ISTOÉ – Mas o sr. construiu sua candidata do zero, não é, presidente?
Lula – É por isso que nós preparamos o PAC 2. Porque eu poderia deixar para ela preparar em janeiro. Mas o que eu quis na verdade foi, primeiro, definir as obras prioritárias para o Brasil com os governadores e os prefeitos, colocar dinheiro tanto no orçamento quanto na LDO. Então quem começar a governar não vai ter que encher a bola. A bola vai estar cheia e o cara vai começar jogando. Eu acho que a Dilma está extremamente preparada e madura politicamente. Acho que a vantagem da Dilma é que ela não tinha pretensão. Acho que jamais passou pela cabeça da Dilma que ela seria escolhida candidata a presidente da República

ISTOÉ – E na cabeça do sr. qual foi o primeiro momento?
Lula – O primeiro momento que me veio na cabeça foi quando eu, na Favela da Rocinha, no Rio, disse que ela era a mãe do PAC. Ali, na verdade, eu estava começando a preparar.

ISTOÉ – O sr. chegou já chegou lá com a ideia de fazer essa declaração?
Lula – Foi na hora, em função do clima, que eu falei. E foi importante naquele momento.

ISTOÉ – Muita gente pensava que sua candidata seria a Marina Silva, que, pelo histórico, era considerada o Lula de saias. Por que a Marina Silva não foi a sua escolha?
Lula – Quando a gente vai escolher alguém para ser presidente da República, essa pessoa tem que ter um acúmulo de qualidades, e não apenas um pouco de qualidades. A Marina é minha companheira de 30 anos. Vocês jamais ouvirão da minha boca uma palavra ou uma vírgula que possa falar mal da Marina. Um ano antes de deixar o governo, a Marina pediu demissão. Eu não aceitei a demissão dela por conta da Dilma Rousseff. A Dilma e o Gilberto Carvalho me pediram para convencê-la a ficar. Ela ficou mais um ano, até que quis sair. Até hoje não me explicou por que saiu do PT e eu não fui tomar satisfação do motivo por que ela saiu.

“De vez em quando adoto uma máxima do Chico Buarque:
tem que ouvir o ministério do que vai dar merda”

“O parlamentarismo não dará certo, como não dará
certo uma cooperativa se você criá-la de cima para baixo”

“É muito melhor para o candidato se ele tiver um presidente
do qual não tenha vergonha de dizer que é apoiado por
ele, como o Al Gore fez com o Bill Clinton”

ISTOÉ – Antes da Dilma, o sr. chegou a pensar em outros nomes? No seu primeiro mandato havia Palocci, José Dirceu…
Lula – Obviamente, se não tivesse acontecido com o PT o que aconteceu em 2005, o quadro político poderia ser outro. Mas a Dilma, então, veio para a Casa Civil. E eu já contei que a Dilma foi escolhida ministra de Minas e Energia por conta de uma reunião que eu estava fazendo em São Paulo, preparando 2002. Quando ela chegou, depois de uma hora de reunião, eu falei: é a minha ministra. Tanto é que o Zé Dirceu já tinha feito acordo com o PMDB para ter o Ministério de Minas e Energia e eu disse: “Desfaça tudo porque eu já tenho a ministra.” E ela foi de uma competência exuberante na construção do marco regulatório do modelo de energia elétrica do Brasil. Quando ela veio para a Casa Civil começamos a trabalhar juntos, a nos reunir cotidianamente, a discutir as reuniões. Aí eu percebi que estava diante de um animal político não trabalhado. De um animal político que foi educado a vida inteira para ser técnica. E eu comecei a falar: bom, agora nós temos que descobrir o lado político de Dilma.

ISTOÉ – E como o sr. fez?
Lula – Fui colocando a Dilma em várias reuniões das quais, teoricamente, ela não precisaria participar. Comecei a levá-la para viajar comigo para que começasse a ver o mundo de uma concepção mais política. Eu acho que hoje ela é uma figura extraordinariamente preparada. Lógico que na política você está sempre se preparando. Às vezes, as pessoas ficam comparando a Dilma comigo. Mas não é possível, porque eu venho de um mundo diferente. Comecei diferente. E tenho um acúmulo diferente.

ISTOÉ – Mas a geração é a mesma…
Lula – É a mesma, mas traçamos caminhos diferentes. Eu acho que o que é importante é que ela é hoje uma mulher sem ressentimentos, sem mágoa. Eu conto sempre o dia em que eu desci com Dilma de helicóptero no Quartel do 2º Exército em São Paulo. Quando o helicóptero parou, ela ficou olhando, olhando e disse: “Foi aqui que eu fui trazida quando fui presa.” E depois me disse: “Engraçado, não estou ressentida.” Descemos lá, fomos tomar café, cumprimentamos todo mundo. Eu achei isso um gesto de superação, o que é importante para alguém governar esse país. Quando chega ao cargo de presidente da República, ninguém tem o direito de ter mágoa, rancor, ressentimento, de dizer eu não gosto de fulano. Não tem esse direito.

ISTOÉ – Um dos ministros mais importantes para o sr. foi o Palocci, que agora está na campanha de Dilma. Como o sr. vê o papel dele num eventual futuro governo Dilma?
Lula – Esse é um problema do futuro governo. Mas eu vou dizer o que penso do Palocci. Acho que no Brasil nós temos, se é que temos, raríssimas pessoas com a inteligência política do Palocci. Digo sempre que eu credito uma parte do sucesso do meu governo aos primeiros dois anos, quando nós tivemos que comer carvão em vez de filé mignon. Quando tivemos que trocar todo o capital político que eu tinha por uma política fiscal dura. Assim, a gente pôde chegar aonde chegou. Possivelmente, se não fosse o Palocci, nós não teríamos feito isso. Talvez pela qualidade de médico, de não sentir a dor que sente o paciente, ele manejava a economia com uma maestria que possivelmente um economista não manejasse. Eu devo muito do sucesso do meu governo ao Palocci. Ele é um animal político que certamente dará contribuições enormes a esse país. Ele é muito jovem e acho que ainda tem muita contribuição para dar.

ISTOÉ – A Dilma não era uma escolha clara do PT, mas o sr. fez valer sua vontade. O sr. acha que ficou maior do que o PT?
Lula – É humanamente impossível fazer qualquer teste de DNA no PT e não me encontrar lá dentro. Da mesma forma é muito difícil fazer um DNA em mim e não encontrar o PT aqui dentro. O fato de eu ter sido presidente me transformou numa figura infinitamente mais projetada do que o PT. Mas isso não significa que eu seja maior do que o PT. É um partido muito organizado no Brasil inteiro, que tem muita força. Agora, acho que nós temos condições de construir uma coisa mais forte. Eu tenho dito a alguns companheiros que não é uma tarefa fácil, mas eu gostaria de criar, dentro de um processo de reforma política, uma frente ampla de partidos que pudesse construir um programa para o Brasil, mais forte do que um partido. Pode ter gente de todos os partidos, pode ter a maioria dos partidos.

ISTOÉ – Isto seria o fim do PT?
Lula – Não. É uma espécie de seleção brasileira. O Corinthians não deixa de ser Corinthians porque o Mano Menezes convocou o Jucilei. E nenhum time deixa de ser porque teve craques convocados. É uma coisa maior para construir um arco de alianças maior.

ISTOÉ – Esse grupo poderia ter o PSDB?
Lula – Eu acho que acabou o tempo da ilusão em que a gente poderia trabalhar junto com o PSDB. Eu acreditei nisso. E muita gente do PT acreditou nisso.

ISTOÉ – O sr. acha que o PSDB foi para a direita?
Lula – Acho que eles escolheram outro projeto. Vocês estão lembrados que, logo que o Fernando Henrique Cardoso assumiu a Presidência, ele juntou gente que na época se comportava como de esquerda, como o PPS. Aquelas pessoas achavam que iriam ter uma participação no governo. Qual foi o problema? Foi a reeleição, que conduziu para uma relação promíscua com o Congresso Nacional e a coisa desandou um pouco. Essas coisas são muito fáceis de falar, mas é muito difícil fazer, porque para construir uma frente ampla é preciso construir uma direção partidária, que as pessoas respeitem, que vejam nela uma liderança. De qualquer forma, como vou ter tempo, essa questão política vai voltar com muita força na minha cabeça. Acho que nós temos que fazer um reforma para moralizar a política no Brasil, fortalecer os partidos políticos, para moralizar a fidelidade partidária, para parar com esse negócio de judicializar a política como ela está judicializada. Isso se faz com o debate político. E eu quero estar vivo no debate político.

“Tem rico que vem aqui, te pede um bilhão de reais e sai falando mal de
você. O pobre te pede dez reais e fica agradecido pelo resto da vida”

“O que leva um homem a ter preconceito contra um ser humano que o
carregou na barriga nove meses? Que o limpou enquanto ele não sabia se limpar?
Vamos ser francos: o nosso caráter é o da nossa mãe”

ISTOÉ – Como sua imagem, que nem os adversários atacam nesta campanha, pode ser usada sem ofuscar a candidata? Qual é a dosagem certa?
Lula – Fico feliz em saber que ninguém quer fazer campanha falando mal de mim. É uma coisa boa, é agradável. Mas eu tenho um lado, um partido e um candidato. E isso eu faço questão de deixar público durante o processo eleitoral. Uma coisa a gente tem que compreender: eu cito muito futebol porque futebol é a coisa mais fácil do povo entender. Não existe a possibilidade de o Lula ofuscar a grandeza da candidata, porque vai chegando o momento em que o clima na sociedade, na imprensa, no debate, é da candidata, não é do presidente. A sociedade vai percebendo isso. É muito melhor para a candidata se ela tiver um presidente que ela não tenha que ter vergonha de dizer que é apoiada por ele, como o Al Gore fez com o Bill Clinton.

ISTOÉ – O PT não terá mais influência num governo de Dilma do que teve no seu?
Lula – Quem fala isso não conhece a Dilma. Ela é uma mulher de personalidade muito forte. O PT está na direção da campanha da Dilma, como estava na direção da minha.

ISTOÉ – Mesmo o relacionamento do sr. com o PT foi mudando…
Lula – A minha relação com o PT era diferente porque eu fui o criador do PT. Fui 13 anos presidente do PT. A minha relação com o partido sempre foi diferente da relação da Dilma, que é uma filiada. A direção do PT hoje está totalmente afinada com a candidata e a candidata totalmente afinada com a direção.

ISTOÉ – E aquele episódio do programa de governo diferente, apresentado pelo PT?
Lula – Vocês não podem errar e confundir uma tese com o programa. Quando se constrói um programa suprapartidário, cada partido constrói uma palavra, uma vírgula. Enquanto não há operação definitiva que diga “está pronto o programa”, não é programa, é pré-programa. E no pré-programa entra qualquer coisa. O programa não é do PT nem pode ser. O programa tem que ser uma síntese do pensamento dos partidos que compõem a base de apoio da ministra Dilma. É com isso que ela vai governar o País. E ela e o partido têm clareza disso.

ISTOÉ – O sr. acha que ela conseguirá ter ascendência política sobre o partido?
Lula – Vai ter. Deus queira que ela não tenha muita ascendência, porque não é importante que a candidata passe a ser muito mais forte, porque pode querer desrespeitar o partido. Eu quero que ela passe a ter uma relação com o partido de liderança, de respeito, que não tenham medo dela. Eu quero que os dois se respeitem. Se os dois se respeitarem, eles vão divergir, vão brigar, mas vão construir o melhor.

ISTOÉ – Como o sr. vê a relação com o PMDB, tradicionalmente fisiológico, que exige ministérios e muitos cargos no governo?
Lula – Eu não acho que seja assim. Nós temos que levar em conta que o PMDB é um partido forte. E que continuará sendo. É um partido que tem muitos vereadores, muitos prefeitos, muitos deputados, muitos senadores. Sempre, qualquer que seja o governo, de ultraesquerda ou de ultradireita, será preciso trabalhar com o PMDB. Quando nós fizemos a Constituição de 1988, esse foi um equívoco. Nós construímos uma carta parlamentarista. Fizemos um plebiscito e o parlamentarismo tomou uma trolha de 80%. Só para vocês saberem, a direção do PT, da qual eu fazia parte, era parlamentarista. Mas eu ia para o debate e o pessoal falava assim para mim: “Ô Lula! Você é tonto, rapaz! Agora que está chegando a hora de a gente chegar ao poder você quer transferir poder para o Congresso te eleger? Não vão te eleger nunca.” Nós perdemos internamente no PT. A direção tomou uma surra. Acho que mais de 70% ficaram contra a direção.

ISTOÉ – O sr. continua parlamentarista?
Lula – Eu acho que tudo está ligado à evolução cultural da sociedade. O parlamentarismo não dará certo, como não dará certo uma cooperativa, se você criá-lo de cima para baixo. Eu, por exemplo, trabalhava com a ideia de que era favorável ao voto distrital. Como eu imaginei organizar o PT por núcleos, em cada rua, em cada vila, pensava numa organização tão forte que não haveria dinheiro no mundo capaz de ganhar uma eleição de você. Eu sonhava isso. Você teria como candidatos as grande personalidades e as lideranças sociais. Mas muita gente no PT não acreditava nisso. Defendiam que tem que se pedir voto para todo mundo. Mas essa história favorece quem? Quem tem dinheiro. Eu conheci deputado que pegava helicóptero e viajava para o interior para passar a tarde carregando gente. Parava em campo de futebol, colocava o sujeito dentro do helicóptero e dava uma volta. Ganhava o voto do tadinho que nunca andou de helicóptero. Mas também esse processo de mudança não pode ser um estupro. Ter a maioria e empurrar na garganta da minoria, não. O problema é que não há muito debate.

TOÉ – O sr. espera que sua ideia de frente ampla mude o modo de fazer política no País?
Lula – Eu quero ter esse papel aqui dentro. Também tenho discutido muito em nível internacional. Muita gente já conversou comigo para que eu tivesse um papel na Internacional Socialista. Mas acho que a Internacional Socialista tem a cara da Europa, não tem a cara da América Latina. Eu seria um estranho no ninho. Mas eu quero também contribuir para que a gente discuta um pouco uma organização política aqui na América Latina.

“Hoje agradeço por todos os santos o segundo turno
com o Alckmin, porque eu pude lavar a minha alma”

“Quando você tem um político cretino, ele não quer que
seu aliado ganhe, mas, sim, que o adversário ganhe”

“Eu quero estar vivo no debate político”

ISTOÉ – Nos mesmos termos?
Lula – Eu não sei ainda. Mudou a cara política da América Latina, mas os partidos continuam os mesmos. As forças são as mesmas. A gente não evoluiu na organização internacional. O que é o partido do Chávez? Ou os partidos políticos na Argentina? Lá tem um monte de partidos políticos, mas todos são peronistas. O Uruguai tem o partido mais organizadinho, com a Frente Ampla. No Paraguai, o presidente foi eleito por fora dos dois maiores partidos. É juntar essa coisa toda e começar a elaborar possivelmente uma nova doutrina da criação de uma instituição política que pense em uniformizar determinados princípios na América Latina. Sem o dogmatismo do manifesto, que não venha com aquele negócio da terceira, quarta internacional, não quero mais saber disso.

ISTOÉ – Há um temor no meio empresarial de um futuro governo da Dilma ser mais estatizante que o seu.
Lula – Não há essa hipótese. Eu conheço bem a Dilma e sei o que ela pensa. Obviamente que nós não queremos ser estatizantes, mas também não vamos carregar a pecha que nos imputaram nos anos 80, quando se dizia que o Estado não valia nada e que o mercado era o Deus todo-poderoso. Essa crise americana mostrou que o mercado é frágil, é corrupto e que quem tinha o Estado mais forte salvou-se primeiro. No caso do Brasil, se não tivéssemos o Banco do Brasil, como é que a gente iria comprar a carteira de financiamento de carro usado do Votorantim? Eu cheguei para o Banco do Brasil e para o companheiro Guido Mantega (ministro da Fazenda) e disse: “Companheiros, nós não podemos deixar quebrar as finanças de carro usado, porque se não vender carro usado não tem compra de carro novo.” Eu perguntei para o Dida (presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine): “Como o Banco do Brasil está? Pode financiar carro usado?” “Ah! Nós não temos expertise, presidente.” Eu perguntei, o que a gente faz então? “A gente tem que formar.” Que formar, o quê! Não temos tempo de formar, a crise está aqui, batendo à porta. Vamos comprar de quem tem. O Votorantim tem, quer vender? Então compramos 50% da expertise do Votorantim. Acabou o problema. O Serra queria vender a Caixa Econômica Estadual. Começaram a falar para mim: “Você não pode comprar, porque o Serra é candidato, é adversário, o Serra vai juntar muito dinheiro para a campanha.” Eu disse: vocês são doidos! Acham que, por causa da campanha do Serra, vou deixar de comprar um banco que permitirá que o Banco do Brasil volte a ser o maior do País? Quem vai fiscalizar o dinheiro do Serra é a Justiça Eleitoral, não serei eu. Nós vamos comprar. E compramos.

“Acabou o tempo da ilusão de que a gente poderia trabalhar junto com o PSDB”

“O fato de eu ter sido presidente me transformou numa figura infinitamente
mais projetada do que o PT. Mas isso não significa que eu seja maior que o PT”

“Quem chega ao cargo de presidente não tem o direito
de ter mágoa, rancor, de dizer que não gosta de fulano”

ISTOÉ – O sr. considera que estes foram dois grandes momentos no enfrentamento da crise?
Lula – Quando a gente chega aqui é menos teoria e mais prática. Quando a gente está na oposição, está discutindo. Você fica numa mesa de bar conversando e diz: eu penso isso, eu penso aquilo. Quando senta naquela cadeira de presidente, você não acha, você não pensa, você não acredita. Você faz ou não faz. E tem que tomar decisão na hora. Não tem que se preocupar com a repercussão. Eu, de vez em quando, adoto uma máxima do Chico Buarque: tem que ouvir o ministério do que vai dar merda. Aprendi antes de tomar a decisão a chamar outras pessoas para perguntar: isso aqui vai dar merda ou não? Governar é uma coisa engraçada. Uma vez o Gilberto Gil propôs a criação da Ancinave. Era uma proposta. De repente a gente estava tomando porrada de todos os lados. Eu reuni numa mesa todos os ministros envolvidos naquilo: Justiça, Fazenda, Indústria e Comércio, Cultura, Secom e mais uns três ou quatro. Disse que nós estávamos apanhando muito na imprensa e que eu precisava saber se todos nós estávamos de acordo com a proposta na mesa. Foi fantástico. Nenhum ministro concordava com a proposta. Porque era uma proposta para debate e surgiu como se fosse uma proposta acabada do governo. Então eu falei: “Alguém tem que comunicar à imprensa que está retirada a proposta. Se ninguém defende a proposta, por que vai continuar?” No governo ou você toma a decisão rapidamente ou é engolido rapidamente.

ISTOÉ – O Brasil, apesar dos preconceitos machistas, está pronto para ser presidido por uma mulher?
Lula – O preconceito é uma coisa cultural muito forte no mundo e no Brasil. Mas a ascensão das mulheres nos últimos 20 anos é uma coisa extraordinária. Fui num debate com empresários no Paraná na sexta-feira passada e eu dizia a eles: o que leva um homem a ter preconceito contra um ser humano que o carregou na barriga nove meses? Que o limpou enquanto ele não sabia se limpar? Que o ensinou a comer quando ele não sabia comer? Que formou o seu caráter e que continuou cuidando dele até ele se casar? E só parou quando a sogra começou a se invocar? Qual é a razão que a gente tem para não acreditar num ser que fez a gente? Vamos ser francos: o nosso caráter é o da nossa mãe. A gente pode adorar o pai da gente, mas na hora, que a gente caiu quem estava do nosso lado era nossa mãe. Na hora que a gente tinha dor de barriga quem estava conosco era nossa mãe. Na hora que a gente acordava de noite chorando quem estava do nosso lado era nossa mãe. Quem levantava para trocar nossa fralda de noite era nossa mãe. Quem colocava mamadeira na nossa boca de manhã era nossa mãe. Quem dava o peito para a gente machucar era nossa mãe. Por que nós temos preconceito contra essa figura tão nobre? Eu tenho dito para a Dilma que ela tem que dizer: “Eu não vou governar o Brasil. Eu vou cuidar do povo brasileiro.” Porque a palavra correta é cuidar. E cuidar da parte mais pobre. Tem rico que vem aqui, te pede um bilhão de reais e sai falando mal de você. O pobre te pede dez reais e fica agradecido pelo resto da vida. Então, nós temos que cuidar do povo. Esse país não pode continuar com o povo esquecido. Eu acho que nós vamos vencer o preconceito.

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ISTOÉ – Acha que foram superados preconceitos que havia contra o sr.?
Lula – Eu fui vítima de muito preconceito. Nas primeiras eleições que perdi, eu perdi porque o pobre não confiava em mim. E eu não tinha mágoa do pobre por isso. Mas ele me via e dizia: se esse cara é igual a mim, por que eu vou votar nele? Era isso que levava o pobre a desconfiar de mim. Eu precisei perder três eleições, amadureci muito, e a sociedade foi amadurecendo até compreender que poderia votar em mim. Hoje, eu acho que o grande legado que vai ficar da minha passagem pela Presidência são os pobres desse país estarem acreditando que eles podem chegar lá. É isso que eu quero fazer com a mulher. A mulher não é apenas a maioria numérica. Em muitas funções, a mulher é igual ou mais competente do que os homens. Todos vocês são casados e suas mulheres são mais corajosas do que vocês. E a minha também. As nossas mulheres têm coragem de fazer brigas que nós não fazemos. Às vezes, o vizinho enche o saco e nós dizemos que vamos conversar. E a mulher diz: “Não tem essa não.” Ela abre a porta e vai lá. Eu acho isso uma coisa estupenda. A coragem da Marisa para tomar decisão é infinitamente maior do que a minha. Com ela, eu tenho que contemporizar. Não, não vamos brigar agora. E ela diz que tem que resolver já, não tem meio-termo. E eu acho que toda mulher é assim.

ISTOÉ – Como o sr. vê José Serra como adversário de Dilma?
Lula – Para mim, essa é uma eleição engraçada. Três candidatos de oposição foram do meu partido: Marina Silva, do PV, José Maria, do PSTU e Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL. E o Serra é uma pessoa com quem eu tenho uma relação de respeito muito antiga. Quando vejo eles debatendo, não tenho nenhum inimigo. Tenho alguns adversários disputando com a minha candidata. E eu acho que o Serra deu azar. Deu azar de disputar comigo quando eu não podia perder. Digo do fundo da alma, eu nunca tive a menor preocupação de que não ganharia aquela eleição de 2002. Eu estava convencido de que era a minha vez, que tinha chegado a hora. Eu tinha participado da candidatura do (Franco) Montoro e sabia como era isto. Em 1982, não adiantava nada, aquela era a hora do Montoro ser governador. Podia falar o que quisesse. Que ele tinha 20, 80 aposentadorias. Era a hora dele. E foi. Em 2002, eu sabia que era a minha hora. Eu lembro que quando não ganhei no primeiro turno, cheguei no gabinete à noite e havia uns 100 delegados da América Latina, todo mundo lá triste. Estavam lá o Zé Dirceu e o Duda Mendonça na frente da telinha medindo voto, dizendo que ia dar por meio ponto. E eu disse: “Gente, deixa para lá. Tanto faz primeiro ou segundo turno.Vai apenas demorar um pouco mais. E vai ter uma diferença bem maior depois.” E foi uma coisa extraordinária porque o segundo turno permite que você tenha um embate direto. Eu hoje agradeço por todos os santos o segundo turno com o Alckmin, porque eu pude lavar a minha alma. Eu pude aumentar a minha votação em 12 milhões de votos. E ele perdeu três milhões de votos, uma coisa inédita.

ISTOÉ – E qual é exatamente o azar do Serra, presidente?
Lula – Ele foi candidato num ano em que eu não tinha como perder as eleições. E ele agora é candidato num ano em que a Dilma tem todas as condições de ganhar as eleições porque o governo está muito bem e porque as coisas vão melhorar.

ISTOÉ – O sr. acredita em decisão já no primeiro turno?
Lula – Eu acredito no processo eleitoral. Para mim, não importa que seja no primeiro ou no segundo turno. Nós temos é que ganhar as eleições. Temos que trabalhar para ganhar as eleições. E eu acho que é uma eleição que pode terminar no primeiro turno. Mas se for para o segundo turno não existe nenhum problema, nenhum trauma. Nós vamos fazer uma bela campanha.

ISTOÉ – Fala-se muito que há uma grande possibilidade de, em 2014, o presidente eleito agora ter o sr. pela frente. Como está desenhada essa possibilidade?
Lula – Vamos colocar a política no seu devido lugar. Quando você tem um político cretino, ele não quer que o seu aliado ganhe, mas, sim, o adversário para ele voltar quatro anos depois. No meu caso, eu lancei a Dilma candidata porque eu quero que ela ganhe. E porque eu quero que ela faça um governo melhor do que o meu. E que ela tenha direito a ser candidata à reeleição. É um direito legítimo dela. Não tem essa de que a Dilma vai ser candidata para o Lula voltar em 2014. Não existe essa hipótese. Se a Dilma for eleita ela vai fazer um governo extraordinário e vai ser candidata à reeleição. Se o candidato for um adversário, a história muda de figura. Mas, aí, eu preciso estar bem, porque eu já vou estar com 69 anos. E com 69 anos você parece novo, mas não é tão novo, não. Eu, às vezes, acho que na política deveria ser que nem na Igreja Católica, onde o bispo se aposenta com 75 anos.

ISTOÉ – A mais ousada ação do seu governo na política externa nos últimos tempos foi a intermediação da questão atômica com o Irã. O que faltou para o êxito da negociação?
Lula – É o tipo da coisa que somente o tempo vai se encarregar de mostrar o que aconteceu. Eu não tinha nenhuma relação de amizade com o (Mahmoud) Ahmadinejad. Conheci o Ahmadinejad numa reunião da ONU antes da minha ida a Pittsburgh para discutir o G-20. Tive uma conversa com ele. Discutimos duas horas e a primeira coisa que comecei a discutir era a respeito do Holocausto. Se era verdade ou não que ele não acreditava no Holocausto. E ele disse: “Não foi bem isso que eu quis dizer.” Se não foi bem isso que você quis dizer, então, diga. Porque em política todas as vezes que a gente começa a se explicar muito é porque a gente cometeu um erro. Ele disse: “É porque morreram 67 milhões de seres humanos na Segunda Guerra e parece que só morreram os judeus. Os judeus se fazem de vítimas.” Eu falei que se era isso que ele, Ahmadinejad, queria dizer então dissesse. Morreram 67 milhões de pessoas na Segunda Guerra, mas os judeus não morreram em guerra. Eles foram assassinados a sangue-frio, crianças, mulheres, em câmaras de gás, é diferente. Senti que tinha uma possibilidade de conversa. Ele pessoalmente é muito mais afável do que na televisão.

ISTOÉ – Como o sr. encaminhou a questão?
Lula – Eu cheguei na ONU, cheguei em Pittsburgh, tinham dado uma entrevista o Sarkozy (presidente da França, Nicolas Sarkozy), Gordon Brown (então primeiro-ministro britânico) e Barack Obama (presidente dos EUA) criticando Ahmadinejad. Fui no Obama e falei: “Companheiro, você já conversou com o Ahmadinejad alguma vez? Não. Você se dignou a pegar o telefone, ligar para ele e dizer: eu quero conversar com você? Não”. A mesma conversa eu tive com o Sarkozy, com o Gordon Brown e com a Angela Merkel (chanceler alemã). Ora, vocês nunca conversaram com o Ahmadinejad e estão dizendo que ele não quer sentar à mesa para negociar essa questão da paz. Então eu quero dizer para vocês o seguinte: eu acredito que ele quer sentar e eu estou convidando ele para ir ao Brasil, estou convidando o primeiro-ministro de Israel, estou convidando o Shimon Peres, estou convidando o presidente da Síria para ir ao Brasil. Separadamente, cada um na sua data. Ahmadinejad veio aqui. Nós conversamos mais de duas horas. Eu disse que, se fosse possível a gente avançar, eu mandaria o Celso Amorim ir muitas vezes lá. Como a Turquia também estava tentando, então o Celso Amorim e o ministro das Relações Exteriores da Turquia começaram a conversar com o primeiro-ministro do Irã, preparando a nossa ida lá. Em Copenhague, quase que eu consigo marcar um jantar entre Sarkozy e Ahmadinejad. Mas, como a rainha da Dinamarca não convidou o Ahmadinejad para o jantar, não deu. Chegou o dia de eu ir ao Irã e eu falei para o Celso que era preciso dizer para o Ahmadinejad que eu não poderia fazer uma viagem inútil.

“Não haverá solução no Oriente Médio enquanto os americanos
acharem que eles são os responsáveis pela construção da paz”

“Obama achou que eu e a Turquia estávamos sonhando
acreditando no Ahmadinejad, que ele iria enganar a
gente. Eu disse o seguinte: ‘Nasci político, meu filho’”

ISTOÉ – O sr. também havia recebido um pedido de Sarkozy para encaminhar ao Ahmadinejad.
Lula – Sarkozy tinha falado conosco da moça que estava presa, se poderia ter um gesto de liberar. Eu conversei com Ahmadinejad e ele se comprometeu a liberar, tanto é que eu cheguei à meia-noite lá e às cinco horas da manhã ele liberou. Duas semanas antes de eu viajar, recebo uma carta do Obama. E a carta do Obama tinha um viés. Primeiro tratando de uma forma carinhosa, se desculpando da grosseria dele quando nós fomos discutir o assunto nuclear lá. Ele achou que eu e a Turquia estávamos sonhando, acreditando no Ahmadinejad, que ele iria enganar a gente, não iria cumprir nada. Eu disse o seguinte: “Eu nasci político, meu filho. Toda a minha vida, desde 1969, foi negociar. Perdi muita coisa, ganhei muita coisa, mas negociar é a arte maior de fazer política. Então eu vou lá porque eu acredito.” Tanto é que quando eu cheguei na Rússia, na viagem para o Irã, Dmitri Medvedev (presidente russo) me disse: “Obama me ligou dizendo que ele acha que você vai ser enganado pelo Ahmadinejad.” Um jornalista perguntou: “Escuta aqui, de zero a seis, qual é o grau de otimismo que você tem para fazer a negociação?” O Medvedev falou 30%. Eu disse: Porra! Que otimismo pessimista! Eu falei 99,9%. Cheguei ao Qatar, o Obama tinha ligado para o emir dizendo que vão enganar o Lula. Cheguei ao Irã, conversamos, conversamos, conversamos. Fui conversar com o líder supremo, Khamenei. Duas horas de conversa. Depois fui conversar com o Ali Larijani (presidente do Parlamento) e com todos falei da importância, que eles não poderiam arriscar o bloqueio.

ISTOÉ – Por que, presidente?
Lula – Porque o bloqueio começa sem dor, mas daqui a pouco começa a faltar remédio, começa a faltar comida. E quem paga o preço são as crianças. Contei que Cuba viveu 50 anos, que a Líbia viveu 13 anos com bloqueio. Eu conversei tudo o que poderia conversar com eles. O Celso Amorim teve um papel extraordinário com os ministros. Chegou no outro dia às 9h da noite e nós fomos jantar. O Celso não estava no jantar e estava o ministro deles. Azedou, pensei. Esse aqui (o ministro Franklin Martins) estava muito pessimista. Na hora que eu saí do hotel, ele falou: “não vai dar nada”. E eu: “Calma, rapaz, tem que ter fé. A fé que move montanhas.” Eu cheguei lá, estava o ministro deles, mas não estava o Celso. Pensei que tinha azedado mesmo. Então disse para o Ahmadinejad: amanhã eu vou embora, sabe que para eu vir aqui eu larguei a minha mulher e os meus filhos, tenho tarefa pra caramba no Brasil. Vim aqui porque eu quero para você o que eu quero para mim. Eu quero que o Irã desenvolva o enriquecimento de urânio para fins pacíficos, para produzir coisas para a indústria farmacêutica, para produzir coisas para a energia nuclear e no meu país isso está na Constituição. E eu não quero que, por equívoco, o mundo rico, que tem bomba nuclear, te impeça de fazer isso. Então, na verdade eu vim aqui para dar as minhas costas para repartir as chibatadas que você está tomando e não gostaria de ir embora sem assinar esse acordo. Se eu for embora sem assinar esse acordo, eu vou ter que começar a fazer discurso dizendo que você não quer negociar mesmo.

ISTOÉ – Depois disso ele resolveu assinar?
Lula – Ele disse: Vamos conversar amanhã de manhã? O ministro dele estava comigo e ia encontrar o Celso ainda. O ministro dele disse assim para mim: “Presidente, falta só um ponto, eu vou encontrar com o Celso agora.” Quando foi meia-noite, eu cheguei ao hotel e o Celso me liga: “Presidente, fechamos.” Nós fomos para acertar o acordo. Tinha físico para dar palpite, como vocês nem imaginam. Os caras não queriam assumir compromisso com data. Eu disse que sem data nós não concordávamos. Eu falei: “Ahmadinejad, vocês sabem o que falam de você. Lá fora na Europa, nos Estados Unidos, falam que você não cumpre palavra, você sabe disso. Por isso é importante colocar a data dizendo que tal dia você vai mandar tal coisa”. Ele topou. Qual foi a minha surpresa, companheiros? É que o pessoal que estava há não sei quantos anos tentando conversar com o Ahmadinejad e nunca conversou, porque nunca tentou, ficou com ciúmes. Por isso a reação. Na minha opinião, essa é a única explicação para a ciumeira do Conselho de Segurança da ONU. Nós ainda mandamos para o grupo de Viena, com Rússia, Estados Unidos e França, a carta no domingo, e ainda assim eles tentaram barrar. Eu acho que a história vai mostrar o equívoco dos companheiros que resolveram trocar as conversas pelas sanções, porque demonstraram apenas ciúmes. Em minha opinião, uma atitude pequena. O problema é o seguinte: se a ONU continuar fraca do jeito que está, vai prevalecer o unilateralismo, a posição unilateral dos americanos vai continuar prevalecendo. Quando nós propusemos fortalecer a ONU, não queríamos só a entrada do Brasil. Mas a entrada do Brasil, da Índia, da Alemanha, de dois ou três países africanos.

ISTOÉ – Mas uma luta histórica do Brasil é pelo assento definitivo no Conselho de Segurança da ONU.
Lula – É para que tenha mais representatividade. Imagine o continente africano com 53 países que não tem ninguém. E quantos têm os europeus? E agora tem mais a Alemanha, convidada especial. O Conselho de Segurança da ONU não pode ser um clube de amigos, não pode ser tratado assim. Aquilo tem que ser uma instituição multilateral para resolver problema de conflitos. Em minha opinião, no Oriente Médio não haverá solução enquanto os americanos acharem que são eles os responsáveis pela construção da paz. Se a ONU fosse forte, resolveria o problema do Oriente Médio. Iria lá, demarcaria a terra dos palestinos, demarcaria a terra de Israel e faria cumprir, como fez em 1948, quando criou o Estado de Israel. Como ela é fraca, fica só lá, um dia vai um e ganha o Prêmio Nobel, outro dia vai outro e ganha o Prêmio Nobel, não faz nada, outro dia vai outro e outro prêmio. Então, eu acho que é uma estupidez política não reformar o Conselho de Segurança da ONU.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Investigado por assédio sexual, presidente da HP pede demissão

Se tal fato ocorresse com uma empresa nacional teríamos o mesmo desfecho? O número de casos de assédio cresce a cada dia e as empresas se desdobram para evitar o vazamento. Podemos dizer que já existe até a indústria do assédio sexual, tem neguinha que levou uma bolada de chefe babão.

Do Valor Econômico

Em nota, a empresa disse que houve violação ao código de conduta.
Hurd afirmou que esta é "uma situação muito dolorosa".

O presidente da Hewlett-Packard, Mark Hurd, pediu demissão do cargo por causa de uma investigação por praticar assédio sexual contra uma ex-prestadora de serviço da companhia.

Em nota publicada nesta sexta-feira (6) no site da empresa, a HP afirmou que a investigação concluiu que a política da empresa sobre assédio sexual não foi violada, mas houve quebra das normas do código de conduta.

Hurd disse no comunicado nota que, durante a investigação, ele percebeu que houve situações nas quais ele não seguiu "as normas e princípios da verdade, respeito e integridade", e acabou "expondo a HP". O executivo acrescentou que "esta é uma situação muito dolorosa", mas que seria difícil continuar como líder da companhia.

Um novo CEO e presidente será selecionado, mas, interinamente, quem assume o cargo é a diretora financeira Cathie Lesjak, de 51 anos. A executiva acumula 24 anos de experiência na HP.

‘Operador’ some com dinheiro doado ao PSDB


06/08/201000:00

O comando do PSDB enfrenta um escândalo interno: após “passar o chapéu” junto a empresários paulistas, solicitando doações em dinheiro para a campanha tucana, um “operador” devidamente credenciado sumiu sem deixar rastro. E, com ele, cerca de R$ 4 milhões. Como o dinheiro foi doado “por fora”, a tucanada nem pode chamar a polícia. Um senador confirmou a história, mas pediu para não ser citado.


Publicado no blog do Cláudio Humberto

Candidatos à presidência debatem proposta, mas ninguém vê


O Debate dos presidenciáveis na Band alcançou míseros 3 pontos de adiência. Parece que foi difícil escolher dentre as opções da TV. Entre o Debate e o futebol os brasileiros escolheram a Luciana Gimenez... pois é, realmente, temos o povo que merecemos.

Quem viu não perdeu muito, não se falou nada que já não tivesse sido publicado nos jornais, as regras amarraram os candidatos que em sua maioria saíram-se bem. Quem deu show mesmo foi o Plínio. Ele nadou de braçada mostrou bom humor, perspicácia e inteligência. Ele se revelou, provocou, instigou, aproximou-se dos limites do non sense.


Confronto morno entre presidenciáveis marca 1o debate na TV



Natuza Nery e Carmen Munari

SÃO PAULO (Reuters) - Não foi um fla-flu, como muitos esperavam. O debate inaugural entre os presidenciáveis não teve ataques pessoais entre candidatos.

Houve muita cautela até para discordar do adversário. Confronto mais direto ficou nos temas de economia e saúde, quando os dois principais candidatos deixaram claro quem é governo e que é oposição.

No debate promovido pela Rede Bandeirantes na quinta-feira, a petista Dilma Rousseff, dona da candidatura governista e em primeiro lugar nas recentes pesquisas, foi o alvo preferencial do adversário tucano, José Serra, em segundo na preferência do eleitor.

Todas as suas perguntas se dirigiram a ela. Ele criticou os juros altos, a carga tributária e o aparelhamento do Estado. Também garantiu que vai "estatizar" as empresas que já são do governo no sentido de retirar as nomeações políticas que ele acusa o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de praticar. Citou diretamente os Correios.

Dilma criticou qualquer iniciativa de baixar os juros de forma "artificial" e revelou ser contra "spreads bancários elevados", utilizando termo pouco compreensível a uma audiência popular.

"Nós não somos aqueles que falamos que vamos rever contratos", alfinetou a petista, ao mencionar tendência já manifestada por Serra para alguns casos.

A associação da ex-chefe da Casa Civil com o governo foi citada pelos adversários e pela própria petista. No entanto, Dilma citou diretamente o presidente Luiz Inácio Lula da Silva apenas três vezes, a primeira delas às 23h20, uma hora e 20 minutos após o início do confronto, quando citava o programa Luz para Todos.

Enquanto Dilma buscou se relacionar ao que existe de positivo no Executivo petista, Serra a intitulou como a "ministra forte" do governo ao enumerar o que considera os pontos fracos da gestão do presidente Lula, pontuando a área de infraestrutura.

Dilma estreou o primeiro debate de sua vida política tentando vincular o opositor com o governo Fernando Henrique Cardoso, de quem foi ministro, ao comparar números do emprego.

Serra disse não fazer "política com retrovisor", que preferia falar de futuro.

"Acho muito confortável que a gente esqueça o passado. Não é prudente", revidou a ex-ministra, puxando o debate para esse terreno.

Ele evitou a armadilha do "plebiscito" com uma gestão popular, e criticou o apagão em áreas da infraestrutura para criticar a falta de investimento do governo federal em portos, rodovias e aeroportos. Fez isso citando exemplos pontuais de dificuldades em municípios e Estados do país, de modo a se aproximar do eleitor desses locais.

"Hoje andar em estradas federais é um perigo público", enfatizou ele.

A candidata do PV, Marina Silva, adotou um comportamento de neutralidade no confronto da TV. Muitos previam que ela se aliasse a Serra contra Dilma, o que não ocorreu. Ora a candidata do PV inquiria o tucano; ora a ex-colega de partido.

Plinio de Arruda Sampaio, do PSOL, o francoatirador da noite, se autodeclara o candidato contra a desigualdade social. Em dado momento, ele reclamou da polarização do debate entre Dilma e Serra.

"Se vocês dois fizerem o blocão, eu vou fazer bloquinho com a Marina. Eu quero ser perguntado, uai", disse Plinio.

Não poupou nem Marina. Chamou-a de "ecocapitalista." "Ouvindo você falar aqui, dá impressão que você é do PT."

"Aqui eu vejo um bom mocismo, tudo pode ser conciliado"

SAÚDE

Serra insistiu em questionar Dilma sobre a realização pelo governo dos mutirões de cirurgias que implantou quando foi ministro da área.

Ele criticou o fato de o atual governo ter parado com o programa de mutirões preventivos e de cirurgias, entre elas as de catarata e as de próstata.

"O governo (Lula) parou com os mutirões. Isso é uma crueldade", afirmou o tucano.

Dilma respondeu não ser contra esses mutirões, mas afirmou que eles não podiam ser características de um programa mais amplo sobre a saúde. "Considero que temos diferenças de encarar sobre o que precisa ser feito na saúde", afirmou.

O tucano cercou mais Dilma. Questionou a petista sobre programas para portadores de deficiência e a deixou na defensiva.

"O Ministério da Educação quis proibir a Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais) de ensinar. Mais ainda, cortou a ajuda em transporte para que as crianças possam ir à escola."

"Foi o seu governo...Não sei como você, como ministra muito forte, deixou que isso acontecesse."

A pesquisa CNT/Sensus divulgada na quinta-feira mostrou Dilma com 41,6 por cento das intenções de voto, enquanto Serra apareceu com 31,6 por cento. Marina teve 8,5 por cento.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Censura: Opinião sensata de quem conhece do assunto

Direito de resposta não é censura
Por Ricardo Kotscho em 5/8/2010
Antes de ir para o aeroporto pegar um vôo da Gol, sobrou um tempinho para dar uma rápida atualizada no Balaio e escrever sobre um tema que está nas colunas e nos blogs políticos de terça-feira (3/8). Trata-se da decisão do Tribunal Superior Eleitoral de dar à campanha da candidata Dilma Rousseff direito de resposta na revista Veja, que encampou as acusações do deputado Índio da Costa, vice de José Serra, sobre as ligações do PT com as Farc e o narcotráfrico.

Sob o título "Compulsão pela censura" [ver abaixo], o colega Fernando Rodrigues, por quem tenho o maior respeito, critica a decisão do TSE em sua coluna na página A2 da Folha de S.Paulo. Permito-me discordar dele e de outros colunistas e blogueiros que consideram o direito de resposta um ato de censura.

Não penso assim. Da mesma forma que defendo a liberdade de imprensa e de expressão, entendo que o direito de resposta é o outro lado da medalha. Se nós, jornalistas, podemos hoje livremente tratar de qualquer assunto, um direito assegurado pela Constituição, também o cidadão, o partido, a entidade ou a empresa que se considerar prejudicado ou ofendido com a matéria deveria ter assegurado o direito de se defender, contestar as informações e manifestar a sua opinião.

Censura é quando algum poder do Estado proíbe previamente um veículo de publicar uma notícia, como acontece faz mais de um ano com o Estado de S.Paulo, impedido pelo Judiciário de escrever a respeito de acusações feitas ao empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado. Isto é um absurdo, uma arbitrariedade, algo que faz lembrar os tempos da ditadura militar.

Direito sagrado

Outra coisa bem diferente é qualquer pessoa reivindicar o direito de resposta, após a publicação de determinada matéria, uma instituição democrática que nem todos os veículos respeitam. "Manda uma carta", já ouvi de muitos editores, mas nem todos a publicam dentro de um prazo razoável capaz de evitar danos.

Fernando Rodrigues lembra, com razão, que as eleições no Brasil ainda têm como base o Código Eleitoral produzido em 1965 pela ditadura militar e daí conclui que "há um fio condutor nas regras em vigor: a compulsão pela censura, pela limitação da livre expressão".

Muito se tem falado e escrito ultimamente sobre os perigos que rondam as nossas liberdades, em especial com a volta da velha discussão sobre o "controle social da mídia", um jargão que não quer dizer nada e é inexequível num regime democrático. Na prática, porém, nada sustenta estes temores, com a honrosa exceção do caso do Estadão.

Na sua coluna, Rodrigues conclui que "com uma lei dessas, não é à toa que o TSE julgue necessário dar direito de resposta a políticos que se sentem injuriados quando citados numa reportagem da revista".

Por que não seria necessário? Não só políticos, mas qualquer eleitor que se sentir injuriado com o que se publica a seu respeito deveria ter este direito, para mim tão sagrado quanto a liberdade que a imprensa conquistou. Nós não somos donos da verdade. Deveríamos todos ser iguais perante a lei, com iguais direitos. Como se dizia antigamente, quem fala o que quer precisa aprender a ouvir o que não quer.

***

Compulsão pela censura

Fernando Rodrigues # reproduzido da Folha de S.Paulo, 4/8/2010

O Tribunal Superior Eleitoral decidiu nesta semana que a candidata a presidente Dilma Rousseff (PT) terá direito de resposta na revista "Veja". A publicação fez uma reportagem com declarações do deputado Indio da Costa (DEM-RJ), candidato a vice na chapa à Presidência encabeçada por José Serra (PSDB).

O texto de "Veja" é duro. O título: "Indio acertou no alvo". Pode-se gostar ou discordar do estilo, mas há ali referências a fatos acontecidos. No caso, as relações mantidas no passado por integrantes do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia -estas, por sua vez, notórias por ligações com narcotraficantes.

O PT reclamou. Enxergou na reportagem um suposto dano à imagem de Dilma. O TSE concordou.

Seria cômodo agora falar sobre liberdade de expressão e malhar os ministros do TSE. Mas o cenário é mais complexo. As eleições no Brasil ainda têm como base o Código Eleitoral, produzido em 1965 pela ditadura militar.

Há um fio condutor nas regras em vigor: a compulsão pela censura, pela limitação da livre expressão. O Brasil é um caso raro em que candidatos podem se declarar como tal apenas a partir de julho do ano eleitoral. Também não se conhece país no qual camisetas sejam proibidas em campanha (lei 9.504). Em democracias normais, ao político com poucos recursos só resta a opção de divulgar seu nome pintando algumas camisetas no fundo de seu quintal. Aqui, seria cassado.

Lá pelas tantas, o Código Eleitoral determina que a propaganda dos candidatos não poderá "empregar meios publicitários destinados a criar, artificialmente, na opinião pública, estados mentais, emocionais ou passionais".

Com uma lei dessas, não é à toa que o TSE julgue necessário dar direito de resposta a políticos que se sentem injuriados quando citados numa reportagem de revista.

É preciso cidar da causa. Não do efeito!


Vida em looping


A vida da menina L., que ganhou notoriedade ao ficar presa numa cela com homens , ficou marcada por fugas, pequenos furtos e episódios de prostituição para bancar o vício em crack

Os dreadlocks no cabelo são só uma nova etapa na vida de L., 18. Foi assim que a garota, que ganhou notoriedade ao ficar presa 26 dias numa cela com 26 homens no Pará, deixou a comunidade terapêutica em que cumpriu 18 meses de medida socioeducativa, a 35 km de Brasília.
A maioridade é mais um início numa trajetória vivida em looping constante, plena de manobras e acrobacias -quase sempre na vertical.
A última vez que ela havia deixado os muros e as cercas eletrificadas para trás foi numa fuga no final de 2009. Uma entre tantas escapadas da garota que, há três anos, está no Programa de Proteção a Crianças e Adolescentes Ameaçados de Morte (PPCAAM), da Secretaria de Direitos Humanos, da Presidência da República.
Apesar do sigilo que cerca o programa por questões de segurança, a Folha comprovou que ao longo dos últimos dois anos e meio, a trajetória de L. ficou marcada por fugas, pequenos furtos e episódios de prostituição para bancar o vício em crack.
Sempre que escapava, L. vagava pelas cidades-satélites em busca da droga. Assim foi parar numa maloca na cracolândia da Ceilândia.
Na tarde de terça, a "tia" que controla a área, conhecida como Castelinho, baixou a guarda ao ouvir o nome de L. Ela não sabe precisar a data, mas se recorda de que o primeiro contato com a menina "mirradinha e bonitinha" foi no final de 2008.
"Aquela ratazana era maior que as outras", conta ela sobre sua reação diante da garota que se escondia em um dos becos pichados. O espaço de uns cinco metros quadrados, com paredes arrebentadas e lixo espalhado, fica em uma das extremidades da obra abandonada.
Não demorou muito para "noias" e traficantes descobrirem que a desconhecida era a "garota do Pará, aquela que apareceu na televisão". Era assim que L., contrariando todas as regras do esquema de proteção, apresentava-se à galera do crack.
"É por isso que levaram ela para a clínica. Querem ela bem caladinha", diz a "tia".
Refere-se à Mansão Vida, clínica de reabilitação de luxo em Santo Antônio do Descoberto, a 35 km de Brasília.
A diária varia de R$ 150 a R$ 300. L. fugiu pelo menos três vezes da clínica com piscina, sauna, salão de jogos e cinco refeições por dia.
Tomava oito remédios por dia. Mais simples, a comunidade terapêutica, a 10 km da clínica, é confortável, mas sem luxos. Ali, dividia o alojamento com outras 11 dependentes químicas. Não estava só em tratamento, mas cumprindo pena por furto.
Em fevereiro de 2009, a sequência de fugas de L. foi interrompida, quando, então com 17 anos, foi presa na cidade-satélite do Guará. Com uma faca, tentou furtar uma jovem, mas acabou presa.
Por determinação da Justiça, L. foi mandada para o Caje (Centro de Atendimento Juvenil Especializado), a unidade de internação para menores infratores do DF.
De lá, foi levada para a comunidade terapêutica.
Ao completar a maioridade em 10 de dezembro de 2009, o destino de L. voltou a ser debatido pelas autoridades. Deve trocar o PPCAAM, pelo similar para adultos, o Provita. Um novo recomeço.
Quando chegou ao Distrito Federal, ela já era uma dor de cabeça para as autoridades. Ela foi recusada por vários Estados. A fama de que ela havia "tocado o terror" no Rio se espalhou, segundo um profissional que acompanhou a vinda dela para o DF.
A primeira estratégia foi a mãe. Não funcionou.
Na saga para definir quem iria ficar com ela, técnicos do governo descobriram que o homem que a registrara como filha não era o pai biológico. Feito um exame de DNA, o pai verdadeiro foi aceito no programa, e L. passou a viver com ele e a madrasta em uma chácara.
A menina novamente não se adaptou à vida familiar. Cresceu sem pai nem mãe e não gostava do mato. "Gastaram muito tempo e dinheiro com ela, mas L. não sabe o que fará da vida. Nesses três anos, o que foi construído?", indaga uma amiga dela.

ELIANE TRINDADE
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA